segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Insensibilidade patriótica?

        O presidente dos Estados Unidos da América, derrotado na tentativa de reeleição, reitera manifestações no sentido de que há fraudes no resultado eleitoral e insiste em críticas à imprensa americana, em contestação a vitória do democrata.

O presidente escreveu: "Desde quando a 'grande mídia patética' liga para quem será nosso próximo presidente? Todos nós aprendemos muito nas últimas duas semanas! Houve fraude eleitoral. Esta foi claramente uma eleição roubada".

Apesar dessas fortes acusações, o candidato republicano derrotado não apresentou nenhuma prova sobre das fraudes que alega, a par de não reconhecer a vitória do seu adversário, que já foi reconhecida pela imprensa norte-americana, e finalmente disse que “A eleição está longe de terminar.”, sugerindo que é preciso a recontagem dos votos.

Na mesma linha do marido, a primeira-dama daquele país reforçou o discurso do republicano, dizendo: "O povo americano merece eleições justas. Cada voto legal – não ilegal – deve ser contado. Devemos proteger nossa democracia com total transparência.".

A primeira-dama invoca a necessidade de transparência, mas, sob total incoerência, o marido dela não revela o teor das fraudes segundo as quais ele estaria se escudando para não aceitar a realidade das urnas, que já foi amplamente aceita pelo imprensa e pelos americanos.

Enquanto isso acontece, o advogado da campanha eleitoral republicana informou à imprensa que recorrerá à Justiça, sob a alegação de que "Todos nós sabemos por que Joe Biden está se apressando em fingir que é o vencedor e por que seus aliados da mídia estão se esforçando tanto para ajudá-lo: eles não querem que a verdade seja exposta. O simples fato é que esta eleição está longe de terminar".

Ora, causa estarrecimento o fato de o acusador sobre a existência de fraudes e não as revelar, para o fim de materializar a verdade que todos precisam saber, quando, para o bom entendedor do direito, é exatamente a parte prejudicada que cabe a obrigação de mostrar o que está errado, com vistas a se chegar à verdade.  

O advogado acusa que "Nenhum voto (enviado) pelos correios foi inspecionado", fato que é contestado pelas autoridades responsáveis pelas apurações.

O presidente insiste nas reclamações, pelo Twitter, sob alegações da existência de fraudes, tendo afirmado que venceu a disputa, o que não é verdade, conforme mostram os resultados das urnas, apuradas segundo as regras e os critérios democráticos.

O presidente norte-americano afirmou, sem comprovação, que “os observadores não tiveram acesso às salas de contagem de votos, que pessoas receberam cédulas de votação sem ter pedido e que venceu a eleição com 71 milhões de votos.”.

Por último, o republicano derrotado disse que “Devíamos olhar os votos. Estamos apenas começando o estágio de tabulação. Devemos examinar essas alegações. Estamos vendo uma série de declarações de que houve fraude eleitoral. Temos neste país uma história de problemas eleitorais”.

A última notícia sobre esse affaire vem da Casa Branca, dando notícia de que a primeira-dama dos Estados Unidos aconselhou, ontem, o presidente americano a reconhecer a derrota nas eleições, segundo adiantou a CNN americana, ao afirmar que ela teria dito ao esposo que “chegou a hora dele aceitar” que perdeu.

Nessa mesma entonação, teria seguido um genro do republicano, que é o principal conselheiro dele, também sugerindo que o candidato republicano  aceite a vitória do democrata, já considerada eleito como novo presidente dos EUA.

De maneira reiterada, o Twitter vem colocando alertas sobre desinformação nas mensagens do presidente norte-americano, fato que mostra para a sociedade a pouca credibilidade das colocações postadas por ele, que termina contabilizando desconfiança sobre o que ele diz.

Enfim, o presidente republicano não teve a grandeza para aceitar a sua derrota nem a capacidade para mostrar qualquer prova referente às supostas irregularidades que vem denunciando.

Por seu turno, as autoridades envolvidas no processo de apuração dos votos, nos estados, afirmam, de maneira categórica, que, “até agora, nenhum indício de fraude foi encontrado.”, o que demonstra a fragilidade das afirmações do republicano derrotado.

O candidato democrata passa ao longe das birras do republicano desesperado com a fragorosa derrota, e, com base na contabilização de mais dos 270 delegados, no colégio eleitoral, ele já se manifestou pelos meios de comunicação televisiva e pela imprensa em geral, com o seu discurso da vitória, e agradeceu aos eleitores, dizendo para eles que será presidente de todos os americanos.

O candidato vitorioso disse que "Sinto-me honrado pela confiança que o povo americano depositou em mim e na vice-presidente eleita, Kamala Harris. Diante de obstáculos sem precedentes, um número recorde de americanos votou. Provando, mais uma vez, que a democracia bate fundo no coração da América. Com o fim da campanha, é hora de colocar a raiva e a retórica dura para trás e nos unirmos como uma nação. É hora de a América se unir. E se fortalecer. Somos os Estados Unidos da América. E não há nada que não possamos fazer, se fizermos juntos", tendo aproveitado para pregar a pacificação entre os americanos.

O republicano demonstra abissal incoerência, quando somente questiona os votos referentes às urnas que deram a vitória ao democrata, quando, por justiça, seria preciso questionar também os votos depositados nos estados onde ele foi vitorioso, dando a entender que ali não houve fraude, onde só há regularidade.

Isso só evidencia a falta de seriedade das alegações sobre a existência de fraudes, por não haver, em princípio, fato grave que possa ser notificado como irregular, salvo os votos enviados assim pelos correios, exatamente na conformidade com as normas aprovadas bem antes das eleições, não havendo qualquer constatação de falha, conforme atestam as autoridades incumbidas das apurações.

Conclui-se que a situação de não aceitação da vitória do opositor pode levar o candidato derrotado nas eleições presidenciais à possibilidade de conduzir o povo à gravíssima desordem civil, com imprevisíveis consequências para a nação e o mundo, fato este que só demonstra desequilíbrio e insensibilidade por parte do seu protagonista, à vista dos princípios da civilidade e do patriotismo.

           Brasília, em 9 de novembro de 2020

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