O
depoimento do ex-ministro da Fazenda, além de ter sido surpreendente, tornou-se
documento devastador para a defesa, a imagem e o futuro político de que tem
sido todo-poderoso e ainda se considera montanha de honestidade, pelo menos até
aquele momento memorável para a verdade, tão desprezada nas hostes de partido
que já foi símbolo da “ética”.
Não
se pode argumentar ou ao menos reclamar que o tsunami causado pelas revelações
em tela tenha partido de alguém interessado em cometer perseguição contra o
ex-presidente, como forma de se livrar da prisão, se valendo de colaboração à
Justiça, uma vez que as informações vieram de companheiro e fiel escudeiro
tanto do principal acusado como do partido onde ele atuou como pessoa de
destaque e sempre foi considerada figura-chave nos governos do PT.
O
ex-ministro declarou, de forma enfática e contundente, ao juiz da Lava-Jato que
o ex-presidente fechou o que ele denominou de “pacto de sangue” com o dono da Odebrecht, a maior empreiteira do
país, tendo afirmado que o "pacote
de propinas" incluiria um terreno para o instituto do ex-presidente,
as reformas no sítio de Atibaia e a reserva de R$ 300 milhões.
Ele
garantiu que a relação "bastante
intensa" da empreiteira com os governos petistas teve preço bem
elevado, porque ela teria merecido a concessão de vantagens em troca de "benefícios pessoais" e doações de
campanha, via "caixa um e caixa dois".
As
aludidas revelações não poderiam ter sido tão devassadoras sobre os planos
políticos do ex-presidente, quando ele vinha se preparando para substituir a figura
de investigado pelo de pré-candidato à Presidência da República, mas o
miraculoso plano estratégico pode ter tido vida curta, ante o estrago causado
pela metralhadora giratória de seu mais espetacular escudeiro.
É
verdade que as acusações vindas à baila carecem de comprovação, mas seus fortes
fluidos negativos espargiram efeitos da maior melancolia e desânimo no seio do petismo,
que não imaginava que um dos políticos mais respeitados, destacados e
importantes da história do partido fosse capaz de aprontar tamanho desastre nos
planos políticos não somente da agremiação como do seu maior líder.
A
notória importância e influência do depoente na história do PT é medida e
reconhecida pelo fato de ele ter idealizado e ajudado a elaborar a "Carta ao Povo Brasileiro", que
embalou a campanha vitoriosa do petista de 2002, tendo pontificado como
ministros da Fazenda (governo do ex-presidente) e da Casa Civil (governo da
ex-presidente).
Não
obstante, por ironia do destino, tempos atrás, o ex-presidente disse à Rádio
Guaíba (R$) que não se preocupava com possível delação do aliado, tendo
afirmado, ipsis litteris: "Palocci é
meu companheiro há 30 anos. É um dos homens mais inteligentes deste país. E se
ele resolver falar tudo o que sabe pode, sim, prejudicar muita gente. Mas não a
mim".
Vê-se
que o ex-presidente, de tanto assegurar que é o homem mais honesto da face da
Terra, certamente confiando até mesmo na integridade de seus admiradores, desta
feita o tiro saiu pela culatra e o atingiu em cheio, com as revelações mais
poderosas que o seu pior inimigo jamais acreditaria que alguém da sua
intimidade, da sua própria casa, pudesse ter tanta coragem para denunciá-lo com
absoluta tranquilidade e segurança, a ponto de ter dito ao político que os
casos de propina constituíam “fratura
exposta” - citando a compra do terreno para a sede do Instituto Lula - e
logo a situação se tornaria insustentável, como terminou acontecendo com o
processo em curso na Justiça.
O
cognominado “Italiano” foi responsável pela criação da aludida carta aos brasileiros,
transformando, em passe de mágica, o político desacreditado pelos empresários e
a elite, hoje desprezados por ele, em o “Lulinha
Paz e Amor” e, em seguida, o presidente do Brasil.
Ele
continuou dando bons frutos ao companheiro presidente, ao dar sequência à
Política Econômica do seu antecessor, que permitiu credibilidade internacional
e recuperação econômica, que o elevaram a ser considerado o "Pai dos Pobres", mas quis o destino
que, agora, a tacada certeira na moleira do amigo pode ter sido vital para os
planos políticos dele.
Ao
alardear aos quatro cantos do mundo, com veemência inigualável, ser o homem
mais honesto do planeta, reconhecendo ser superado apenas, pasmem, por Jesus
Cristo, tanta a sua forte convicção, o maior político brasileiro vai precisar
reunir montanhas de provas, elementos e argumentos jurídicos para tentar
contestar as contundentes e mortíferas revelações proferidas por quem tem
insuspeitável cabedal de conhecimento sobre as atividades praticadas pelo
principal político do país, que, enfim, pode ter sido abatido por tiro amigo,
em pleno voo na vida pública, obviamente para o bem da verdade e do Brasil,
caso as acusações sejam confirmadas, em que pese ele ter direito constitucional
à ampla defesa e ao contraditório, para o fim de demonstrar a sua inocência com
relação às graves e surpreendentes acusações vindas de, por óbvio, até então,
amigo do peito. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de setembro de 2017
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