A destruição de um mito político pode acontecer em
poucas horas, depois de um depoimento arrasador de um petista de primeira hora,
que se dispôs a dizer, em princípio, a verdade sobre fatos vividos por ele, com
a revelação de que o ex-presidente teria feito “pacto de sangue” com o empreiteiro dono da Odebrecht, para
continuar a receber propinas da empreiteira mesmo depois de deixar o governo.
No depoimento ao juiz da Lava-Jato, o mais
festejado ministro da era petista parecia um trator a demolir o homem que se
diz o mais integro da moralidade, ao revelar que, ao término de seu governo, o
citado empreiteiro garantisse que a sua sucessora manteria as benesses para sua
empresa, no novo governo petista.
O ex-ministro disse que “Emílio Odebrecht abordou Lula no final de 2010. Não foi para oferecer
alguma coisa. Foi para fazer um pacto, que eu chamei de pacto de sangue, que
envolvia um presente pessoal, que era o sítio de Atibaia. Envolvia o prédio do
Instituto Lula pago pela empresa. Envolvia palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos.
E envolvia mais R$ 300 milhões à disposição do ex-presidente para atividades
futuras. E poderia ser até mais se fosse preciso”.
O ex-ministro depôs no processo em que ele e o
político são réus pelo recebimento de R$ 75 milhões da Odebrecht, em oito
contratos com a Petrobras.
No referido valor, a força-tarefa da Lava Jato
aponta a inclusão de R$ 12,5 milhões que foram usados na compra do terreno para
o Instituto Lula e na aquisição de uma cobertura para o político, em São
Bernardo do Campo, localizada ao lado de sua atual residência.
O ex-ministro decidiu revelar relações ilícitas do
político com a Odebrecht, tendo esmiuçado os fatos com a maior naturalidade,
começando a detoná-lo logo ao responder a primeira pergunta, ao declarar sobre
a aquisição do terreno, tendo dito que “As
acusações são verdadeiras, doutor Moro”. Ele disse que teria alertado o
político de que esse negócio daria dor de cabeça.
Ele declarou que teria intermediado doação do valor
de R$ 4 milhões da Odebrecht para o Instituto Lula, entre em 2013 e 2014, “para cobrir um buraco nas contas do
instituto”.
O ex-ministro confessou ter participado dos crimes
atribuídos ao político e detalhou a relação espúria existente entre a Odebrecht
e os governos petistas.
Ele declarou que serviu de interlocutor dos
interesses da empresa junto ao governo, tratando de todos os temas, inclusive
ilícitos, tendo esclarecido que “A
relação da Odebrecht com os Governos Lula e Dilma sempre foi intensa, movida a
vantagens e propinas. Os fatos narrados nesta denúncia dizem respeito a um
capítulo de um livro um pouco maior do relacionamento da Odebrecht com o
governo do presidente Lula e da presidente Dilma. Foi uma relação bastante
intensa, bastantes vantagens dirigidas à empresa, propinas pagas em forma de doação
de campanha, caixas 1 e 2, benefícios pessoais”.
O ex-ministro reconheceu que a alcunha “italiano” nas planilhas da Odebrecht se
referia a ele. Por meio da conta “italiano”,
o ex-ministro movimentou o valor de R$ 128 milhões. Ele garantiu que o ex-presidente
era o “amigo” das citadas planilhas,
que chegaram a registrar o saldo do valor de R$ 40 milhões, em nome dele, em
2012.
O depoente confessou também o crime tramado por ele
e o político para obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, tendo
afirmado que “Em algumas oportunidades,
eu me reuni com o ex-presidente Lula no sentido de buscar, vamos dizer, criar
obstáculos à evolução da Lava-Jato”.
Com o depoimento do ex-ministro da Fazenda, expondo
às claras sua relação extremamente entrelaçada de falcatruas e de atos
ilícitos, envolvendo o submundo da corrupção, sustentado por muita propina, põe
a termo o secreto "pacto de sangue"
que ele mantinha com o líder-mor do PT, considerando que não ficou pedra sobre
pedra, principalmente porque suas revelações são quase todas coincidentes com
depoimentos dados pelos donos da Odebrecht, que disseram, anteriormente, sobre
os benefícios concedidos ao político, tal como descritos pelo ex-ministro.
A ruína do petista ficou patenteada exatamente
porque as revelações partiram de pessoa da cozinha dele, que trocavam ideias e
confidências no cenário político, além de se conhecem mutuamente, mas, de
repente, ele se despoja dessa relação de extrema amizade e decide dizer o que
pode ser a verdade dos fatos, que contrapõe às reiteradas afirmações do homem
que se julga a montanha da honestidade inigualável, que se esfarela diante de
tantos fatos deletérios e contrários aos princípios da dignidade, honestidade,
idoneidade, entre outros que são inseparáveis dos homens públicos de verdade,
que não podem sequer ser suspeitos da prática de atos irregulares, por minimamente
que seja.
Resta agora o político acusado da prática de
corrupção generalizada demonstrar, por meio de provas juridicamente válidas, a
sua inocência, embora os fatos vindos à lume evidenciam que ele terá enorme
dificuldade para contestá-los, à vista da existência de planilhas pertinentes a
repasses de propinas, confirmados por depoimentos dos protagonistas, as quais
podem contribuir para a consolidação da materialidade das provas sobre os fatos
denunciados na Justiça.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de setembro de 2017
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