domingo, 8 de novembro de 2020

A força da democracia?

 

No discurso da vitória, o presidente norte-americano eleito disse, entre outras palavras de cunho democrático, na tentativa de unificação nacional, que “Serei um presidente para todos os americanos – quer vocês tenham votado em mim ou não. Eu garanto que serei um presidente que não quer dividir, mas unificar. A América nos convocou para comandarmos as forças da decência, da justiça, da ciência e da esperança.”.

É possível se avaliar que a vitória do candidato democrata norte-americano pode significar a recolocação dos Estados Unidos da América ao seu verdadeiro status de líder da democracia mundial, dando basta ao período do governo republicano de incerteza, provocação, tensão e obscurantismo.

Pouco importa que a vitória tenha sido alcançada ao meio de processo eleitoral traumático, vantagem apertada de votos, em alguns estados, mas em outros nem tanto, e guerra judicial lançada pelo candidato republicano, que demonstra visível inconformismo com o inesperado resultado das urnas, com evidente na tentativa de interromper a regular contagem dos votos enviados pelo correio, que obedeceram aos procedimentos absolutamente regulares e democráticos, posto que eles seguiram as normas usadas nas eleições anteriores e foram usados com maior intensidade nestas eleições, justamente em razão da pandemia do novo coronavírus, como forma cautelar de se evitar o contágio com o Covid-19.

No entanto, em visível gesto antidemocrático, por contrariar frontalmente a vontade dos eleitores, o candidato republicano chegou ao ridículo de se declarar vitorioso, de forma prematura, por que sem qualquer suporte jurídico fático, tendo se negado, como tem sido normal em casos que tais, a reconhecer a derrota, como fazem os verdadeiros estadistas.

É preciso se reconhecer que o resultado das urnas mostrou enorme imperfeição do sistema eleitoral norte-americano, tendo por base a arcaica eleição indireta de delegados, por estado, para a formação de Colégio Eleitoral destinado à confirmação do candidato eleito à Casa Branca, o que, na prática, dá pesos diferentes aos votos dos cidadãos, dependendo da população do estado.

Trata-se de modelo tradicional que foi criado, pasmem, no século XVIII, para se evitar a sub-representação de estados, que não condiz, a bem de se vê, com a modernidade e os avanços da humanidade, mas esse sistema descentralizado permite, como visto, reveses por meio de desorganização e desuniformidade de regras que podem propiciar manobras, contestações e questionamentos, como vem acontecendo por parte do candidato republicano, que, inconformado com a vontade popular, promete complicar o processo das apurações, com a sua judicialização, com vistas à reversão dos votos desfavoráveis a ele, fato este que pode implicar no indesejável adiamento do resultado oficial, que certamente não será diferente ao atual, já conhecido.

Nesse processo eleitoral, o derrotado presidente republicano decidiu não somente ignorar o resultado das urnas, mas também tentar deslegitimar as eleições, sem que haja qualquer fato jurídico capaz de respaldar as suas injustificáveis atitudes de puro inconformismo com a realidade nua e crua vinda da vontade popular.

A vitória do democrata manda de volta para a casa dele o republicano que tentava encarnar o discurso triunfalista, mas ele não passava da defesa de atitudes divisionistas e contrárias aos avanços da humanidade e da modernidade, centradas na arraigada filosofia dos interesses únicos dos Estados Unidos, com desprezo à globalização, em negação à tentativa do desenvolvimento uniforme do planeta.

Os infundados inconformismos do republicano tem como pano de fundo a inevitável constatação da conclusão de gestão visivelmente destrutiva para os valores democráticos próprios dos Estados Unidos, quando ele foi pródigo em surfar na polarização, na mentira e no fake news, tendo atacado a imprensa, ressuscitado o protecionismo comercial, insuflado a xenofobia e promovido o racismo, além de ter sido negacionista do aquecimento global, a ponto de tirar o país do Acordo de Paris, e, por pior, da ciência, quando instilou a desconfiança dela, por ocasião da mais grave pandemia do novo coronavírus, de quem foi autêntico crítico, embora ele também tivesse sido acometido pelo Covid-19.

A administração do republicano foi realmente marcante, por sua grande sinceridade contra a globalização e as organizações multilaterais, como a ONU, a Organização Mundial da Saúde e a Organização Mundial do Comércio, além de ter promovido o  rompimento com importantes aliados históricos dos Estados Unidos, em todo o mundo.

Não obstante, o candidato democrata vitorioso terá a incumbência de contornar e sarar os graves danos causados pelo atual governo norte-americano, como forma de reconquistar a confiança e a segurança dos importantes princípios democráticos, além de se incumbir de promover a reunificação do país, que foi tomado pela maléfica polarização, que persistirá como perniciosa divisão do seu povo, à vista do mesmo mal que grassa no país tupiniquim, cuja chaga precisa ser extirpada o mais rapidamente possível, tendo em conta que a unificação nacional, por objetivo únicos, é a certeza de que a nação poderá encontrar os rumos certos na direção do progresso e do desenvolvimento político, administrativo, democrático e socioeconômico.

A vitória do democrata já conseguiu transformar os ânimos dos mercados financeiros, à vista da sua promessa favorável ao fomento de medidas econômicas, envolvendo recursos trilionários, com capacidade para revitalizar e reanimar as economias americana, em especial, e mundial, proporcionando enorme estímulo aos investimentos no planeta.

Não somente a possibilidade do incremento da economia mundial, mas a vitória do democrata reacende o alívio para os líderes de várias nações, quando ele promete o restabelecimento de programas de cooperação internacional e a retomada de consensos como a preservação do meio ambiente, entre outras medidas que visem acabar com as restrições estabelecidas pelo republicano.

O mundo espera que o triunfo do democrata, com os Estados Unidos voltando a exercer seu papel de liderança do planeta, seja possível se reavaliar e se descartar a conturbada era do governo republicano, com a maior brevidade possível, de modo a se vislumbrar o futuro com melhores perspectivas, ante a volta das políticas menos restritivas e protecionistas impostas no país de tio Sam.

À primeira vista, vislumbra-se que a vitória do democrata pode sim significar a volta à realidade, ao otimismo e ao progresso civilizatório, em que pese a existência do mal-estar, que ainda exige muita cautela da população.

A verdade é que o presidente eleito, de quem se espera dele a promoção de grandes transformações nas políticas de seu país, terá longo caminho para conseguir curar a enorme fenda aberta pelo republicano na sociedade americana, mas há fundadas esperanças de que o mundo poderá respirar mais aliviado, a contar do dia 20 de janeiro de 2021, quando certamente nova mentalidade político-administrativa comandará os destinos da maior potência mundial.

Brasília, em 8 de novembro de 2020  

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