quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Boicotar como solução?

Um experiente articulista disse, a propósito dos últimos acontecimentos envolvendo importantes políticos, que “O Partido dos Trabalhadores está tonto. A tonteira cresce à medida que aumentam as chances de Lula se tornar um político ficha-suja, inabilitado para disputar eleições. O PT ameaça adotar uma estratégia muito parecida com um plano de fuga. O partido discute a sério a ideia de boicotar as eleições de 2018. Sem Lula, o PT deixaria de lançar candidatos ao Planalto, à Câmara e ao Senado. E viajaria pelo mundo gritando: ‘É fraude.’”.
O jornalista aduziu que “O preso José Dirceu, ‘guerreiro do povo brasileiro’, apoia o boicote. A investigada Gleise Hoffmann, presidente do PT, acha que o debate expõe a gravidade da hipotética perseguição a Lula. José Américo, deputado estadual do PT de São Paulo, chega a dizer que, sem Lula na urna eleitoral, o país corre ‘um risco de guerra civil.’.  Dizia-se o mesmo do impeachment. Mas a única arma que o brasileiro pegou foi o currículo —13 milhões estão na batalha pelo emprego perdido sob Dilma.”.
          Arrematando as impressões sobre o Partido dos Trabalhadores, o jornalista disse que, “Em 13 anos, o PT produziu dois megaescândalos. No mensalão, Lula safou-se. No petrolão, até o companheiro Palocci o chama de corrupto. Os partidos políticos brasileiros têm cabeças demais e miolos de menos. O PT sofre da mesma escassez de miolos, mas com uma cabeça só. O que o PT informa agora, com outras palavras, é o seguinte: se o cabeça for preso, a organização desistirá de se apresentar como partido político para se refundar como uma piada.”.
As últimas eleições para prefeito municipal e vereador já mostraram o verdadeiro perfil do desempenho do PT, quando o eleitor o avaliou e deixou seu recado muito claro nas urnas, no sentido de que a sua simpatia pelos candidatos do partido tinha chegado ao limite da tolerância e a consequência disso foi que a capacidade eleitoral do partido reduziu-se para apenas um terço, em relação ao pleito anterior, o que demonstra o brusco e expressivo emagrecimento do seu poder de voto, certamente em reação aos fatos degenerativos dos princípios da administração pública, atribuídos ao partido.
É muito provável que isso se explique, principalmente, pelo envolvimento de suas lideranças em escabrosos casos de corrupção, em que pese todos negarem a prática de qualquer ilicitude ou ilegalidade, sob a justificativa de que os recursos recebidos nas campanhas eleitorais foram contabilmente registrados e a Justiça Eleitoral teria chancelado a sua regularidade, reconhecendo a legitimidade nas prestações de contas dos recursos recebidos, embora todos de origem fraudulenta, por terem vindo do desvio de contratos com preços superfaturados, entre outras irregularidades contrárias aos princípios republicanos.
É bem possível que, na atualidade, a população tenha mais capacidade para avaliar o real desempenho dos governos petistas, principalmente sob a égide e a centralização do populismo, em detrimento das demais políticas essenciais ao desenvolvimento nacional, que ficaram em planos secundários, acarretando enormes prejuízos para a nação e os brasileiros em geral, diante da priorização de distribuição de renda para parcela diminuta do povo, que também padeceu com as dificuldades na prestação dos serviços públicos de péssima qualidade.
Parece evidente que as crises contribuíram para o descrédito sobre o partido, em especial no que se refere à economia, de modo que o julgamento dos governos petistas precisa envolver os resultados obtidos nos seus quase 14 anos, em que houve crescimento econômico, no primeiro momento, mas o seu declínio foi visível, na sua pior fase, quando a presidente foi afastada, no embalo da crise aguda das investigações sobre fatos suspeitos de irregulares, que continuam pendentes de esclarecimentos e justificativas por parte de seus principais envolvidos, que apenas juram que são inocentes, mas não conseguem provar absolutamente nada nesse sentido.  
No momento, em termos eleitorais, tudo indica que a situação do partido somente piora, diante do indiscutível e acelerado descolamento do PT, a exemplo da recente delação do ex-ministro da Fazenda contra o até então seu respeitável chefe, o entregando como sendo o criminoso que havia faturado fortuna em conluio com a empreiteira Odebrecht, que soa como mentira para o partido, que somente aceita delação como válida quando ela trata da inclusão de inimigos, aceitando que aí que o delator fala verdades e merece credibilidade, mesmo que nem apresentem provas.
          Há que se compreender que a trágica era PT deixou rastros de muita destruição no país, notadamente com a economia em frangalhos, por consequência dos rombos nas contas públicas, que foram acalentados por toda espécie de infortúnios, a exemplo da recessão econômica, com o enorme peso da desindustrialização; da inflação em dois dígitos; do endividamento público beirando os quatro trilhões de reais; do desemprego superando os 13 milhões de pessoas; da redução da arrecadação; da falta de investimentos públicos; e de todas as mazelas que levaram as agências de avaliação de risco a baixarem o grau de investimento do Brasil, diante do descrédito dos investidores, implicando na retirada de capitais do país, entre tantas precariedades que foram creditadas à incompetência do governo petista, principalmente da presidente que foi afastada por crime de responsabilidade fiscal.  
Na realidade, se as informações do jornalista tiverem fundo de verdade, a estratégia do partido não seria propriamente boicote, na forma clássica, às eleições, para demonstrar alguma forma de insatisfação com o sistema vigente, mas sim o reconhecimento de que seus quadros estão desgastados e desmoralizados, à míngua dos devidos esclarecimentos e justificativas sobre os fatos delituosos, diante dos acontecimentos que revelam nítida degeneração dos princípios da administração pública, em absoluta dissonância com os conceitos de decência, moralidade, transparência, legalidade, dignidade, entre outros que devem imperar nas atividades político-partidárias, em contribuição à salutar governança de responsabilidade, correção e harmonia com a consecução do bem comum e do interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de setembro de 2017

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