Embora ainda não esteja pedindo para as pessoas
votarem no número 13, o ex-presidente da República petista já mergulhou de
corpo e alma na campanha para voltar ao Planalto do Planalto, no próximo ano, à
vista de sua caravana que se processa no Nordeste.
Como ainda não houve pedido de voto, ele deixa de
ser enquadrado, para fins de punição, na legislação eleitoral, em que pesem os
atos da citada caravana terem características de campanha eleitoral, jeito de
campanha eleitoral e o retrato de campanha eleitoral e isso ninguém pode
enganar.
O político, às vezes, desconversa para tirar o foco
do assunto, quando afirma que “ainda
falta muito tempo” para a eleição e “não
existe candidato”, porém a forma da caravana tem tudo para dizer, sem
subterfúgio, que as reais intenções são mesmo de campanha eleitoral antecipada,
que é condenável pela legislação eleitoral.
Não há a menor dúvida de que se trata de viagem com
a cara do disfarce, pintada do maior fingimento, para se dizer uma coisa, mas,
na verdade, trata-se de outra, exatamente como se pretende, para se aquilatar a
movimentação do povo com relação ao interesse do nordestino pelo o homem que se
diz a cara, o corpo e a alma do povo daquela região.
Não se pode dizer em português claro que se trata
realmente de campanha eleitoral, mas os comícios e os discursos não têm conotação
senão de autêntica campanha política, porque a linha do que vem sendo dito não
pode ser considerado de alguma forma senão de antecipação do pleito, inclusive
com o comparecimento aos palanques de políticos comprometidos com as
oligarquias regionais, aproveitando o ensejo para as juras de amizade eterna e
inabalável.
Exemplo marcante disse foi o encontro do político com
famoso senador alagoano do PMDB, onde foram declarados ardentes amores dos dois
à política e gratidão recíproca, deixando às margens das conversas o fato de o
senador ser réu no Supremo Tribunal Federal e ainda responder, pasmem, a 18
investigações na mesma Corte, sob suspeita da prática de corrupção, o que
mostra o retrato fiel da desmoralização política tupiniquim, com a negação
exatamente do que acontece nos países sérios, civilizados e evoluídos política
e democraticamente de apego aos salutares princípios da dignidade, legalidade,
moralidade, entre outros conceitos de idoneidade na vida pública.
O encontro entre os políticos serviu para criar
mal-estar até mesmo no âmbito do PT, porquanto o senador alagoano até pode ter trabalhado
no estrambótico fatiamento do julgamento que afastou do cargo a presidente
petista, mas ele votou pelo impeachment dela, o que o fez “golpista”, na concepção
dos petistas.
Em se tratando de conveniência política, não há
dúvida de que há os golpistas que não são tão desprezíveis e que não possam ser
compreendidos e até perdoados, nas palavras da presidente do partido, que
declarou: “Não podemos levar essas coisas
tão a ferro e fogo”.
Como a lição serve de exemplo, o político, que já
foi condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz da Lava-Jato, no
caso do tríplex do Guarujá, tem economizado críticas ao magistrado em seus
discursos, mas isso faz parte da estratégia política às vésperas do novo
depoimento do ex-presidente, agora com relação à compra de um terreno e de um
apartamento com dinheiro de propina da empreiteira Odebrecht, já que as
críticas abertas feitas por ele ao juiz, antes do depoimento de maio, não lhe renderam
bons frutos.
Não obstante, a força-tarefa da Lava-Jato não tem
sido poupada de críticas duríssimas, tendo sido responsabilizada pelo político até
pela morte da ex-primeira-dama, quando ele disse: “Esses meninos da Operação Lava-Jato têm responsabilidade com a morte
dela”, em que pese o político não ter tido o menor pudor de imputar à ex-esposa
a responsabilidade pelas decisões envolvendo o citado imóvel.
Também não passa de escrachada tentativa de
completa desmoralização o político se colocar à disposição para resolver não
somente as crises que grassam no país, que tiveram origem nas gestões petistas,
mas especialmente, pasmem, a crise criada pela Operação Lava-Jato, que, segundo
afirmações de líderes sindicais, em transe de extrema loucura, o combate à
corrupção prejudica a economia, por contribuir para aumentar o desemprego.
Não há dúvida de que o começo do governo petista
foi exitoso, por ter aproveitado a estabilidade propiciada pelo Plano Real, deixado
pelo governo tucano, ante a fidelidade ao tripé macroeconômico e às políticas
de seu antecessor, que respaldaram o crescimento do país, que ainda teve a ajuda
da forte demanda por commodities.
Não obstante, a implantação da “nova matriz
econômica”, nos anos finais do governo do petista e na gestão da sua sucessora,
o país entrou em total descontrole com a desenfreada e irresponsável gastança,
ao sabor das fraudes fiscais que culminaram na maior recessão da história do
país e nos quase 14 milhões de desempregados.
À luz dos acontecimentos altamente prejudiciais aos
interesses nacionais, o político, principalmente por ser partícipe na ruína da
economia e considerado o chefe da organização criminosa - no dizer dos
procuradores da Lava-Jato - que destruiu a Petrobras, seria, em princípio, a
pessoa menos indicada e confiável para assumir a tarefa de reconduzir o pais à
trilha do tão sonhado desenvolvimento socioeconômico, ante a premência de
mudança e até mesmo de revolução nas atividades político-administrativas.
O que não faltou na caravana foi discurso metendo o
malho na imprensa livre, tendo o político prometido que “Se por acaso um dia eu voltar a ser presidente da República, certamente
algumas coisas precisam acontecer”, fazendo referência ao que chamou de “jornalistas desonestos”, dando a
entender que ele pensa, como meta de governo, endurecer com a imprensa, como se
isso não tivesse o ranço da desgraça disseminada por governos ditatoriais, abcecados
por colocação de ferrolhos na imprensa livre e independente.
Também houve exacerbado apelo às decantadas
expressões “nós contra eles”, em que
“a elite” não suporta o político, sob
o argumento bisonho: “porque o pobre
passou a ocupar aeroporto, frequentar shopping. Ele deixou de comer acém para
comer filé, contrafilé; porque deixou de comer pescoço e pé para comer coxa,
sobrecoxa e peito de frango. Os pobres começaram a comprar computador, laptop”,
em verdadeiro contraste segundo o qual algum empresário, que integra a elite, fosse
contrário às compras de seus produtos, fato que simplesmente demonstra
verdadeiro contrassenso, por não corresponder exatamente ao sentido normal dos
fatos.
Esperava-se que o político aproveitasse a sua caravana,
com as características próprias de campanha eleitoral antecipada, para mostrar
aos nordestinos outra imagem de homem público que tivesse aprendido bastante
com as lições proferidas em razão dos levantamentos da Operação Lava-Jato, a
mostrar comportamento muito mais condizente com a realidade dos fatos,
principalmente que ele pudesse compreender que os integrantes da força-tarefa
daquela operação têm o dever constitucional e legal de apurar os fatos denunciados
no âmbito da sua jurisdição, cabendo a ele o direto da ampla defesa e do
contraditório, com o devido amparo no ordenamento jurídico do país, como forma
de contrapor às provas juntadas aos autos, com embargo das agressões, ameaças e
outras não civilizadas medidas que não contribuem para o salutar desfecho das
demandas judiciais. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 3 de setembro de 2017
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