sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Pagina virada da história

Transcorrido um ano do impeachment, a ex-presidente da República petista é tratada pelo partido como peso morto e alas majoritárias da agremiação gostariam que ela fosse vista simplesmente como página a ser virada e esquecida.
Embora, por conveniência política, ainda haja tênue discurso oficial sobre a martirização dela, de modo a possibilitar apoio velado à ex-presidente, setores petistas mais radicais a consideram culpada pela ruína do partido e ameaça à volta do líder-mor ao comando do país.
Como que defendendo o império da corrupção na administração pública, aqueles setores consideram que a falta de controle dela sobre a Polícia Federal - e não os casos de corrupção envolvendo integrantes da legenda - resultou na Operação Lava-Jato, no impeachment e na disseminação do sentimento antipetista, dando a entender que a omissão dela contribuiu não somente para o combate à corrupção e à impunidade e o desastre aos projetos de absoluta dominação das classes política e social e a perenidade no poder e isso é tido realmente como o fim da linha para o partido que antes defendia, com rigor, a ética na política.
Os mesmos setores entendem que as maiores dificuldades para o retorno do todo-poderoso ao Palácio do Planalto são reverter o entendimento segundo o qual os erros da ex-presidente deram origem à crise econômica e recompor a aliança de centro-esquerda, desordenada e destruída no processo de impeachment.
          O Partido dos Trabalhadores não sabe o que fazer com a presidente cassada, que, na atualidade, ocupa a presidência, praticamente de forma figurativa, do conselho curador da Fundação Perseu Abramo, bem distante do núcleo do poder e das decisões da agremiação.
A presidente nacional do partido, a propósito dos planos eleitorais da presidente cassada, esclareceu que “Ela disse que não tem nada decidido. Mas, se decidir se candidatar, vai ter muito voto”, tendo acrescentado que “Dilma é a grande liderança que encarna a injustiça contra o PT”.
Não obstante, a opinião da presidente do partido pode não refletir exatamente o sentimento que prevalece em setores relevantes da máquina partidária, por haver forte divergência quanto ao peso político da ex-presidente, havendo até o entendimento de que, se ela não conseguir se eleger na disputa para o Senado Federal, pelo Rio Grande do Sul ou pelo Rio Janeiro, isso poderá causar mais desgaste ao PT, porque ela tiraria a vaga de um senador petista, mas o partido pensa em aceitar a candidatura dela a deputado federal, que teria maior chance de vitória.
Antes, as críticas eram disfarçadas, mas agora elas são transparentes e estão partindo até mesmo do principal líder do partido, que reconheceu falhas praticadas na gestão da ex-presidente, principalmente na condução da política e da economia, tendo reconhecido que ela poderia ter decidido não se candidatar à reeleição, o que teria evitado o desastre que marcou o fim melancólico dos projetos petistas.
Importante petista do Rio de Janeiro declarou que, com a chegada da presidente cassada ao Palácio do Planalto, “uma arrogância desmedida tomou conta do centro de decisões”.
Alheia aos fatos da política, a ex-presidente já disse que não tem mais vontade de voltar a morar em Brasília, ao ter que ficar presa a mandato e ainda ter que conviver com políticos que ela considera traidores e seus algozes.
Ela disse que prefere se engajar às viagens internacionais, nas quais é possível denunciar o que os petistas convencionaram de “golpe” o impeachment dela, além de poder ter contato e conviver com intelectuais e artistas. Logo no início de setembro, a petista tem agenda de viagem para a Europa, com passagem em vários países, tendo a finalidade de “denunciar” o impeachment e de defender o direito de o seu padrinho político voltar a disputar a próxima eleição presidencial. 
Na verdade em síntese, os fatos mostram que a participação da ex-presidente não foi somente prejudicial ao seu partido, que perdeu credibilidade e importância no contexto político-partidário nacional, conforme mostram os resultados das urnas abertas no último pleito municipal, quando a sua sigla sofreu fragorosa surra, com a perda expressiva de prefeituras, inclusive nos seus redutos históricos, mas principalmente para o país, consistente na recessão econômica, na elevação da taxa de desemprego, nos juros altos, na inflação de dois dígitos, na desindustrialização, na falta de consumo, na desconfiança do mercado, com a perda do grau de investimento do Brasil, na queda da arrecadação, nos rombos das contas públicas, na falta de investimentos público e privado, entre tantas outras precariedades que contribuíram para conduzir o país ao abismo e ao breu do desenvolvimento.
Os brasileiros esperam e confiam que a ex-presidente seja realmente página virada na história do Brasil, como assim também querem muitos petistas, como forma da prestação de relevante contribuição aos interesses nacionais e como garantia de que novas tragédias quanto aos princípios da competência, eficiência, responsabilidade pública, entre outras formas saudáveis de gestão pública, não voltem a reincidir sobre os destinos dos brasileiros, que anseiam por completa revolução na forma de administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 1º de setembro de 2017

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