sábado, 23 de setembro de 2017

Omissão é forma de mentira?

Logo após ter prestado depoimento ao juiz responsável pela Operação Lava-Jato, o maior político brasileiro participou de ato público no Centro da cidade de Curitiba (PR), onde, do alto de caminhão de som, foi aplaudido e ovacionado pela militância, que encheu a praça reservada para a manifestação política.
Em discurso, o político repetiu o mesmo e velho script já conhecido e repleto da costumeira retórica, tendo como mote o surrado argumento de ser inocente e alvo de manobras das “elites” para impedi-lo de ser candidato, no próximo ano.
Ele disse, de forma enfática, que “Eu tenho a vergonha na cara que eles nunca tiveram” e voltou a afirmar que não há provas que o incriminem, a par de repisar, de forma categórica que jamais “mentiria para o povo brasileiro”, antes preferindo a morte a isso.
Foi exatamente nestes termos que ele se manifestou: “Eu jamais mentiria pra vocês. Eu prefiro a morte a passar uma mentira ao povo brasileiro. Eu não sei quantos processos eu tenho. Mas quem tem a sede de Justiça que eu tenho, quem não morreu de fome até completar 5 anos de idade no Nordeste como eu, não tem medo de nada”.
O político pediu aos admiradores presentes para não se preocuparem com os interrogatórios feitos pelo juiz da Lava-Jato, porque “Virei a Curitiba prestar quantos depoimentos forem necessários. Eu não estou acima da lei, eu quero respeitar a Justiça brasileira, a Constituição... A única coisa que eu peço é que quem está me acusando tenha a dignidade de provar”.
Em conclusão, o ex-presidente disse que “Só quero que a operação Lava-Jato aqui de Curitiba e não o Ministério Público, porque é uma instituição que eu respeito, tenha a coragem de dizer: ‘nós não temos provas contra o Lula’.”.
Ao agradecer o apoio dos presentes, ele declarou que “Um Lula incomoda muita gente, mas um milhão de Lulinhas, como vocês, incomodam muito mais. Obrigado”.
Na verdade, a maior e expressiva mentira do homem público é não ter dignidade para assumir seus erros na vida pública, como no caso da roubalheira perpetrada na Petrobras, que foi aparelhada por pessoas da pior qualidade, exatamente por quem comandava o país, para desviar recursos públicos para partidos políticos, como demonstram as delações e os resultados das investigações, com a clara indicação que agremiações se beneficiaram do golpe aplicado à estatal, tendo à frente o PT, PMDB e PP, principais partidos participantes da aliança formada pela coalizão de governabilidade liderada por quem garante que não mente, mas não tem humildade para assumir os fatos que ocorreram justamente na sua gestão, como se não houvesse responsabilidade a ser assumida por quem tinha a atribuição de nomear os facínoras incumbidos de protagonizar o mais extraordinário rombo nos cofres da empresa estatal.
A mais significativa mentira que o homem público pode praticar é exatamente, na qualidade de responsável constitucionalmente pelo zelo, pela preservação e integridade do patrimônio público, mesmo que não tenha participado diretamente do desvio de recursos públicos, mas a omissão é suficiente para acusar a responsabilidade, exatamente na hora da prestação de contas sobre seus atos na vida pública.
A mentira deformada é se alegar que não sabe de nada, não viu nada e não tem qualquer responsabilidade pelos acontecimentos deletérios e prejudiciais aos interesses nacionais, quando se sabe que o presidente do país, nos termos do ordenamento jurídico pátrio, tem o dever supremo de adotar providências no sentido de apurar e investigar os fatos denunciados inquinados de irregulares, como forma de defender a integridade patrimonial dos brasileiros.
Ao contrário disso, o principal político, mesmo ainda no comando do país, nunca aceitou que houvesse sequer aquele mixuruca escândalo do mensalão, em comparação ao astronômico rombo deletério do petrolão, e, diante disso, nenhuma medida foi adotada por ele para apurar os fatos e punir os responsáveis por tais roubalheiras, mas se sabe que os envolvidos filiados ao partido são aplaudidos, em atos públicos, como “heróis do povo brasileiro”, salvo, por óbvio, aqueles que têm vergonha na cara e defendem a moralização na administração do país.
A maior mentira pode não ter sido proferida por meio de palavras, mas ela pode se manifestar perfeitamente por falta de atitudes altruístas e cívicas de agentes públicos, em demonstração da dignidade ínsita dos homens públicos, diante de fatos representativos dos interesses nacionais, à vista da insofismável omissão nos trágicos episódios retratados pelo mensalão e petrolão, cujos envolvidos teimam em negá-los, quando deveriam ter humildade e dignidade para assumir os fatos tais como eles realmente aconteceram, mesmo que isso se transforme em verdadeiro pesadelo político, que certamente é bem melhor e digno do que ficar tentando fugir da realidade dos fatos e ainda ser obrigado a carregar monstruosa mentira para o túmulo. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 23 de setembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário