No
discurso da vitória, o presidente norte-americano eleito disse, entre outras
palavras de cunho democrático, na tentativa de unificação nacional, que “Serei
um presidente para todos os americanos – quer vocês tenham votado em mim ou
não. Eu garanto que serei um presidente que não quer dividir, mas unificar. A
América nos convocou para comandarmos as forças da decência, da justiça, da
ciência e da esperança.”.
É
possível se avaliar que a vitória do candidato democrata norte-americano pode
significar a recolocação dos Estados Unidos da América ao seu verdadeiro status
de líder da democracia mundial, dando basta ao período do governo republicano de
incerteza, provocação, tensão e obscurantismo.
Pouco
importa que a vitória tenha sido alcançada ao meio de processo eleitoral traumático,
vantagem apertada de votos, em alguns estados, mas em outros nem tanto, e guerra
judicial lançada pelo candidato republicano, que demonstra visível inconformismo
com o inesperado resultado das urnas, com evidente na tentativa de interromper
a regular contagem dos votos enviados pelo correio, que obedeceram aos procedimentos
absolutamente regulares e democráticos, posto que eles seguiram as normas
usadas nas eleições anteriores e foram usados com maior intensidade nestas eleições,
justamente em razão da pandemia do novo coronavírus, como forma cautelar de se
evitar o contágio com o Covid-19.
No
entanto, em visível gesto antidemocrático, por contrariar frontalmente a vontade
dos eleitores, o candidato republicano chegou ao ridículo de se declarar vitorioso,
de forma prematura, por que sem qualquer suporte jurídico fático, tendo se negado,
como tem sido normal em casos que tais, a reconhecer a derrota, como fazem os
verdadeiros estadistas.
É
preciso se reconhecer que o resultado das urnas mostrou enorme imperfeição do
sistema eleitoral norte-americano, tendo por base a arcaica eleição indireta de
delegados, por estado, para a formação de Colégio Eleitoral destinado à
confirmação do candidato eleito à Casa Branca, o que, na prática, dá pesos
diferentes aos votos dos cidadãos, dependendo da população do estado.
Trata-se
de modelo tradicional que foi criado, pasmem, no século XVIII, para se evitar a
sub-representação de estados, que não condiz, a bem de se vê, com a modernidade
e os avanços da humanidade, mas esse sistema descentralizado permite, como
visto, reveses por meio de desorganização e desuniformidade de regras que podem
propiciar manobras, contestações e questionamentos, como vem acontecendo por
parte do candidato republicano, que, inconformado com a vontade popular,
promete complicar o processo das apurações, com a sua judicialização, com
vistas à reversão dos votos desfavoráveis a ele, fato este que pode implicar no
indesejável adiamento do resultado oficial, que certamente não será diferente
ao atual, já conhecido.
Nesse
processo eleitoral, o derrotado presidente republicano decidiu não somente ignorar
o resultado das urnas, mas também tentar deslegitimar as eleições, sem que haja
qualquer fato jurídico capaz de respaldar as suas injustificáveis atitudes de
puro inconformismo com a realidade nua e crua vinda da vontade popular.
A
vitória do democrata manda de volta para a casa dele o republicano que tentava encarnar
o discurso triunfalista, mas ele não passava da defesa de atitudes divisionistas
e contrárias aos avanços da humanidade e da modernidade, centradas na arraigada
filosofia dos interesses únicos dos Estados Unidos, com desprezo à globalização,
em negação à tentativa do desenvolvimento uniforme do planeta.
Os
infundados inconformismos do republicano tem como pano de fundo a inevitável constatação
da conclusão de gestão visivelmente destrutiva para os valores democráticos próprios
dos Estados Unidos, quando ele foi pródigo em surfar na polarização, na mentira
e no fake news, tendo atacado a imprensa, ressuscitado o protecionismo
comercial, insuflado a xenofobia e promovido o racismo, além de ter sido negacionista
do aquecimento global, a ponto de tirar o país do Acordo de Paris, e, por pior,
da ciência, quando instilou a desconfiança dela, por ocasião da mais grave pandemia
do novo coronavírus, de quem foi autêntico crítico, embora ele também tivesse
sido acometido pelo Covid-19.
A
administração do republicano foi realmente marcante, por sua grande sinceridade
contra a globalização e as organizações multilaterais, como a ONU, a
Organização Mundial da Saúde e a Organização Mundial do Comércio, além de ter
promovido o rompimento com importantes aliados
históricos dos Estados Unidos, em todo o mundo.
Não
obstante, o candidato democrata vitorioso terá a incumbência de contornar e sarar
os graves danos causados pelo atual governo norte-americano, como forma de reconquistar
a confiança e a segurança dos importantes princípios democráticos, além de se
incumbir de promover a reunificação do país, que foi tomado pela maléfica polarização,
que persistirá como perniciosa divisão do seu povo, à vista do mesmo mal que
grassa no país tupiniquim, cuja chaga precisa ser extirpada o mais rapidamente
possível, tendo em conta que a unificação nacional, por objetivo únicos, é a
certeza de que a nação poderá encontrar os rumos certos na direção do progresso
e do desenvolvimento político, administrativo, democrático e socioeconômico.
A
vitória do democrata já conseguiu transformar os ânimos dos mercados
financeiros, à vista da sua promessa favorável ao fomento de medidas econômicas,
envolvendo recursos trilionários, com capacidade para revitalizar e reanimar as
economias americana, em especial, e mundial, proporcionando enorme estímulo aos
investimentos no planeta.
Não
somente a possibilidade do incremento da economia mundial, mas a vitória do
democrata reacende o alívio para os líderes de várias nações, quando ele promete
o restabelecimento de programas de cooperação internacional e a retomada de
consensos como a preservação do meio ambiente, entre outras medidas que visem
acabar com as restrições estabelecidas pelo republicano.
O
mundo espera que o triunfo do democrata, com os Estados Unidos voltando a
exercer seu papel de liderança do planeta, seja possível se reavaliar e se
descartar a conturbada era do governo republicano, com a maior brevidade possível,
de modo a se vislumbrar o futuro com melhores perspectivas, ante a volta das
políticas menos restritivas e protecionistas impostas no país de tio Sam.
À
primeira vista, vislumbra-se que a vitória do democrata pode sim significar a
volta à realidade, ao otimismo e ao progresso civilizatório, em que pese a existência
do mal-estar, que ainda exige muita cautela da população.
A
verdade é que o presidente eleito, de quem se espera dele a promoção de grandes
transformações nas políticas de seu país, terá longo caminho para conseguir
curar a enorme fenda aberta pelo republicano na sociedade americana, mas há fundadas
esperanças de que o mundo poderá respirar mais aliviado, a contar do dia 20 de
janeiro de 2021, quando certamente nova mentalidade político-administrativa comandará
os destinos da maior potência mundial.
Brasília,
em 8 de novembro de 2020
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