Transcorrido um ano do impeachment, a ex-presidente
da República petista é tratada pelo partido como peso morto e alas majoritárias
da agremiação gostariam que ela fosse vista simplesmente como página a ser
virada e esquecida.
Embora, por conveniência política, ainda haja tênue
discurso oficial sobre a martirização dela, de modo a possibilitar apoio velado
à ex-presidente, setores petistas mais radicais a consideram culpada pela ruína
do partido e ameaça à volta do líder-mor ao comando do país.
Como que defendendo o império da corrupção na
administração pública, aqueles setores consideram que a falta de controle dela
sobre a Polícia Federal - e não os casos de corrupção envolvendo integrantes da
legenda - resultou na Operação Lava-Jato, no impeachment e na disseminação do
sentimento antipetista, dando a entender que a omissão dela contribuiu não
somente para o combate à corrupção e à impunidade e o desastre aos projetos de
absoluta dominação das classes política e social e a perenidade no poder e isso
é tido realmente como o fim da linha para o partido que antes defendia, com
rigor, a ética na política.
Os mesmos setores entendem que as maiores
dificuldades para o retorno do todo-poderoso ao Palácio do Planalto são
reverter o entendimento segundo o qual os erros da ex-presidente deram origem à
crise econômica e recompor a aliança de centro-esquerda, desordenada e destruída
no processo de impeachment.
O Partido dos
Trabalhadores não sabe o que fazer com a presidente cassada, que, na
atualidade, ocupa a presidência, praticamente de forma figurativa, do conselho
curador da Fundação Perseu Abramo, bem distante do núcleo do poder e das
decisões da agremiação.
A
presidente nacional do partido, a propósito dos planos eleitorais da presidente
cassada, esclareceu que “Ela disse que
não tem nada decidido. Mas, se decidir se candidatar, vai ter muito voto”,
tendo acrescentado que “Dilma é a grande
liderança que encarna a injustiça contra o PT”.
Não
obstante, a opinião da presidente do partido pode não refletir exatamente o
sentimento que prevalece em setores relevantes da máquina partidária, por haver
forte divergência quanto ao peso político da ex-presidente, havendo até o
entendimento de que, se ela não conseguir se eleger na disputa para o Senado Federal,
pelo Rio Grande do Sul ou pelo Rio Janeiro, isso poderá causar mais desgaste ao
PT, porque ela tiraria a vaga de um senador petista, mas o partido pensa em aceitar
a candidatura dela a deputado federal, que teria maior chance de vitória.
Antes,
as críticas eram disfarçadas, mas agora elas são transparentes e estão partindo
até mesmo do principal líder do partido, que reconheceu falhas praticadas na
gestão da ex-presidente, principalmente na condução da política e da economia,
tendo reconhecido que ela poderia ter decidido não se candidatar à reeleição, o
que teria evitado o desastre que marcou o fim melancólico dos projetos petistas.
Importante
petista do Rio de Janeiro declarou que, com a chegada da presidente cassada ao Palácio
do Planalto, “uma arrogância desmedida
tomou conta do centro de decisões”.
Alheia
aos fatos da política, a ex-presidente já disse que não tem mais vontade de
voltar a morar em Brasília, ao ter que ficar presa a mandato e ainda ter que
conviver com políticos que ela considera traidores e seus algozes.
Ela
disse que prefere se engajar às viagens internacionais, nas quais é possível denunciar
o que os petistas convencionaram de “golpe” o impeachment dela, além de poder
ter contato e conviver com intelectuais e artistas. Logo no início de setembro,
a petista tem agenda de viagem para a Europa, com passagem em vários países,
tendo a finalidade de “denunciar” o impeachment e de defender o direito de o
seu padrinho político voltar a disputar a próxima eleição presidencial.
Na
verdade em síntese, os fatos mostram que a participação da ex-presidente não
foi somente prejudicial ao seu partido, que perdeu credibilidade e importância
no contexto político-partidário nacional, conforme mostram os resultados das urnas
abertas no último pleito municipal, quando a sua sigla sofreu fragorosa surra,
com a perda expressiva de prefeituras, inclusive nos seus redutos históricos,
mas principalmente para o país, consistente na recessão econômica, na elevação
da taxa de desemprego, nos juros altos, na inflação de dois dígitos, na
desindustrialização, na falta de consumo, na desconfiança do mercado, com a
perda do grau de investimento do Brasil, na queda da arrecadação, nos rombos
das contas públicas, na falta de investimentos público e privado, entre tantas
outras precariedades que contribuíram para conduzir o país ao abismo e ao breu
do desenvolvimento.
Os
brasileiros esperam e confiam que a ex-presidente seja realmente página virada
na história do Brasil, como assim também querem muitos petistas, como forma da
prestação de relevante contribuição aos interesses nacionais e como garantia de
que novas tragédias quanto aos princípios da competência, eficiência, responsabilidade
pública, entre outras formas saudáveis de gestão pública, não voltem a reincidir
sobre os destinos dos brasileiros, que anseiam por completa revolução na forma
de administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de setembro de 2017
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