Em crônica recente, fiz apelo para que a prefeita
eleita de Uiraúna, Paraíba, confirmasse ou refutasse, sob o prisma a ensejar a
consagração ou não sobre a importância da sua vitória nas urnas, vindo a
público para justificar a veracidade sobre o apoio recebido de político que se
encontra sob investigação pela Polícia Federal, em razão da suspeita da prática
de atos irregulares.
O referido chamamento se referia, basicamente, ao
fato de que, na campanha eleitoral a candidata tinha como forte lema o apelo às
mudanças, em todos os sentidos, inclusive quanto à tentativa de moralização das
práticas políticas, inclusive de não aceitação da convivência com pessoas
envolvidas em casos deploráveis perante a administração pública.
Não obstante, tão logo foi anunciada a vitória da
candidata, reportagem publicada pelo prestigiado portal Cofemac falava
claramente de que “Leninha Romão, a partir de 1º de janeiro deverá governar com
um amplo apoio de lideranças políticas, entre elas, está o ex-prefeito Bosco
Fernandes, que durante a campanha declarou seu voto e apoio a candidata eleita
(sic).”.
Embora nenhum esclarecimento foi dado
especificamente com relação à matéria por mim suscitada, a candidata deu longa
entrevista à Rádio Sousa 104-FM, onde teve a oportunidade de abordar vários
assuntos, aproveitando o ensejo para dá maiores destaques com relação ao apoio
que foi oferecido à candidatura dela pelo mencionado político, conforme síntese
mostrada logo abaixo.
Transcreve-se a seguir excerto da entrevista
concedida pela prefeita eleita de Uiraúna à citada rádio: O repórter perguntou
à prefeita eleita “Se o doutor Bosco lhe ajudou na campanha?” A resposta
dela foi que “Ajudou a oposição de Uiraúna. Me ajudou. Disse que ia me
ajudar, porque Leninha, você só fez o bem a mim. Você só fez o bem para
Uiraúna. Então, este momento as pessoas que tanto me prejudicaram, que tanto
fizeram mal ao Uiraúna, não merecem o meu apoio. Meu apoio é seu. Isso aí foi
visto e notório, nos últimos dias da eleição, doutor Bosco visitou casa a casa,
junto do meu filho Marlon, dando proteção a ele (...). Doutor Bosco nada
ele me pediu, nada ele me cobrou. Ele chegou com o gesto muito simples e disse:
eu vou votar em você, porque você sempre me ajudou. Você sempre quis o bem de
Uiraúna. E essa pessoa que aí estar não vai fazer o bem à minha terra. Então
Leninha, eu vou votar por isso. Ele tinha tido uma conversa com meu esposo, com
Veinho, que é pessoa muito reservada, e o que ele pediu a Veinho foi que
ajudasse, não fechasse a Casa de Saúde Padre Costa. Doutor Bosco não me pediu
nada. A única coisa e a oposição sabe disso a todo instante, porque minha vida
é um livro aberto. (...). Doutor Arthur conversou várias vezes com
doutor Bosco, com Paulinha, certo? (...) O importante naquela hora era
que Leninha ganhasse as eleição (sic). Não existia cobrança. E a oposição, o
sentido e o pensamento da oposição é realmente libertar Uiraúna (...)”.
Como se vê, a prefeita eleita de Uiraúna não
precisava ser mais eloquentemente em transmitir a verdade dos fatos sobre esse
assombroso episódio do apoio à candidatura dela por pessoa envolvida com a
Justiça, pelos fatos nefastos que são do conhecimento de todos, e isso só
demonstra a incoerência por parte de quem prometia ter aderido às ideias de
mudanças, tendo no seu bojo a questão moral, que nem chegou a se confirmar no
curso da campanha eleitoral, porque ela afirmou que o seu padrinho político
andou de casa em casa, pedindo voto para ela, o que, nas circunstâncias,
parecia algo impossível de acontecer.
É bem possível que as pessoas sensatas e
conscientes do que seja realmente o sentido de mudar para melhor estão
abismadas com a sinceridade da entrevista concedida pela prefeita eleita de
Uiraúna, onde fica patente que não importa para ela o emprego do expediente
visivelmente nada republicado para a obtenção da vitória, que, fora de dúvidas,
foi legítima, à vista da ausência de fraude processual, porém com esse senão,
que não condiz com a melhor ética, à vista da promessa de mudança dos costumes
da política uiraunense, que não tinha precisa observância com o zelo sobre o
conceito de lisura, em todos os sentidos, fato esse que não se pode dizer que
foi devidamente observado, diante da confirmação das infelizes circunstâncias.
Fica claro que os fins justificam os meios para se
alcançar a dita liberdade de Uiraúna, inclusive se associar à pessoa sob
investigação pela prática de ato condenável, recebendo dele o apoio e quiçá a
chave da vitória, porque ele foi pedir voto para ela nas casas, quando seria
muito mais honroso para ela se tivesse perdido o pleito e com a consciência
tranquila de ter agido em estrita observância aos princípios da ética e da
moralidade.
Seria muito mais honrosa se afirmar em entrevista,
com a alma lavada, que recusou apoio que a levaria ao trono do Executivo,
porque isso sim se coadunaria com o espírito de verdadeira mudança e se
harmonizaria com a honra da palavra dada não somente aos eleitores, mas à
sociedade que tanto aspira por sinceridade e sentimento de coerência.
O pouco que se entende por ética e moralidade, a
questionada ajuda visava sim a defesa de interesse não confessado, quando foi
feito o apelo para não se fechar a unidade de saúde pertencente ao político,
porque, no amplo sentido de honestidade, esse assunto jamais poderia ser objeto
de ventilação nas muitas conversas entre ele e as pessoas do relacionamento da
então candidata, inclusive familiares, o que só potencializa o grau de
promiscuidade, à vista da possibilidade de outros assuntos também terem sido
tratados do interesse do político.
A ilação que se pode ter, diante dessa lamentável e
incrível ajuda, é que, caso haja a constatação de possível irregularidade na
casa de saúde dele, nada poderá, a princípio, ser feito pela futura prefeita,
diante da aceitação do contrato tácito de apoio dele e do pedido de não
fechamento da clínica, porque isso se tornou realidade compromissada entre
ambos os lados, no sentido de que ele a ajudaria na eleição, como o fez de
maneira efetiva, e ela ficaria na obrigação de não mexer na clínica dele, que
não prometeu, mas é o mesmo quando ele virou cabo eleitoral dela, com o seu
pleno conhecimento, tanto que disponibilizou um segurança para protegê-lo .
A ideia natural que se tem é a de que, se a clínica
vem funcionando regularmente, observadas as exigências legais, não haveria
necessidade alguma de tão estranho pedido e muito menos o político precisaria
se expor ao perigo que corria sob o risco de ameaças contra a vida dele,
conforme dito pela prefeita eleita, que disse que seu filho o acompanhava para
protegê-lo.
É preciso ficar claro que uma coisa é o político
resolver apoiá-la, dando livremente o seu voto e mais nada, e a outra coisa é
ela declarar que ele só queria ajuda para não fechar a clínica em questão, fato
este que não se harmoniza em nada com o sentimento das promessas de mudanças,
quando a candidata resolve se aliar justamente com o cacique e padroeiro da
velha política, que agia como o comandante do grupo da dominação, objeto das
prometidas mudanças por ela, com a aceitação pacífica do apoio dele, mesmo
consciente sobre a decadência moral dele, que, queira ou não, será explorado
principalmente por ele, que vai dizer sim, de peito aberto, que ele é um dos
responsáveis pela vitória da prefeita eleita e ela só consegue aplaudi-lo, pelo
grande benefício prestado por ele à campanha dela.
A lição natural que se pode tirar de tudo isso é a
de inconciliável e incompreensível incoerência, na certeza de que, na teoria,
se prometem revolucionárias mudanças, mas, na prática, é para ficar tudo
exatamente no mesmo, à vista desse injustificável e inaceitável apoio político
da maior importância para a vitória da oposição, que só tem motivos para se
vangloriar, mesmo diante de fato tão medonho, à vista dos princípios da
moralidade e da dignidade que precisam imperar na política.
Ou seja, qual seria mesmo a compreensão do
prometido sentido de mudanças, em concomitância à aceitação e à acomodação de
procedimentos recrimináveis e inaceitáveis, sob a visão absolutamente isenta,
uma vez que o acontecido pode ser considerado normal no seio dos envolvidos?
Espero que a minha modesta interpretação sobre os
fatos em pauta possa servir para reflexão pelos doutos interessados, deixando
patenteada a minha melhor pretensão de que a gestão da prefeita eleita de
Uiraúna seja a promissora e desenvolvimentista de todos os tempos.
Brasília,
em 18 de novembro de 2020
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