sábado, 14 de novembro de 2020

A verdade é essa?

 

O  candidato à reeleição ao cargo de prefeito de Uiraúna, Paraíba, postou propaganda política, nas redes sociais, onde consta escrito dentro de círculo: “O POVO APROVA SEGUNDO” e “A ADMINISTRAÇÃO DO PREFEITO SEGUNDO SANTIAGO”, no mesmo lado onde também consta a indicação de 62,7%, enquanto ao lado foi escrito “O HOMEM DISPAROU”, com a indicação de 51,9% para ele e 44,2% para a candidata da oposição, tudo fazendo menção ao resultado da pesquisa realizada pelo Instituto Opinião.

Com a devida vênia, é preciso que se diga a verdade para o povo, em especial, na campanha eleitoral, para que não se transmita propaganda enganosa, na tentativa de se mostrar algo absolutamente irreal, inconsistente com a verdade dos fatos, considerando que é dever do político e da sua propaganda eleitoral se falar somente a verdade.

Pois bem, a propaganda justa e verdadeira, sem tapeação nem manipulação eleitoreira, precisa dizer simplesmente o certo para o povo, no sentido de que, no caso em epígrafe, realmente 62,7% de apenas, precisamente, 260 eleitores pesquisados, conforme resultado apresentado pelo aludido instituto, aprovam a administração do prefeito Segundo Santiago e não o povo, porque, nesse caso, até a oposição estaria aprovando o trabalho do prefeito.

De igual modo, é preciso deixar muito claro que 51,9% desses mesmos 260 eleitores pesquisados, ou seja, 135 pessoas disseram que votam no candidato da situação e, convenhamos, com base nisso, em apenas 2,5% dos eleitores, conforme foi a abrangência da pesquisa, entre 260 eleitores de aproximadamente 10.500 votantes, não é suficiente para se afirmar que o homem disparou, diante da insignificância do universo pesquisado, repita-se, apenas 2,5% dos votantes.  

A mentira da propaganda fica estampada nas palavras do círculo, quando diz, em letras garrafais: "O POVO APROVA SEGUNDO" e indica, abaixo, o número da pesquisa, no percentual de 62,7% dos eleitores, quando deveria, por questão de honestidade da propaganda eleitoral, também se mencionar especificamente os eleitores pesquisados, que foram, repita-se, 260 pessoas, o que equivale se afirmar que somente 163 pessoas aprovam a administração do prefeito Segundo, de acordo com a pesquisa em apreço, e não "O POVO" por se tratar de visível generalização proposital e maquiavelicamente ridícula e mentirosa, com a finalidade, talvez, de distorcer a realidade dos fatos.

Ao se dizer que o povo aprova, implicitamente a propaganda abrange a população da cidade, que também arrola a oposição, de forma indevida, porque ela também integra o povo, na sua totalidade, e isso é que faz com que, nas publicidades eleitorais, sejam visados os objetos capazes de somente contribuir para o que for de interesse do candidato, sem ultrapassá-lo, como nesse caso, em que a propaganda vai além do razoável.

Para o bom entendedor, a maneira como se transmite as informações e as propagandas eleitorais precisa ser a mais correta possível, porque, do contrário, na forma como consta da propaganda em causa, há explícita manifestação da vontade de enganar e confundir o eleitor, por se tratar do aproveitamento de resultado de pesquisa para generalização indevida e leviana, quando a verdade poderia até resultar em melhores frutos, diante da evidência de fatos reais que são imprescindíveis para o povo avaliar e decidir em quem vai votar, precisamente por falar a verdade e não precisar usar expediente mentiroso.

O povo, que é o eleitor, precisa e bem merece receber informações exatas, corretas que reflitam a realidade, porque é dessa maneira que devem se comportar os políticos imbuídos dos bons propósitos.

Sei perfeitamente que essa minha análise pode até servir para desgostar e contrariar interesses, mas deixo claro que o meu propósito é apenas o de mostrar que o bom e honesto homem público pode ser prejudicado porque o processo eleitoral pode ter se desviado das suas finalidades verdadeiras e das propagandas honestas, justas e estritamente voltadas para a apresentação de informações e metas de trabalho, formalizadas com base em elementos de pureza e sinceridade, com capacidade real para a construção do desenvolvimento exclusivamente do bem e do progresso.

Convém que sejam evitados os expedientes que tenham por visíveis intenções se tirar proveito de situações para prejudicar os concorrentes, em clara corrida do mal contra o bem, em que, em síntese, o povo termina sendo o perdedor, justamente porque, quase sempre, o vitorioso pode ser aquele que foi superiormente mais esperto nesse jogo que continua extremamente perigoso, lamentavelmente.

Por fim, na referida propaganda, consta declarada a seguinte expressão: "A VERDADE É ESSA".

Para o bem da verdade e da honestidade políticas, fica a indagação no ar: Essa é realmente a verdade dos fatos, à luz do resultado da pesquisa em apreço?

Brasília, em 14 de novembro de 2020  

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