Está veiculando nas redes sociais manifesto de
simpatizantes à causa da “intervenção militar”, como se essa medida de extrema
exceção fosse a salvação da pátria, à vista da existência de alternativa
realmente satisfatória e inteligente, em harmonia com os princípios evoluídos e
democráticos.
As pessoas que entraram na onda da “intervenção
militar” estão longe de imaginar que se trata de maluca pregação que tem o
condão de implicar na perda dos sagrados direitos da liberdade e das garantias
individuais dos brasileiros, assegurados na Carta Magna.
Essa forma de reivindicação pode estar acontecendo
em nome de indesejável projeto que funciona explicitamente como verdadeira
ditadura, com inspiração em modelo que conspira contra os princípios
republicano e democrático.
Na verdade, esse movimento segue advertências mais
ou menos veladas, mas em outros casos nem tanto, de altas autoridades da
República de que pode haver iminente ruptura constitucional, como forma de
ameaça eufêmica de golpe de Estado nada agradável, por vir na contramão da
prevalência do Estado Democrático de Direito, defendido por todas as nações
evoluídas e modernas, em termos políticos e democráticos, que refutam
bravamente ideias retrógradas como essa, diante da imersão do país nas
escuridão e incertezas político-democráticas.
Vejam-se que o presidente da República, conquanto
declara respeito aos princípios democráticos e à soberania dos demais poderes,
vinha, até pouco tempo, se confraternizando com quem advogava, às escâncaras, o
fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, além de
demonizar a oposição, parte da imprensa e quem prega críticas à sua atuação,
dando nítida impressão de que a democracia e as instituições muito mais
atrapalham do que ajudam o seu governo, que tem dificultado ao máximo o
diálogo, na busca de entendimentos políticos.
É preciso se entender que essa forma de democracia
de demonizar aqueles que não estão alinhados com o governo não pode ser
considerada construtiva para o desenvolvimento da nação, tendo em vista que o
progresso do Brasil nunca será possível sob o degradante e recriminável
processo predominante, até pouco tempo, do “nós contra eles”, dando nítida
indicação de condenável separação radicalizada entre brasileiros, como se fosse
possível a dicotomia de interesses público e nacional.
Convém que a democracia brasileira passe a ser
autêntica, no seu verdadeiro sentido de servir para unir as autoridades
públicas, em todas as esferas, com o povo, tendo como objetivo primordial a
pacificação de ideário que mire a consecução de metas voltadas para a
consolidação dos direitos sociais, do progresso econômico, da justiça na
distribuição dos frutos da produção, do aumento do emprego e, enfim, da
harmonização e da integração dos interesses dos brasileiros.
A verdade precisa ser posta à mesa, para se
evidenciar que o quadro de desarmonia, descontentamento, desilusão, enfim, de
insatisfação somente reflete preocupantes inoperância e incompetência na
condução das políticas de interesse nacional, exatamente em razão da ausência
de interesse e projetos capazes de satisfazer às ânsias da sociedade, nas suas
múltiplas vicissitudes, que se mostram antagônicas, ou seja, diante da apatia
demonstrada por parte de quem tem o dever de oferecer a matéria prima para a
discussão da sociedade, que tem avidez quanto à solução das suas necessidades
político-sociais.
É evidente que nada será possível viabilizar de
construtivo para os brasileiros sob a prevalência de ideias retrógradas e
malformadas de intervenção de qualquer natureza e muito menos militar, uma das
mais radicais, porquanto, como o próprio vernáculo já diz, o sentido de
intervenção precisa ser acionado em caso apenas emergencial, quando nada mais
restar para se fazer, a ter exaurida a inteligência do ser humano para lutar em
prol das forças ativas, no caso, dos princípios democráticos.
Brasília, em 3 de novembro de 2020
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