terça-feira, 19 de setembro de 2017

Indesejado clima político?

Diante das repercussões negativas causadas pela manifestação de um general da ativa, o ministro da Defesa pediu explicações ao comandante do Exército acerca do episódio.
Na declaração do oficial general, consta exaltação à possibilidade de intervenção militar diante da crise enfrentada pelo país, caso a situação não seja resolvida pelas próprias instituições da República.
Ao que se sabe, o Exército procura contornar a situação na base da conversa de alto nível com o general, que tem forte liderança na corporação e goza dos melhores respeito e prestígio por parte da tropa.
Por meio de nota, o ministro da Defesa afirmou que também orientou o comandante do Exército, sem mencionar as medidas, “quanto às providências a serem tomadas” com relação ao caso.
Ao tomar conhecimento das colocações do general, o ministro da Defesa relatou o fato ao presidente do país e avisou que deixou que o comandante do Exército conduzisse o caso da melhor maneira possível.
Na maior tranquilidade, o comandante do Exército garantiu ter ouvido as explicações do general e assegurou que a questão já estava “superada”.
Nos termos do Regulamento Disciplinar do Exército, o general pode ser punido por dar declarações de cunho político, sem autorização de seu superior hierárquico, mas a atitude do comandante do Exército foi interpretada como tentativa de pôr panos quentes no caso, cuja solução pode não ter sido do agrado do ministro da Defesa, que certamente esperava manifestação no sentido de que essa forma de declaração não pode ser tolerada.
É até possível que, diante da visível pressão política, o general possa ser afastado da sua função, como medida paliativa, para que seu gesto não sirva de “incentivo” a outras manifestações semelhantes.
À toda evidência, o caso é bastante delicado, a exigir exame mais acurado e prudente, uma vez que há interpretação mais inteligente segundo a qual qualquer punição ao general poderia implicar o sentimento de solidariedade muito comum nas Forças Armadas, o que poderia se criar indesejado clima político considerado “desnecessário”, nas circunstâncias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O que o general falou nada mais foi do que transmitir o sentimento dele e de muitos brasileiros honrados e dignos, civis e militares, que estão insatisfeitos com os rumos tomados por aqueles que são responsáveis pela administração suprema da nação, como se ela fosse uma ilha completamente cercada e dominada por gatunos da pior espécie, que ainda tramam para que seus crimes fiquem impunes e as chagas da corrupção permaneçam no total esquecimento, mas sem antes destilarem o sabor amargo da vingança e da retaliação com medidas ameaçadoras e punitivas àqueles que trabalham nas investigações e no julgamento dos casos considerados irregulares, em demonstração de que aqueles que ousaram aplicar, com a devida correção, o ordenamento jurídico contra a poderosa casta do colarinho branco precisam aprender que, no país tupiniquim, o crime compensa e eles precisam aprender que o poder da corrupção é absoluto e inatingível.
É até possível que o general tenha se precipitado em antecipar o sentimento daqueles que aspiram a moralização do país, que certamente contam com o apoio de parcela expressiva da população, que não suporta mais ver prevalecer a disseminação da vontade maligna de muitos políticos que roubaram, não assumiram seus erros e ainda pretendem se passar por homens públicos honestos e perseguidos pelos agentes públicos incumbidos de investigar e julgar os casos inquinados de irregulares, como se eles fossem os reais culpados pela situação de degeneração e precariedade impingida à nação com a pujança como o Brasil.
Pode ter havido assim precipitação por parte do general, que se impacientou com a morosidade como a Justiça age contra as organizações criminosas que, além de dilapidarem os cofres públicos, ainda se mantêm tramando no poder ou na sua periferia, com a finalidade de reconquistá-lo, como forma de continuar se beneficiando das maravilhosas oportunidades de satisfação de seus projetos políticos de absoluta dominação das classes política e social e de perenidade no poder, com a certeza de que as lideranças e seus apoiadores e defensores hão de merecer as devidas recompensas, por meio de cargos públicos e outras benesses próprias do patrimonialismo que tem sido generoso em sustentar quadrilhas organizadas, no dizer do Ministério Público Federal, em sacrifício dos contribuintes, já lesados pela imposição de pesada carga tributária, que é considerada uma das maiores do mundo, tendo como contrapartida a prestação de sofríveis e precários serviços públicos, completamente incompatíveis com as condições normais a que fazem jus os brasileiros.
Ao invés de pensar em punição para o general, que disse o que pensa, tanto ele como parcela significativa dos brasileiros, em absoluta harmonia com o Estado Democrático de Direito existente em país ainda sem censura e livre para a manifestação de expressão e pensamento, as autoridades incumbidos da defesa nacional precisam se preocupar, antes de tudo e de forma efetiva, com o que se deixou de ser feito para o país se encontrar mergulhado nesse mar pútrido de corrupção e de impunidade, devendo agir, isto sim, com os maiores esforço e celeridade possíveis, para que as ideias monstruosas de intimidação às forças que trabalham pela moralização da administração pública sejam tolhidas na sua origem e os culpados e envolvidos com a corrupção possam, o quanto antes, ser condenados por deus crimes e pagar por seus gravíssimos erros, sem a menor necessidade da intervenção preconizada para o saneamento de questões extremamente graves e prejudiciais aos interesses nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de setembro de 2017

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