sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Tênue linha de defesa

Aquele que ainda se considera o maior líder de seu partido, porém com o moral bastante enfraquecido perante a opinião pública, por força das delações de um de seus principais aliados, o seu ex-ministro da Fazenda, compareceu à presença do juiz da Operação Lava-Jato, basicamente para responder perguntas sobre suspeitas de recebimento de propinas da construtora Odebrecht, mas o seu depoimento serviu também para criticar a atitude do citado companheiro e o acusar de ser mentiroso.
O ex-presidente já foi condenado na Lava-Jato por nove anos e seis meses de prisão, por ter, segundo a sentença, se beneficiado de um tríplex no Guarujá (São Paulo), ofertado por outra construtora, a OAS, em troca de sua influência para obter contratos na Petrobras.
O líder histórico da esquerda brasileira já recorreu, em liberdade, da aludida sentença, que, se confirmada em segunda instância, o obriga a cumprir a prisão, tendo como efeito a impugnação da sua candidatura nas próximas eleições.
O petista atravessa momento de turbulência política, que tem sido afetado por frequentes acusações sobre práticas de atos irregulares, fato este que ficou registrado na recente caravana realizada no Nordeste, que é a sua base eleitoral histórica, mas o fracasso do seu resultado foi registrado por meio de pífias concentrações, ao contrário do comparecimento em massa que era esperado por seus organizadores, o que poderia fazê-lo ganhar tutano para enfrentar o pesado cerco judicial cada vez mais apertado.
No momento, o petista responde na Justiça, como réu, a cinco denúncias pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, tráfico de influência e tentativa de obstrução da Justiça, que são acusações incompatíveis com os salutares princípios que devem ser rigorosamente observados nas atividades públicas, pelo menos nos países sérios, civilizados e evoluídos político e democraticamente, cujo costume não tem sido muito afeito no país tupiniquim, onde os homens públicos carregados de processos na Justiça ainda insistem em candidatura própria e a reclamarem de ser massacrados por ato de perseguição política, ignorando seus direitos da defesa prévia e do contraditório, amplamente assegurados na Carta Magna, por meio dos quais os acusados podem provar a sua inocência, por meio da apresentação de elementos juridicamente válidos.
Não obstante, o petista, sem apresentar provas alguma, apenas se declara inocente e denuncia perseguição política por parte do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, que visa impedir a sua volta ao poder, nas próximas eleições.
A tênue linha de defesa seguida pelo petista ficou bastante fragilizada e até fragmentada depois que seu ex-ministro da Fazenda e membro da cúpula do PT declarou ao juiz da Lava-Jato, em viva voz, que a denúncia em apreço “procede porque os fatos relatados nela são verdadeiros”, visto que a Odebrecht efetivamente pagou pelo terreno do Instituto Lula e colocou à disposição de sua família o apartamento em São Bernardo do Campo, objetos da ação em comento.
O ex-ministro acrescentou que o petista, às vésperas de passar o poder à sua herdeira política, fez em 2010, um “pacto de sangue” entre o PT e a Odebrecht, o que implicava que a construtora colocaria à disposição do PT 300 milhões de reais.
Tanto o ex-presidente como o Instituto que difunde seu legado negaram qualquer irregularidade, mas não foi apresentado qualquer elemento de contestação sobre as alegações explosivas vindas de seu mais próximo e confidente companheiro.
O PT apostou, para 2018, todas as suas fichas no ex-presidente, o político com mais intenções de voto e com um prestígio ainda forte nas regiões que se beneficiaram de seus programas sociais, onde ainda há bolsões de pobreza e verdadeiro curral eleitoral, mas ele também figura como o candidato com maior rejeição entre os possíveis postulantes ao cargo.
O enfraquecimento da liderança do ex-presidente é notório e dificilmente ele poderá ser candidato a coisa alguma, diante das graves acusações que pesam sobre seus ombros, que praticamente são corroboradas pela insipiência das defesas apresentadas, que não conseguem contestar os fatos denunciados, como os que agora foram revelados pelo ex-ministro, que são confirmados pelas delações premiadas dos executivos da Odebrecht, por meio de planilhas e demonstrativos contábeis comprovando os repasses de propina ao “Italiano” (ex-ministro da Fazenda) e ao “Amigo” (ex-presidente), cujos fatos são absolutamente incompatíveis com a dignidade e a honorabilidade ínsitas dos homens públicos, em condições de exercer cargos públicos efetivos sem o menor questionamento.  
Os brasileiros anseiam por que o ex-presidente consiga comprovar, antes de qualquer tentativa de candidatura, a sua inculpabilidade com relação aos fatos inquinados de irregulares, já denunciados na Justiça, principalmente como necessidade de se mostrar a sua lisura na prática de atos na vida pública, sob pena de não ser possível qualquer pleito a cargo público eletivo enquanto não houver a devida expedição, pela Justiça, do nada consta, conquanto esse é o pré-requisito exigido pelo regramento jurídico aplicável aos pleitos eleitorais, aos quais somente devem participar aqueles que preencherem os requisitos essenciais de idoneidade moral e conduta ilibada. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de setembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário