Uma distinta e inteligente
conterrânea disse, em mensagem, que “O que o Papa diz é que os pais não
podem excluir um filho gay. E que eles devem ser amparados civilmente. Isso não
significa que a Igreja e o Papa aprovem a união. Amar o pecador e desprezar o
pecado. Isso em qualquer pecado.”.
Em resposta à aludida
mensagem, eu digo que desde que eu venho escrevendo sobre a declaração do papa,
acerca da questão envolvendo o homossexual, tem sido com base no pronunciamento
dele, vazado no seguinte texto, ipsis
litteris: "As pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma
família, são filhos de Deus, possuem direito a uma família. Não se pode
expulsar ninguém de uma família, nem tornar sua vida impossível por isso. O que
temos que fazer é uma lei de convivência civil, eles têm direito a estarem
legalmente protegidos. Eu defendi isso".
Eu e muita gente
entendemos, com clareza, que o sumo pontífice está se referindo, de forma
cristalina, em união homossexual, de pessoas do mesmo sexo, o “casal” de homem
com homem ou mulher com mulher, por afirmar literalmente sobre a necessidade, ou
seja, a aprovação de "lei de
convivência civil", precisamente para oficializar a convivência como duas
pessoas normais, em reconhecimento da união como se casal fosse.
É preciso se atentar
que a relação normal de filho homossexual com a família, no caso de pais e filhos,
ou seja, irmãos, não precisa de lei de convivência civil, porque já basta tão
somente a lei natural da compreensão, da amizade ou do amor próprio da família,
como fazem normalmente as famílias que aceitam seu filho amado,
independentemente da maneira como ele prefere viver, se relacionar no seio da
sociedade, porque o amor filial sempre fala mais ato e está acima de tudo e
ninguém vai expulsar de casa o filho ou a filha amado (a) da sua convivência.
Contrário senso,
pensando bem, não faria o menor sentido o papa sugerir a criação de lei de
convivência para a aceitação pacífica entre pai e filho/a, porque não seria a
existência de norma legal que iria promover o entendimento familiar ou a conciliação,
por depender apenas de superação de momento. É preciso que as pessoas compreendam
que o exato entendimento sobre a declaração papal é no sentido de que precisa reconhecer
e oficializar, na esfera civil, a convivência de aceitação entre pessoas do
mesmo sexo.
O paradoxo reside
exatamente no sentido de que, ao defender a união entre pessoas homossexuais, o
papa simplesmente fê-la somente em relação à esfera civil, tendo ignorando e
fechado os olhos, ou seja, feito vista grossa, para a doutrina existente na
Igreja Católica, no sentido de que “o respeito pelas pessoas homossexuais não
pode levar de forma alguma à aprovação do comportamento homossexual ou ao
reconhecimento legal das uniões homossexuais".
Em análise, mais fria possível,
sobre esse relevante tema explorado pelo papa, voluntária e pessoalmente, pode-se
se intuir, à luz do bom senso e da racionalidade, que, na qualidade de dirigente
máximo da santa madre Igreja Católica, antes de opinar, da maneira explícita
como o fez, o cardeal dos cardeais deveria cuidar de pacificar seu entendimento
sobre a união homossexual no seio da igreja, para ter autoridade eclesial para sugerir
medida na esfera civil, porque isso pode demonstrar nenhum interesse na bênção da
igreja aos homossexuais que o desejem fazer parte das atividades religiosas por
ela oficiadas.
Estranha-se quanto o
mais o fato de o papa dizer que os homossexuais “são filhos de Deus, possuem
direito a uma família.”, mas, ao mesmo tempo, ele se abstém de providenciar
eles sejam igualmente reconhecidos como tais pela própria igreja.
Não há a menor dúvida
de que a atitude do papa evidencia forma parcial de amor ao próximo,
independentemente da orientação sexual, porque isso realmente não pode servir
de pretexto para nenhuma forma de discriminação, nem mesmo dentro da Igreja
Católica, porque, se fosse assim, haveria necessidade da aplicação da antiga
lei do “Olho por olho, dente por dente”, em que a instituição não poderia aceitar
o tanto de sacerdotes homossexuais, porque eles seriam vistos como eternos
pecadores, à vista da doutrina que renega a existência de quem se diz aderir a
essa orientação.
Ante o exposto, para que
o amor do papa à causa homossexual se materialize como verdadeiro, é preciso
que a doutrina da Igreja Católica seja flexionada para acolher também as
pessoas que seguem aquela orientação sexual, diante dos sagrados princípios de
que as pessoas merecem respeito e todas as formas de amor valem a pena e
precisam ser valorizadas, principalmente porque não há qualquer pretexto para
justificar absurdas discriminações contra o ser humano.
Brasília, em 3 de novembro
de 2020
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