A
Embaixada da China, em Brasília, reagiu à acusação do deputado federal filho do
presidente da República, de que aquele país praticaria espionagem por meio de
sua rede de tecnologia 5G.
A
diplomacia chinesa entende que o parlamentar “solapou” a relação amistosa entre
o Brasil e China, por ele ter feito declarações “infames”, tendo afirmado
que o Brasil poderá “arcar com consequências negativas”.
Na
mensagem, o filho do presidente fez menção à adesão simbólica do Brasil à Clean
Network (Rede Limpa), iniciativa diplomática do governo norte-americano, para
tentar frear o avanço de empresas chinesas no mercado global de 5G.
O
filho do presidente celebrou aquele fato como um sinal de que “o Brasil se
afasta da tecnologia da China. O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança
Clean Network, lançada pelo governo Trump, criando uma aliança global para um
5G seguro, sem espionagem da China”.
Além
de escrever o texto acima, o parlamentar também listou o Partido Comunista
Chinês como “entidade agressiva e inimiga da liberdade”.
Imediatamente,
a embaixada da China emitiu nota, afirmando que “Na contracorrente da
opinião pública brasileira, o deputado Eduardo Bolsonaro e algumas
personalidades têm produzido uma série de declarações infames que, além de
desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que
ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a
imagem do Brasil. Acreditamos que a sociedade brasileira, em geral, não
endossa nem aceita esse tipo de postura. Instamos essas personalidades a deixar
de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as
desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar
ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os
povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com
as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar
a normalidade da parceria China-Brasil.”.
O
Clean Network tenta convencer governos estrangeiros, mais por meio de pressão
política e até com oferta de financiamento, a somente permitir em suas redes 5G
equipamentos de fornecedores não-chineses, que eles consideram “confiáveis”.
O
governo norte-americano acusa as empresas de origem chinesa de serem obrigadas
a permitir acesso do governo comunista a suas redes, o que supostamente abriria
uma brecha para vigilância.
Os
Estados Unidos pretendem que o Brasil decida banir a empresa Huawei como
fornecedora, após o leilão do 5G, previsto para 2021, algo que ainda se encontra
em estudos pelo Palácio do Planalto.
O
governo chinês diz que a iniciativa do governo norte-americano “discrimina a
tecnologia 5G da China”, enquanto a Huawei é uma das principais fornecedoras
de estrutura de telecomunicações no Brasil, usada pelas maiores operadoras de
telefonia, tendo por isso vantagens no entendimento de executivos do setor.
Não
obstante, a China reage às ações do país de tio Sam, afirmando que “O
governo chinês incentiva empresas chinesas a operar com base em ciência, fatos
e leis enquanto se opõe a qualquer tipo de especulação e difamação
injustificada contra empresas chinesas. Os EUA têm um histórico indecente em
matéria de segurança de dados. Certos políticos norte-americanos interferem na
construção da rede 5G em outros países e fabricam mentiras sobre uma suposta
espionagem cibernética chinesa, além de bloquear a Huawei visando alcançar uma
hegemonia digital exclusiva. Comportamentos como esses constituem uma
verdadeira ameaça à segurança global de dados”.
A
diplomacia reativa orientada pelo presidente chinês afirmou que as declarações
do parlamenta brasileiro são “infundadas e prestam-se a seguir os ditames
dos EUA no uso abusivo do conceito de segurança nacional para caluniar a China
e cercear as atividades de empresas chinesas. Isso é totalmente inaceitável
para o lado chinês e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse
comportamento. A parte chinesa já fez gestão formal ao lado brasileiro pelos
canais diplomáticos”.
Como
não poderia ser diferente, foi com preocupação que o governo brasileiro recebeu
a reação natural do governo chinês aos ataques insanos, indevidos e
intempestivos do filho do presidente brasileiro, diante da possibilidade de
perda para o Brasil se houver crise diplomática com a China, que é o maior
parceiro comercial brasileiro.
A
maior gravidade de tudo isso é que, como filho do presidente do país, em muitos
casos, há interpretação de que a fala dele pode se confundir ou estar refletindo
o pensamento do próprio presidente, motivo pelo qual é preciso ter cuidado
redobrado ao se referir a assunto que deve ser encaminhado pelos canais diplomáticos,
que são as vias normais de negociações entre nações evoluídas e civilizadas.
O
filho do presidente deixa visão muito clara que ele (que pode até ser o
pensamento do Palácio do Planalto, por falta de informação) se alinha, em claro
prejuízo aos interesses do Brasil, ao discurso do presidente americano e ainda acusa
o Partido Comunista Chinês de pretender fazer espionagem, o que nada disse se insere na sua precípua
atividade parlamentar, salvo por ele ser integrante da família do mandatário
tupiniquim, que também é totalmente impróprio, porque os assuntos de Estado devem
ser tratados exclusivamente pelos órgãos competentes do governo.
A
situação é tão ridícula que é como se o parlamentar estivesse falando em nome
governo, mas ele não tem competência para tanto, para se pronunciar como se a
mensagem realmente partisse da sede do governo, que, nesse caso, fica a impressão
de que ele não tem coragem de se expor diretamente contra os interesses dos
chineses, permitindo que o parlamentar se intrometa em assunto extremamente
delicado, com o propósito apenas de tentar complicar as relações diplomáticas,
de forma injustificável e desnecessariamente.
Não
há a menor dúvida de que se trata de equívoco fenomenal o Brasil querer manter
esse debate ideológico contra a China e ainda por canal inapropriado, em
sintonia automático com presidente norte-americano.
Não
faz o menor sentido o Brasil querer adotar tom beligerante e antidiplomático na
discussão da tecnologia 5G, que se trata de prioridade para os Estados Unidos,
independentemente de governo.
Ainda
na campanha presidencial, o candidato republicano tinha interesse estratégico,
em termos políticos, para atacar fortemente a China, especificamente com relação
à tecnologia 5G, ou seja, em momento de eleição americana, mas, ao contrário
disso, nada justifica o Brasil entrar nessa briga de cachorros grandes, que tem
a marca da ideologia entre extrema-direita e comunismo, porque ele só tem a
perder se entrar nesse affaire, quando o ideal é o insensato filho do
presidente se fingir que o Brasil sequer existe, deixando que essa questão fique
a distância e seja tratada e resolvida pelo país do tio Sam, junto com a China.
No
sentido estritamente diplomático, a nota da embaixada da China comete grave e
grosseiro equívoco, quando considera a declaração do filho do presidente como
se ela fosse do próprio governo, quando é visível o distanciamento entre um e
outro, à vista de não haver absolutamente nada que possa se fazer, com
segurança, tão absurda ligação, salvo pelo simples fato de o parlamentar ser
filho do presidente da República, mas isso não significada nada, porque qualquer
deputado poderia ter dito a mesma coisa e isso seria ridículo em se afirmar que
ele estaria falando pelo Palácio do Planalto.
Não
obstante, esse rapaz demonstra não ter a menor estatura intelectual, política
nem diplomática, em que pese ele ter sido cogitado para ser embaixador brasileiro
nos Estados Unidos, mas, apesar dos pesares, ele insiste em exercer o cargo de
premiê tupiniquim, sem ter nenhum estofo para a função, que exige preparo, capacidade, maturidade e responsabilidade.
A
desastrada declaração do parlamentar chega a ser da maior prematuridade,
principalmente porque ela pode ter implicação tanto diplomática como comercial,
com substanciais prejuízos aos interesses nacionais, por meio de distanciamento
de relações e dificuldade nas negociações entre os dois países.
Causa
enorme perplexidade o silêncio do governo, nesse episódio, por ter o dever
constitucional de defender os interesses nacionais, caso em que é preciso que
haja imediata manifestação para refutar a declaração em tela, para se afirmar,
de forma peremptória, que ela não condiz com a sua orientação.
Convém
que o governo deixe claro que não se responsabiliza por posicionamentos pessoais,
por meio dos quais nenhuma nação tem o direito de fazer inferência e muito
menos ameaças em razão deles, ante a fragilidade do seu objeto, à vista de não
haver absolutamente nada de concreto, nesse caso, que ligue as declarações, que
foram pronunciadas por particular, por se tratar de parlamentar, com os
interesses do Estado, com o que se pode concluir pela farta ingenuidade da
embaixada da China, em pretender tratar a matéria em apreço como se fosse oriunda
do governo brasileiro.
O
filho do presidente teve tanta certeza de que havia cometido gigantesca besteira
que a sua irresponsável declaração foi logo deletada, certamente por ele
perceber que teria ido longe demais, ao se imiscuir em assunto bastante relevante
da República que refoge à sua competência legislativa.
Os
brasileiros esperam que o parlamentar se conscientize de que a importância do
Brasil não admite a atitude impensada e irresponsável praticada por ele, que
precisa se concentrar exclusivamente nas atividades pertinentes às relevantes funções
parlamentares.
O
governo brasileiro precisa mostrar firmeza nesse caso e em todos os outros que
envolverem os interesses nacionais, no sentido de adotar posição clara e objetiva
sobre a sua autoridade acerca de assuntos que competem exclusivamente ser tratado
por ele, procurando esclarecer que as posições e manifestações de interesse do
Estado são tratados diretamente pelo presidente da República e pelos órgãos
competentes, ficando muito claro que ninguém mais tem autorização para fazer declarações
sobre assuntos vinculados à administração dos negócios do Brasil.
Brasília,
em 26 de novembro de 2020
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