segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Herança maldita?

O maior político brasileiro da atualidade afirmou, em discurso que fez no périplo que vem sendo realizado no Nordeste, que, com o aumento da pobreza, o roubo de celular "virou uma indústria" e que essa é também a causa do aumento do número de homicídios em Pernambuco, Estado que é responsável por 50% da alta dos assassinatos no Brasil.
Naquele Estado, as estatísticas dão conta de que, até julho último, foram registrados 3.323 crimes contra a vida, bem superior aos casos acontecidos em todo ano de 2016.
O político indagou: "Por que aumentou o homicídio (em Pernambuco)? Porque aumenta a pobreza. É uma coisa que está intimamente ligada. O cidadão (já) teve acesso a um bem material, a uma casa, a emprego, e de repente o cara perde tudo. Virou uma indústria de roubar celular. Para que que roubar celular?  Para vender, para ganhar um dinheirinho".
O político afirmou ainda que a absurda violência em Pernambuco "é causada pela desesperança. Não tem nada que possa motivar mais um ser humano do que acreditar, sonhar, com alguma coisa boa, que amanhã, ou depois de amanhã, vai ser melhor. Quando não vislumbra esse mundo melhor, ele cai no desespero".
É muito importante que a pobreza e os desempregados, os personagens envolvidos no aumento da criminalidade e que são aqueles que têm expressiva quantidade de votos, tenham consciência no sentido de se lembrar quem foi mesmo o governo que conseguiu conduzir o país ao abismo, às trevas da recessão econômica, da inflação de dois dígitos, dos juros nas alturas, do desemprego elevadíssimo, da desindustrialização, da potencialização da corrupção na Petrobras, da violência generalizada, da péssima prestação dos serviços públicos, da falta de investimentos público e privado, além das mazelas representadas pelas dificuldades causadas à população, como o aumento da criminalidade, que o político enaltece como se não tivesse nada com isso.
É muito estranho que o político reconheça, com o maior conhecimento de causa, que há gigantesco aumento da pobreza no país, mas como é tão difícil se colocar na consciência de alguém que essa situação dramática surgiu justamente no governo que foi defenestrado em decorrência da incompetência administrativa quanto dos rombos nas contas públicas, com o enquadramento da então mandatária do país no crime de responsabilidade fiscal, o que significa dizer que o governo de então gastava além do dinheiro arrecadado pelo Tesouro e comprometia o superávit orçamentário e os investimentos em melhorias para a população.
Como o país se encontrava em recessão econômica, estando nas trevas da má gestão, não conseguia arrecadar porque os orçamentos públicos foram à bancarrota, com enormes dificuldades consistentes com inflação altíssima, juros nas alturas, dívida pública galopante, desemprego ultrapassando à casa dos treze milhões de pessoas, falta de recursos para investimentos em obras públicas, péssima prestação dos serviços  públicos e toda espécie de precariedade na gestão pública, enfim, a constatação de quadro desolador e desanimador que contribuiu para agigantar a pobreza que governo nenhum, por mais competente que seja, consegue sequer minorar, diante da situação catastrófica a estrangular as melhores expectativas de mudanças.
Causa enorme perplexidade se verificar que os fatos pertinentes à degeneração causada pelos governos incompetentes, omissos e irresponsáveis são realidade cristalina e incontestável, mas a desfaçatez impede que os verdadeiros culpados assumam seus graves erros prejudiciais aos brasileiros, preferindo insinuar que não têm nada com as desgraças havidas e ainda responsabilizar quem se encontra no governo, como se este não tivesse recebido a herança maldita, tão prejudicial à classe da pobreza.
Os brasileiros precisam, por dever de justiça, em respeito à verdade, reconhecer que o alarmante quadro da violência pode ter sido sim como consequência das trapalhadas das políticas adotadas pelo governo afastado, que cometeu, entre outros, o desastre de conceder isenção fiscal, de forma atabalhoada e irresponsável, que contribuiu, em escala significativamente imprudente, para a drástica redução da arrecadação e o rombo nas contas públicas, causando todas as dificuldades e desorganizações na administração do país, inclusive o exagerado e incontrolável quadro de criminalidade, que tem maior peso justamente sobre a classe pobre, potencializado pela falta de emprego, fato que pode levá-la, em última análise, a recorrer à violência. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 4 de setembro de 2017

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