quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O conto do vigário?

 

Fiéis admiradores do padre de Divinópolis, Goiás, que presidia a associação incumbida de arrecadar e controlar as doações destinadas à construção de catedral para o Divino Pai Eterno, estão postando, nas redes sociais, a imagem do religioso, com a face contrita voltada para altares e dizendo acreditar nas graças divinas, como se ele tivesse se tornado vítima diante dos fatos protagonizados por ele, depois de dar descaminho, desvio de finalidade de grande parcela dos recursos, em cifras de milhões de reais, envolvendo operações irregulares, já devidamente comprovadas pelo Ministério Público de Goiás.

Lamentavelmente, os fatos apurados mostram muita podridão sob a gestão e aplicação de milhões de reais provenientes de fiéis que, infelizmente, muitos dos quais ainda se mostram acreditar nesse religioso, cujos fatos indicam verdadeiro mar de lama pútrida manipulada com os recursos que seriam exclusivamente para a construção da catedral do Divino Pai Eterno, a qual vem se arrastando, em obras, há quase uma década, mas foram aplicados até na aquisição de casa luxuosa na praia, entre outras aplicações fora da real finalidade proposta para a arrecadação.

          É incrível que ainda haja pessoas que acreditam na índole desse religioso que se tornou fora da lei, por deixar de cuidar religiosamente do dinheiro entregue a ele, para finalidade realmente importante, cuja soma ultrapassa em muito o custo da obra, o que já era suficientemente indicativo de que não havia mais necessidade desse absurdo de milhões e até de bilhões de reais.

Isso por si só já era motivo de censura, ou seja, se arrecadar além do que se precisava, mas nem disso foi capaz de sensibilizar nem o religioso e muito menos seus fiéis seguidores.

Muito pelo contrário disso, à vista da piedosa imagem dele tentando se passar por todo injustiçado, como se ele tivesse sido vitimado e condenado injustamente, como se ele não tivesse envolvido em verdadeiro escândalo totalmente incompatível com as atividades religiosas da maior responsabilidade, tanto cristã como civil, em termos de lisura com recursos vindos da sociedade.

Repita-se que, à vista das investigações realizadas pelo Ministério Público de Goiás, trata-se de religioso que não merece a menor credibilidade, principalmente porque ele não teve a dignidade de assumir a sua fraqueza moral, à vista das irregularidades por ele praticadas com o dinheiro que foi arrecadado de boa vontade de fiéis, que acreditaram que estavam fazendo caridade para as obras do Divino Pai Eterno, quando o dinheiro estava sendo aplicado em empresas estranhas à finalidade da doação, ou seja, para a construção da catedral.

Acorda, gente, para enxergar a realidade e deixar de apoiar gente desleixada e irresponsável, que se finge de inocente e de vítima, além de ainda tentar sensibilizar fiéis, para contar com a misericórdia de pessoas ingênuas e de boa vontade, quando isso somente pode contribuir para acobertar atos criminosos, prejudiciais tanto ao próprio Evangelho de Jesus Cristo como à fé religiosa, cujos princípios se alicerçam, entre outros, na pureza, na honestidade e nos bons propósitos, condutas essas que foram desviadas pelo religioso, conforme mostram os fatos investigados.

O padre pode até alegar que a Justiça não aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público contra ele, o que é verdade, mas somente porque o juiz entendeu que o Estatuto da então entidade dirigida por ele não faz restrição quanto à aplicação dos recursos em questão, que podem ser destinados para qualquer forma de aplicação, inclusive para a formação de empresas de mineração, mobiliária etc., mesmo que elas não tenham vinculação com a construção da catedral.

Evidentemente que sob esse aspecto, não teria realmente qualquer impedimento religioso nem qualquer suspeição, mas o Ministério Público apurou desvio de dinheiro para outras finalidades não previstas na construção da catedral, em especial a compra de casa na praia, onde normalmente não existe atividade religiosa e isso caracteriza desvio de finalidade, entre outras operações suspeitas de graves irregularidades, conforme consta do processo pertinente, que, sob esse aspecto, não houve exame, embora fosse necessário, para provar a culpa ou não do religioso, que era o principal gestor desses recursos.

Trata-se realmente de padre muito culto, tanto que consegue enganar os fiéis, com o desvio da destinação do dinheiro doado por eles, e ainda conta com o apoio de muitos deles, dando a entender que ele é o suprassumo da inteligência e da integridade moral.

Até parece que isso seja mesmo, porque, ao contrário, ele não encontraria ninguém para o compartilhamento de suas mentirosas pregações, como essa, onde ele se apresenta como sendo o homem mais piedoso e puro da face da Terra, tendo inclusive caído na heresia de invocar o nome do santo nome de Deus, em juramento que ele se diz merecedor das bondades celestiais, mas em momento algum ele se refere aos fatos extremamente condenáveis levantados pelo Ministério Público, que mostram a verdadeira face dele, de infiel depositário do dinheiro oriundo de fiéis inocentes, que fizeram milionárias doações, no autêntico sentimento de fé religiosa.

Brasília, em 19 de novembro de 2020  

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