O
sistema norte-americano para a escolha do presidente da República é singular,
sob a adoção do chamado colégio eleitoral, em que cada estado ganha um peso
nesse critério eleitoral, de acordo com o tamanho da sua população.
Na
eleição de 2016, por exemplo, a candidata democrata teve
mais votos, acima de três milhões, mas o eleito foi o atual presidente,
exatamente porque ele fez mais votos no colégio eleitoral, que é formado para o
eleger, em votação apenas pro forma, posto que o vitorioso é aquele que
fizer mais delegados nesse colegiado.
Nesse
sistema visivelmente anacrônico, por se permitir que a vontade popular seja ignorada, não é novidade que o
candidato menos votado nas urnas venha a se eleger, exatamente por ele ter
conseguido fazer mais votos no colégio eleitoral.
Naquele
país, o colégio eleitoral totaliza 538 votos e o candidato a presidente precisa
conquistar a maioria dos votos dos delegados, que é a metade dessa quantidade mais
um, no somatório de 270 delegados.
Ou
seja, o sistema é formatado para que os eleitores
norte-americanos votem, na verdade, para a escolha dos delegados do partido,
que, depois, vão eleger o presidente do seu partido, no caso da formação da maioria
dos delegados.
O colégio eleitoral é formado proporcionalmente
à quantidade de habitantes, onde há estado com 55 delegados e outros com 3, 6,
10 e assim por diante, conforme a população.
Como
a Califórnia, por exemplo, é o estado mais populoso do país, com quase 40
milhões de habitantes, ela está dividida em 53 distritos eleitorais e termina
se tornando grande força para a eleição do presidente.
Já
o estado do Kansas, que é pequeno, com menos de 3 milhões de habitantes, tem
apenas quatro distritos eleitorais, ou seja, esse estado oferece 4 delegados para
a eleição do presidente.
Em
cada distrito do estado corresponde a um delegado, ao qual se acrescenta mais um
para cada senador que possui no Congresso, no total de dois, caso em que, na
Califórnia, o total de delegados é de 55 e, no Kansas, de seis delegados, fato
que evidencia a clara influência de cada estado, exatamente pela quantidade de
votos no colégio eleitoral.
O sistema prevalente do colégio eleitoral
existe justamente para que estados mais populosos tenham peso maior na decisão
e, ao mesmo tempo, obrigando que os candidatos intensifiquem esforços tanto mais
para ter melhor desempenho nos estados como Califórnia, Flórida e Texas, por
exemplo, que, no conjunto, somam 133 delegados, que é quase 25% do total dos
delegados e quase a metade para a eleição de presidente, no total de 270.
À
exceção apenas dos estados de Maine e Nebraska, nos demais estados, é adotado o
sistema denominado de winner-take-all,
em que o ganhador leva tudo, no caso onde o candidato que conseguir o maior
número de delegados fica com todos, ou seja, se alguém conquistar 28 ou mais dos
delegados da Califórnia, por exemplo, significa que ele contabiliza o total dos
55 delegados.
Via
de regra, existem estados que são tradicionalmente republicanos, enquanto há outros
onde os democratas ganham praticamente sempre, a briga se volta mesmo para os
demais estados conhecidos como swing states, onde não há tanta
fidelidade e os resultados variam de acordo com cada eleição.
Nessa
sistemática, se incluem Carolina do Norte, Ohio, Pensilvânia e mesmo a Flórida,
que passam a ser decisivos, no final da contagem dos votos.
Ao final, com o somatório dos 50 estados dos Estados
Unidos da América (mais o distrito de Columbia), existem 538 delegados em
disputa, e se torna presidente o candidato que assegurar o voto de pelo menos
270 deles.
Esse
sistema de votação já bastante complexo, mas, desta vez, ele se tornou ainda
mais, diante dos contornos da imprevisibilidade da pandemia do novo coronavírus,
em que foi permitida a votação pelos correios.
Com
a pandemia ainda presente nos Estados Unidos, assim como em boa parte do mundo,
o tradicional sistema de votação do país precisou ser reformulado, para que os
norte-americanos pudessem depositar suas cédulas pelos correios.
Parece
inimaginável que, em plena era da inteligência artificial, a economia mais poderosa
do mundo ainda recorra ao antigo sistema de envio, mas o processo eleitoral
norte-americano é considerado um dos mais democráticos do mundo.
Na
verdade, esse fato suscitou questionamentos, em especial do atual presidente,
que não se conforma com essa ideia, por entender que ele pode beneficiar seu
adversário, fato este que não há a menor procedência, por se tratar de decisão dentro
das regras democráticas, válidas para ambos os candidatos, apenas adaptadas às
circunstâncias.
Como
o país da América do Norte possui forte influência nas decisões e rumos
internacionais por conta da sua força econômica, neste período, as atenções
ficam completamente voltadas para o pleito norte-americano.
Finalmente,
importa se destacar que, nos EUA, não existe tribunal eleitoral, motivando que
cada estado norte-americano tenha a incumbência e a liberdade para definir,
previamente, as regras eleitorais, que podem ser diferentes das normas do
último pleito de 2016 e até mesmo dos demais estados, conforme a conveniência
deles.
Embora
se diga que os Estados Unidos seja modelo de democracia, nesse ponto, o sistema
eleitoral não parece ser o mais justo que se poderia imaginar, em termos
democráticos, quando este tem por princípio a vontade popular, que não tem aderência
nesse formato esdrúxulo e retrógrado, quando, nem sempre, a maioria elege o presidente,
exatamente por força mais indireta, em que se vota para a formação de colegiado
eleitoral e não diretamente no candidato.
Parece
evidente que esse sistema complexo e pouco compatível com a realidade
democrática, que é a materialização da vontade popular não se completa totalmente
nele, diante dessa discrepância, atende plenamente aos interesses dos norte-americanos,
por o aceitarem normal e continuamente.
A
esperança é a de que o futuro presidente norte-americano, não importando se
democrata ou republicano, tenha a sensibilidade de trabalhar tanto para o
engrandecimento dos Estados Unidos da América como para a felicidade do mundo,
diante da dependência econômica daquela que é, sem a menor dúvida, a maior
potência, que consegue transmitir estabilidade e segurança universais quando
seu governo demonstre serenidade e competência no comando daquela nação.
Brasília,
em 5 de novembro de 2020
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