terça-feira, 3 de novembro de 2020

Intervenção militar?


Está veiculando nas redes sociais manifesto de simpatizantes à causa da “intervenção militar”, como se essa medida de extrema exceção fosse a salvação da pátria, à vista da existência de alternativa realmente satisfatória e inteligente, em harmonia com os princípios evoluídos e democráticos.

As pessoas que entraram na onda da “intervenção militar” estão longe de imaginar que se trata de maluca pregação que tem o condão de implicar na perda dos sagrados direitos da liberdade e das garantias individuais dos brasileiros, assegurados na Carta Magna.

Essa forma de reivindicação pode estar acontecendo em nome de indesejável projeto que funciona explicitamente como verdadeira ditadura, com inspiração em modelo que conspira contra os princípios republicano e democrático.

Na verdade, esse movimento segue advertências mais ou menos veladas, mas em outros casos nem tanto, de altas autoridades da República de que pode haver iminente ruptura constitucional, como forma de ameaça eufêmica de golpe de Estado nada agradável, por vir na contramão da prevalência do Estado Democrático de Direito, defendido por todas as nações evoluídas e modernas, em termos políticos e democráticos, que refutam bravamente ideias retrógradas como essa, diante da imersão do país nas escuridão e incertezas político-democráticas.

Vejam-se que o presidente da República, conquanto declara respeito aos princípios democráticos e à soberania dos demais poderes, vinha, até pouco tempo, se confraternizando com quem advogava, às escâncaras, o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, além de demonizar a oposição, parte da imprensa e quem prega críticas à sua atuação, dando nítida impressão de que a democracia e as instituições muito mais atrapalham do que ajudam o seu governo, que tem dificultado ao máximo o diálogo, na busca de entendimentos políticos.

É preciso se entender que essa forma de democracia de demonizar aqueles que não estão alinhados com o governo não pode ser considerada construtiva para o desenvolvimento da nação, tendo em vista que o progresso do Brasil nunca será possível sob o degradante e recriminável processo predominante, até pouco tempo, do “nós contra eles”, dando nítida indicação de condenável separação radicalizada entre brasileiros, como se fosse possível a dicotomia de interesses público e nacional.

Convém que a democracia brasileira passe a ser autêntica, no seu verdadeiro sentido de servir para unir as autoridades públicas, em todas as esferas, com o povo, tendo como objetivo primordial a pacificação de ideário que mire a consecução de metas voltadas para a consolidação dos direitos sociais, do progresso econômico, da justiça na distribuição dos frutos da produção, do aumento do emprego e, enfim, da harmonização e da integração dos interesses dos brasileiros.

A verdade precisa ser posta à mesa, para se evidenciar que o quadro de desarmonia, descontentamento, desilusão, enfim, de insatisfação somente reflete preocupantes inoperância e incompetência na condução das políticas de interesse nacional, exatamente em razão da ausência de interesse e projetos capazes de satisfazer às ânsias da sociedade, nas suas múltiplas vicissitudes, que se mostram antagônicas, ou seja, diante da apatia demonstrada por parte de quem tem o dever de oferecer a matéria prima para a discussão da sociedade, que tem avidez quanto à solução das suas necessidades político-sociais.

É evidente que nada será possível viabilizar de construtivo para os brasileiros sob a prevalência de ideias retrógradas e malformadas de intervenção de qualquer natureza e muito menos militar, uma das mais radicais, porquanto, como o próprio vernáculo já diz, o sentido de intervenção precisa ser acionado em caso apenas emergencial, quando nada mais restar para se fazer, a ter exaurida a inteligência do ser humano para lutar em prol das forças ativas, no caso, dos princípios democráticos.

Brasília, em 3 de novembro de 2020

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