A denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da
República contra os ex-presidentes da República petistas e um ex-ministro da
Casa Civil da presidente afastada, por obstrução aos trabalhos da Operação Lava-Jato
será examinada pela primeira instância, uma vez que os envolvidos não têm foro
privilegiado.
A referida denúncia se refere à nomeação do
ex-presidente como ministro da Casa Civil da Presidência da República, que foi
considerada pela Procuradoria Geral da República intenção de barrar o avanço da
Operação Lava-Jato sobre o petista, uma vez que a efetivação do ato garantiria
ao titular daquele órgão a prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal,
cujo ato foi interrompido por força de liminar concedida por um ministro do Supremo.
Também consta da denúncia uma segunda linha de
investigação, envolvendo troca de informações sigilosas sobre as investigações
entre a então presidente do país e a empresária mulher do marqueteiro do
partido, por meio de "contas de
correio eletrônico clandestinas", entre os anos de 2015 e 2016.
Neste ponto, a delação da mulher do marqueteiro
teve por base documentos que foram apresentados por ela.
Por sua vez, a denúncia relacionada com o
ex-ministro da Casa Civil, a Procuradoria Geral da República o acusa de ter
dado apoio político, jurídico e financeiro ao então senador e ex-líder do
governo no Senado Federal, no final de 2015, com vistas a se evitar que ele
celebrasse acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato.
Dias antes, o procurador-geral da República havia denunciado
os ex-presidentes petistas e outras seis pessoas por formação de organização
criminosa enquanto o PT ocupou a Presidência da República - no âmbito de outro
inquérito que tramita no Supremo, tendo concluído que há interconexão entre os
fatos das duas denúncias.
A assessoria da ex-presidente petista reiterou que
é "espantoso que a nova denúncia se
baseie em provas ilegais e nulas, fruto de reconhecida situação abusiva em que
conversas da presidenta eleita Dilma Rousseff foram indevidamente interceptadas,
divulgadas e descontextualizadas na interpretação do seu real conteúdo".
A assessoria do ex-ministro da Casa Civil reforçou o
entendimento de "plena convicção"
de que terá "a oportunidade de
novamente comprovar que não houve qualquer tentativa de obstrução de justiça
com a consequente absolvição definitiva".
Já a defesa do ex-presidente afirmou que "Essa é mais uma acusação absurda formulada
contra o ex-Presidente Lula, pois pretende transformar em crime sua nomeação
para o cargo de Ministro de Estado com o preenchimento de todos os requisitos
previstos na Constituição Federal. O caráter abusivo da iniciativa do procurador-geral
da República fica ainda mais claro diante de recente decisão proferida pelo ministro
Celso de Mello, do STF, que reconheceu a legitimidade do ato de nomeação em
situação muito similar àquela envolvendo Lula”.
Trata-se da mais evidente tentativa de obstrução à
Justiça, quando o ex-presidente estava em vias de ser preso pela força-tarefa
da Operação Lava-Jato, onde existia sugestão do Ministério Público no sentido
de prender o ex-presidente, que, às pressas, foi nomeado ministro da Casa
Civil, justamente para ele se livrar das garras do magistrado de Curitiba, uma
vez que o seu processo, depois disso, foi invocado pelo Supremo Tribunal
Federal, onde passaria apenas sob seus cuidados, porque os autos jamais foram
por ele examinados.
Não obstante, por força de liminar, evidentemente
reconhecendo o mecanismo da manobra engendrada intrapalácio, o mesmo Supremo
suspendeu a posse do ex-presidente, que nunca assumiu o cargo, tendo ficado
vago até o impeachment da então presidente do país.
A questionada nomeação foi considerada ilegítima
justamente porque ela teria acontecido exatamente diante dos rumores de que o
ex-presidente jamais teria aceitado ser ministro de Estado, mas somente decidiu
assumir a espinhosa função depois que se sentiu na iminência de ser trancafiado
e não ficava nada bem para um ex-mandatário da nação ser obrigado a ver o sol
quadrado, sendo preferível desempenhar cargo nobre da República.
Não há dúvida de que os dois ex-presidentes da
República petistas contribuíram para dificultar o trabalho da Justiça, por meio
de nomeação que, em condições normais, jamais teria acontecido, levando-se em
conta que a única obsessão do ex-presidente é mesmo retornar ao Palácio do
Planalto como titular do principal cargo de presidente da República e jamais
como mero ministro de Estado.
Essa assertiva se conforma agora com as
desesperadas tentativas da sua postulação à Presidência da República, em que pese
a pletora quantidade de processos tramitando na Justiça, contendo denúncias
acerca da prática de atos irregulares, dando conta do recebimento, por ele, de
dinheiro de propina, com origem em desvio de contratos celebrados pela
Petrobras, as quais precisam ser devidamente esclarecidas e justificadas, em
forma de prestação de contas à sociedade, antes mesmo de se pensar em concorrer
a cargo público eletivo, em consonância com o primado da idoneidade e da dignidade
ínsitas dos homens públicos de verdade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de setembro de 2017
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