quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Grande tragédia humanitária

 

Os Estados Unidos da América, que são os líderes mundialmente da economia, demonstraram deficiências na administração da pandemia, em que pese a sua gigantesca rede de comunicação e tecnologia, pesquisa e estrutura biomédicas e científicas avançadas, conseguir liderar em infecções e mortalidade superiores aos países de modesta economia.

Não há dúvida de que isso evidencia que a potência mundial fracassou quanto às estratégias de combate contra a pandemia do novo coronavírus, conforme foi afirmado pelo importante New England Journal of Medicine (NEJM), que disse, em estreita síntese, em seu editorial intitulado “Morrendo em um Vácuo de Liderança: Eles assumiram uma crise e a transformaram numa tragédia.”.

Para patentear a força dessa afirmação, em 208 anos da bastante celebrada e respeitada publicação de medicina do mundo, o referido editorial foi apenas o 4º assinado por todos os editores, no total de 34, cujo conteúdo tem o peso de duras críticas, pela primeira vez, ao governo norte-americano.

O aludido editorial disse, obviamente em alusão ao governo norte-americano, que “O governo federal abandonou vastamente o controle da doença aos Estados. Os governadores variaram em suas respostas, não tanto em razão de seus partidos, mas de sua competência. Mas seja qual for sua competência, os governadores não têm as ferramentas que Washington controla. Ao invés de utilizar essas ferramentas, o governo federal as minou.”.

A verdade é que os EUA, com notório e avantajado poderio da infraestrutura biomédica e industrial, fracassaram no combate à pandemia em causa, à vista das evidências, quanto ao provimento de instrumentos capazes de proteger, de maneira segura, a população e as pessoas à frente do tratamento dos infetados, deixando, em especial, de promover testes em massa, a exemplo do que fizeram alguns países com maior nível de prevenção, tendo, com isso, conseguido evitar maiores danos à população.

No país onde surgiu o vírus, a China, por exemplo, foram adotadas, em adequado tempo, consistentes medidas de isolamento social, como forma de contenção do surto, no seu nascedouro, tendo conseguido taxa de mortalidade, pelo Covid-19, de 3 pessoas para cada milhão, enquanto, nos EUA, essa taxa ficou na metade, ou seja, em 3 pessoas por 500 mil.  

À exceção às referências aos recursos financeiros e tecnológicos, o que são naturais, os termos do supracitado editorial poderiam perfeitamente ser aplicáveis à situação do Brasil, ante à similitude de exatos diagnósticos protocolados em ambos os países.

Nos dois países, a adoção das medidas de isolamento aconteceu tardiamente, tanto em inconsistência como pela deficiência de fiscalização, sendo observado que muitas pessoas ainda preferem não usar máscaras, conquanto que há lideranças que alardeiam que elas são meios de controle político e ineficazes para reduzir o contágio do vírus.

O grau de desperdícios da eficiência no combate à pandemia diz até mesmo no emprego de pessoas despreparadas para o enfrentamento do mal, a exemplo do próprio ministro da Saúde brasileiro, que confessou, até ingenuamente, que até antes de ingressar no ministério: “não sabia nem o que era o Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Isso bem demonstra, com muita precisão, a maneira atabalhoada como o governo brasileiro resolveu tratar da pandemia do novo coronavírus, cujo ministro tem conhecimento sobre saúde pública tanto quanto o presidente do país disse que não entende de economia e, de resto, muito pouco.  

Nos Estados Unidos e no Brasil, as principais instituições que tratam diretamente de saúde pública, como o National Institute of Health ou a Food and Drug Administration e o Sistema Único de Saúde – SUS, foram excluídas de decisões cruciais e importantes, em desprezo às suas experiências e informações acumuladas, ficando muito evidente que isso foi prejudicial ao combate à pandemia..

Diante do clamoroso quadro de contaminados e milhares de mortes, há sim como avaliar que se trata da maior crise da saúde pública brasileira, de todos os tempos, onde resultaram importantes lições de que as lideranças políticas conseguiram atrair para si o foco dos fatos pertinentes ao combate à crise, tendo imprimido nos seus anais a perigosa e destrutiva marca da incompetência e da irresponsabilidade, notadamente por força de sentimentos pessoais, com desprezo às práxis da ciência e da tecnologia, que deveriam, sobretudo, em situações emergenciais e cruciais, como nesse caso especial da pandemia do novo coronavírus, ser mais cautelosos, competentes e diligentes quanto aos seus atos e decisões.

Como forma de honrar a memória de milhares de mortos, onde muitos dos quais poderiam estar vivos, conviria que o desperdício de vidas, em especial, tivesse como motivação a imperiosa necessidade de consequências legais, por meio de apurações que pudessem aquilatar o grau da responsabilidade das lideranças, dos homens públicos que tenham contribuído, direta ou indiretamente, para essa alarmante tragédia da humanidade, eis que as lições da pandemia são muito claras, em que ficaram impregnados em atos a truculência contra os princípios da racionalidade e do bom senso, diante da ausência de medidas prudenciais que poderiam minimizar o desastre de muitas mortes.

          Brasília, em 5 de novembro de 2020

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