terça-feira, 3 de novembro de 2020

Discurso insatisfatório?


O presidente da República teve a primazia de abrir os trabalhos da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e o fez agora com a marca pessoal de também criar discordância sobre os principais temas abordados por ele, com destaque para a gigantesca crise decorrente dos incêndios no Pantanal e na Amazônia.

Em nota, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) criticou duramente o presidente do país, em razão do conteúdo de seu discurso, tendo afirmado que ele mentiu e contribuiu para que o Brasil "caminhe para se tornar um pária internacional. Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais".

Em outro trecho da nota, a ABI disse que "O presidente responsabilizou índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas".

A ABI ressalta que "O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de 'gripezinha' e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de saúde".

A Associação Brasileira de Imprensa afirma, em conclusão, que "A ABI repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório".

Diante do comportamento sistemático do presidente brasileiro, que tem sido reiteradamente contestado por entidades de classe e especialistas sobre importantes matérias em discussão, tem-se a ideia de que ele se alimenta dessa forma esquisita de suscitar polêmica absolutamente dispensável, porque as suas posições polêmicas não contribuem em nada para a elevação do seu governo.

Ao contrário, sempre que o presidente tenta esclarecer ou justificar questões relevantes as celeumas afloram ainda mais, porque nem sempre ele converge com a realidade dos fatos, a exemplo dos incêndios, em que o mundo acompanha com estarrecimento a dizimação das florestas, mas o governo apenas põem culpa, com ou sem razão em índios, caboclos, fazendeiros e outros incendiários, mas o que é essencial passa ao largo, que é investigar os incêndios criminosos e, se for o caso, punir com severidade os culpados, além de adotar medidas preventivas para se evitar novos, alarmantes e incontroláveis incêndios.

O governo com o mínimo de competência jamais iria à Assembleia Geral da ONU levando reclamações sobre estórias da Carochinha, dizendo que querem sabotar o seu governo, por meio de denúncias no exterior e outras falácias estritamente compatíveis com incompetências e má gestão.

O governo sério, competente e responsável se dirige ao mundo levando consigo fatos concretos sobre a sua administração, mostrando aos quatro cantos o resultado das apurações e investigações pertinentes e as medidas concretas adotadas por seu governo sobre os fatos denunciados e/ou questionados, de modo que não se permitam quaisquer dúvidas acerca da correção e da licitude da sua gestão.

Em uma República com o mínimo de seriedade e respeitabilidade, seria compreendido como da maior indignidade o seu mandatário ser classificado como mentiroso e “Sem qualquer compromisso com a verdade.”, porque isso significa completa desmoralização para quem exerce o principal cargo do país, de quem se exige o máximo de dignidade e conduta ilibada, o que vale dizer que deixar de ter compromisso com a verdade é o mesmo que desonrá-lo em definitivo.

Nesses casos dos incêndios das florestas pantaneira e amazônica e da pandemia do novo coronavírus, não há a menor dúvida de que a participação do presidente do país poderia ter melhor reflexo, caso ele tivesse agido com medidas tendentes à investigação dos fatos e responsabilização dos envolvidos e maior discrição comportamental na condução do combate ao contágio, fatos estes que contribuíram para desacreditá-lo como confiável na seriedade exigida em ambos os casos.

Enfim, não é nada elegante nem saudável que o presidente da República seja tratado como homem público mentiroso, diante de seus atos na lídima representação dos interesses do país, porque isso tem o condão de desacreditá-lo perante a opinião pública, que espera dele somente atos de grandeza e de dignificação do relevante cargo que ocupa.

              Brasília, em 3 de novembro de 2020 

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