sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Estarrecimento?

 

O presidente dos Estados Unidos da América disse, mais uma vez sem apresentar provas, que está sendo roubado na apuração dos votos da eleição presidencial, precisamente em razão de sentir que a sua derrota nas urnas se encaminha a passos largos, conforme mostra a marcha das apurações dos votos.

Os motivos que levaram o presidente a denunciar as fraudes e corrupções no sistema eleitoral americano dizem respeito às quedas nas margens de votos que ele tinha na liderança de alguns estados, porém fruto normal das apurações próprias do sistema.

O presidente disse que "Nós estávamos ganhando em diversos estados com uma grande margem, mas os votos começaram magicamente a mudar", tendo afirmado que tomaria medidas judiciais contra as supostas irregularidades na eleição.

As acusações do presidente evidenciam tamanho desespero que se abateu sobre ele, tendo chegado ao ridículo, por que sem provas, de declarar que “Eles estão tentando roubar as eleições. Não vamos deixar que roubem essa eleição.”, diante da inexistência de fato capaz de sustentar tão precipitada e irresponsável afirmação, que somente seria possível se houvesse, ao menos, indício de algo nesse sentido.  

O presidente chegou ao absurdo de dizer que zonas eleitorais decisivas para o pleito deste ano, como as de Detroit, em Michigan, ou da Pensilvânia, são corruptas e fazem parte de um sistema corrupto, mas não há notícia alguma sobre irregularidade ocorrida nesses setores.

Como forma de não aceitação das insanas acusações do presidente, ao colocar em dúvida a lisura o sistema eleitoral, sem apresentar provas, grandes e importantes emissoras de televisão americanas, como ABC e NBC, tiraram o discurso dele do ar, no exato momento do pronunciamento, sob a alegação de que o mandatário estava mentindo e levando notícias falsas para os americanos e o mundo, algo muito estranho para a relevância da autoridade do nível de presidente dos Estados Unidos.

O certo é que, em diversos estados, os votos foram enviados pelos correios, na forma previamente normatizada, por força da pandemia do novo coronavírus, justamente para permitir maior segurança contra o contágio do Covid-19, os quais começaram a ser contados apenas depois dos votos depositados presencialmente, nos locais de votação, e muitos desses votos estão sendo contestados pelo presidente, sem o mínimo de consistência jurídica, porque tudo vem funcionando em conformidade com as regras estabelecidas pelas autoridades pertinentes.

O candidato republicano fez questão de separar os "votos legais" dos "votos ilegais", estes considerados por ele, para afirmar, com base nisso, que ele já teria sido vitorioso, mas ele não disse como se classificariam os votos ilegais, posto que eles foram enviados legalmente pelos correios.

Ele disse que, "Se contarem os votos legais, eu ganho facilmente, se contarem os votos ilegais, eles tentam mudar o resultado", a par de acusar a zona de Filadélfia como foco de corrupção, motivada somente pelo sistema de distanciamento dos representantes dos partidos das mesas de apuração, fato este que foi resolvido, sem que isso pudesse caracterizar forma de fraude nem corrupção nas apurações.

Causa espécie que o presidente somente questionou os votos das zonas onde vem perdendo, não tendo acusado os votos idênticos nos locais onde foi declarado vitorioso, o que pode demonstrar, de certa forma, esperteza política, ao se condenar somente os votos que lhe são desfavoráveis.

          Diante dos fatos dissonantes disseminados pelo presidente norte-americano, o candidato democrata reagiu pregando o respeito ao sistema democrático do seu país, tendo afirmado, em alusão ao seu concorrente, que “Ninguém vai tirar a democracia de nós. Nem agora nem nunca. A América foi longe demais, travou muitas batalhas e suportou muito para permitir que isso aconteça.”.  

          Até mesmo aliados ao presidente repelem o discurso dele, como é o caso de um republicano, que disse: “Com seus comentários, na Casa Branca, esta noite, o presidente desrespeitou todos os americanos que descobriram uma maneira de votar com segurança em meio a uma pandemia que tirou a vida de 235 mil vidas.”.

          Um senador declarou que “Nenhum republicano deve estar satisfeito com as declarações do presidente. Inaceitável.”.

Não há a menor dúvida de que a autoridade de presidente dos Estados Unidos, a maior potência mundial, precisa se pautar sob comportamento de equilíbrio, compostura e seriedade compatível com o relevante cargo que ocupa, de principal magistrado capaz de assegurar, ao contrário, credibilidade e segurança ao sistema eleitoral do seu país, como de fato e de direito vem ocorrendo, sem o surgimento de nenhum caso capaz de se confirmar as precipitadas denúncias sobre irregularidades no processo das apurações dos votos.

Não tem o menor cabimento que o presidente norte-americano se ache no direito de transmitir ao mundo situação que não reflete a realidade daquele país, a ponto de precisar inventar casos imaginados nas suas miragens, para tentar justificar seu possível insucesso nas urnas, em clara demonstração de mau perdedor, que deveria ter a dignidade de cair, mas sem protagonizar escândalo da pior magnitude, diante da transparência dos fatos que estão sendo transmitidos para o mundo, mostrando exatamente que nada há que possa confirmar as insanas suas declarações indiscutivelmente desequilibradas e espalhafatosas.

Enfim, não há sequer indícios de fraude nem irregularidade na eleição para a Casa Branca, mas há sim é a derrota à vista do presidente desesperado, que ficará sozinho com as suas denúncias inconsistentes, na certeza de que ninguém é insensível para embarcar nessa insustentável denúncia de vitória roubado do candidato democrata.

Pelo tanto de estrepolias e maquinações protagonizadas no comando da Casa Branca, bem distanciado dos princípios civilizatórios próprios dos grandes presidentes norte-americanos, à vista da contabilização por órgãos da imprensa, de mais de vinte mil mentiras atribuídas a ele, pode-se intuir que é chegado o momento ideal para que o verdadeiro empresário volte para o seu império particular, dando por cumprida a sua passagem pela vida pública, sem deixar a menor saudade para os verdadeiros homens públicos, que respeitam os princípios democráticos.   

Oxalá que o péssimo exemplo do mandatário norte-americano fique restrito àquele país e que o seu povo se conscientize de que as desesperadas e desconectadas palavras dele não passem de jus sperniand, diante de situação que parece se configurar contrária aos seus interesses políticos.

Brasília, em 6 de novembro de 2020  

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