segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Quem ganhou e quem perdeu?

 

Embora seja considerado o grupo mais fisiológico da política brasileira, os partidos que integram o Centrão, sendo que este também é base política do governo, na Câmara dos Deputados, conseguiram eleger parcela expressiva dos prefeitos, nesta última eleição, somando mais 2.600 municípios, cerca de 45% das cidades brasileiras.

Em quantidade de moradores, aqueles municípios representam em torno de 78 milhões de pessoas, ou o equivalente a cerca de 40% da população do país.

O desempenho do Centrão, na disputa municipal, mereceu a análise de especialistas políticos e das principais lideranças políticas, já fazendo projeção para as eleições de 2022, com vistas ao trabalho de mobilização dos eleitores já visando à corrida presidencial, com tendência para a ampliação da força política do Centrão perante o Executivo federal, em termos de interesses próprios do jogo político, que tem sido a especialidade desse “famoso” grupo.

O resultado das eleições mostra, mais uma vez, a enorme dificuldade dos brasileiros de promover renovação dos quadros políticos, quando se confirma o poder de convencimento de políticos que têm aderência à prática da chamada política velha, em que os integrantes desse grupo, o Centrão, agem visando muito mais aos seus interesses políticos, quanto à dominação do poder e ao seu fortalecimento, em claro detrimento dos interesses públicos, à vista das coalizões postas em prática junto aos governos.    

Nestas eleições, os resultados mostram que os eleitores preferiram consagrar candidatos de partidos do centro, com evidente desprezo ao bolsonarismo e o petismo, que, de forma melancólica, tiveram enorme encolhimento, deixando muitas dúvidas quanto ao futuro deles, em especial no que diz respeito ao pleito presidencial, logo ali, em 2022, visto que o sentimento demonstrado pelos eleitores acena para o fato de que as lideranças daqueles segmentos políticos vão precisar despender muito trabalho para a urgente recomposição de suas bases políticas, que se mostraram bastante esgarçadas neste pleito eleitoral.

O resultado das urnas acena para o que parece ser realmente imprescindível que as lideranças políticas busquem, de alguma forma, se reciclarem, em termos estratégicos, porque seus ultrapassados métodos postos em prática já não satisfazem mais aos interesses de eleitores mais exigentes, que preferem que os homens públicos sejam capazes de buscar a modernização e o aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, muito mais em harmonia com o verdadeiro sentido objetivado pela política, como ciência, que precisa assim ser entendida, ao invés do que vem acontecendo.

Vejam-se que, no caso do presidente da República, nem ainda atingiu a metade do seu mandato, tudo faz, agora, já projetando a sua reeleição, em clara atitude na contramão do que se imagina para o alcance e a consolidação das práticas políticas sérias e decentes, no sentido de tratar os assuntos no seu devido tempo, porquanto a vez agora é apenas o que seria a gestão eficiente e competente e somente se pensar na reeleição no momento apropriado, como normalmente fazem os verdadeiros estadistas, tendo em conta o bem da administração pública.

Nestas eleições, é facilmente possível se afirmar quem ganhou e quem perdeu, posto que ganharam os candidatos que comungam da velha política, ou seja, os mesmos que participam de grupos hegemônicos que praticam políticas sebosas e ultrapassadas do explícito e inegável fisiologismo, e os perdedores são os conhecidos de sempre, i.e., os brasileiros que nunca vão aprender a votar, apenas confirmando o surrado aforismo segundo o qual “o povo tem o governo que merece” e certamente há de merecer os representantes com a índole política escolhidos por ele.

É verdade que a pandemia do coronavírus pode ter contribuído para a confirmação de enorme ausência às urnas, em muitos casos superando a 30%, como em São Paulo, onde a abstinência e os votos brancos e nulos atingiram alarmantes 40,61%, que podem também representar boa parte dos paulistanos que não queriam nenhum dos dois postulantes ao cargo de prefeito da capital paulista.

Isso pode levar à ilação de que candidato mais afeito à vontade e à preferência dos paulistanos poderia se eleger facilmente com os 40,61% dos ausentes e dos votos inválidos, o que isso bem demonstra, na prática, que pouco importa a qualidade do representante do povo, mas sim que alguém seja finalmente eleito, que terá o legítimo direito de administrar toda população, mesmo a maioria dos eleitores que se abstiveram ou anularam o seu voto, em clara negação ao direito democrático de escolha de seu representante político.

Enfim, fica o recado das urnas de que ninguém ganhou por competência ou incompetência nem por ser apadrinhado de importante líder político nem muito menos pela robusteza do seu partido, mas sim por falta de candidato com mais qualidades e atributos pessoais, visto que muitos bons cidadãos, considerados pessoas sérias, genuinamente honesta e responsáveis, não se atrevem a participar da política, diante da podridão que, infelizmente, teima em permanecer impregnada e imperando nela, à vista da esmagadora vitória de candidatos que integram justamente o grupo do Centrão, que se tornou célebre pela defesa ao fisiologismo sintonizado com a abominável velha política, cuja filosofia por ele empregada não condiz com os saudáveis princípios republicanos da ética e da moralidade, entre outros.

Brasília, em 30 de novembro de 2020  

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