quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Situação insustentável?

O depoimento do ex-ministro da Fazenda, além de ter sido surpreendente, tornou-se documento devastador para a defesa, a imagem e o futuro político de que tem sido todo-poderoso e ainda se considera montanha de honestidade, pelo menos até aquele momento memorável para a verdade, tão desprezada nas hostes de partido que já foi símbolo da “ética”.
Não se pode argumentar ou ao menos reclamar que o tsunami causado pelas revelações em tela tenha partido de alguém interessado em cometer perseguição contra o ex-presidente, como forma de se livrar da prisão, se valendo de colaboração à Justiça, uma vez que as informações vieram de companheiro e fiel escudeiro tanto do principal acusado como do partido onde ele atuou como pessoa de destaque e sempre foi considerada figura-chave nos governos do PT.
O ex-ministro declarou, de forma enfática e contundente, ao juiz da Lava-Jato que o ex-presidente fechou o que ele denominou de “pacto de sangue” com o dono da Odebrecht, a maior empreiteira do país, tendo afirmado que o "pacote de propinas" incluiria um terreno para o instituto do ex-presidente, as reformas no sítio de Atibaia e a reserva de R$ 300 milhões.
Ele garantiu que a relação "bastante intensa" da empreiteira com os governos petistas teve preço bem elevado, porque ela teria merecido a concessão de vantagens em troca de "benefícios pessoais" e doações de campanha, via "caixa um e caixa dois".
As aludidas revelações não poderiam ter sido tão devassadoras sobre os planos políticos do ex-presidente, quando ele vinha se preparando para substituir a figura de investigado pelo de pré-candidato à Presidência da República, mas o miraculoso plano estratégico pode ter tido vida curta, ante o estrago causado pela metralhadora giratória de seu mais espetacular escudeiro.
É verdade que as acusações vindas à baila carecem de comprovação, mas seus fortes fluidos negativos espargiram efeitos da maior melancolia e desânimo no seio do petismo, que não imaginava que um dos políticos mais respeitados, destacados e importantes da história do partido fosse capaz de aprontar tamanho desastre nos planos políticos não somente da agremiação como do seu maior líder.
A notória importância e influência do depoente na história do PT é medida e reconhecida pelo fato de ele ter idealizado e ajudado a elaborar a "Carta ao Povo Brasileiro", que embalou a campanha vitoriosa do petista de 2002, tendo pontificado como ministros da Fazenda (governo do ex-presidente) e da Casa Civil (governo da ex-presidente).
Não obstante, por ironia do destino, tempos atrás, o ex-presidente disse à Rádio Guaíba (R$) que não se preocupava com possível delação do aliado, tendo afirmado, ipsis litteris: "Palocci é meu companheiro há 30 anos. É um dos homens mais inteligentes deste país. E se ele resolver falar tudo o que sabe pode, sim, prejudicar muita gente. Mas não a mim".
Vê-se que o ex-presidente, de tanto assegurar que é o homem mais honesto da face da Terra, certamente confiando até mesmo na integridade de seus admiradores, desta feita o tiro saiu pela culatra e o atingiu em cheio, com as revelações mais poderosas que o seu pior inimigo jamais acreditaria que alguém da sua intimidade, da sua própria casa, pudesse ter tanta coragem para denunciá-lo com absoluta tranquilidade e segurança, a ponto de ter dito ao político que os casos de propina constituíam “fratura exposta” - citando a compra do terreno para a sede do Instituto Lula - e logo a situação se tornaria insustentável, como terminou acontecendo com o processo em curso na Justiça.
O cognominado “Italiano” foi responsável pela criação da aludida carta aos brasileiros, transformando, em passe de mágica, o político desacreditado pelos empresários e a elite, hoje desprezados por ele, em o “Lulinha Paz e Amor” e, em seguida, o presidente do Brasil.
Ele continuou dando bons frutos ao companheiro presidente, ao dar sequência à Política Econômica do seu antecessor, que permitiu credibilidade internacional e recuperação econômica, que o elevaram a ser considerado o "Pai dos Pobres", mas quis o destino que, agora, a tacada certeira na moleira do amigo pode ter sido vital para os planos políticos dele.
Ao alardear aos quatro cantos do mundo, com veemência inigualável, ser o homem mais honesto do planeta, reconhecendo ser superado apenas, pasmem, por Jesus Cristo, tanta a sua forte convicção, o maior político brasileiro vai precisar reunir montanhas de provas, elementos e argumentos jurídicos para tentar contestar as contundentes e mortíferas revelações proferidas por quem tem insuspeitável cabedal de conhecimento sobre as atividades praticadas pelo principal político do país, que, enfim, pode ter sido abatido por tiro amigo, em pleno voo na vida pública, obviamente para o bem da verdade e do Brasil, caso as acusações sejam confirmadas, em que pese ele ter direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório, para o fim de demonstrar a sua inocência com relação às graves e surpreendentes acusações vindas de, por óbvio, até então, amigo do peito. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 13 de setembro de 2017

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