quinta-feira, 28 de setembro de 2017

À falta de antíteses

O maior político tupiniquim se apresentou ao banco dos réus, na última audiência com o juiz da Operação Lava-Jato, evidentemente a caminho da segunda condenação, já destilando fanfarronices, como quem se sentisse em palanque eleitoral e estivesse à vontade com a plateia de seus simpatizantes, só faltando ele colocar os pés sobre a mesa.
A começar por sua agressividade ao juiz, a quem desafiou, em tom de ironia, questionando sua imparcialidade, chamou uma procuradora que o interrogava de “querida”, como se fosse pessoa da sua intimidade, e ainda suscitou a correção sobre a condenação de nove anos e seis meses de prisão, no caso do tríplex do Guarujá, ao indagar ao juiz se “Posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?”, no que o magistrado respondeu que não cabia ao réu fazer aquele tipo de pergunta, “mas de todo modo, sim”, mas o petista retrucou, dizendo que “Não foi isso que aconteceu na outra ação”, ao que o juiz respondeu: “Não vou discutir a outra ação. A minha convicção é que o senhor era culpado”.
Em outros pontos, o petista chegou a elevar o tom de voz, mas não conseguiu explicar sobre os fatos pelos quais é acusado, numa ação por corrupção e lavagem de dinheiro, qual seja, o recebimento da Odebrecht de terreno que seria a sede do Instituto Lula e a aquisição da cobertura ao lado da sua, em São Bernardo do Campo, a par de ter atacado brutalmente seu ex-ministro da Fazenda.
O petista disse que a cobertura não é sua e que pagava aluguel por ela, mas ele não soube explicar a razão pela qual não tinha pago os aluguéis no período de 2011 a início de 2015, apenas alegando que a sua ex-mulher era responsável pelo questionado aluguel, por ela ter alugado o apartamento e que era ela quem cuidava desse tipo de despesa, mas suposto proprietário afirmou em juízo que não recebeu ditos alugueres.
Quanto à compra do terreno, o petista afirmou que era tarefa do presidente do Instituto Lula, mas a delação do ex-ministro da Fazenda causou enorme ira e indignação que o fê-lo partir para o confronto direto com o seu então fiel escudeiro, tendo afirmado, ipsis litteris: “Se o Palocci não fosse um ser humano, seria um simulador. É frio e calculista”.
O ex-presidente foi acusado por seu antigo braço direito de agir, em conjunto com a sua sucessora, para frear os trabalhos da Operação Lava-Jato, além de fazer “pacto de sangue” com o dono da Odebrecht, para o recebimento de propinas.
O que se percebe é que o cerco vem se fechando contra as pretensões políticas do maior líder petista, que tem sido cada vez mais aguçado nas suas defesas verbais, por meio de agressividade às autoridades incumbidas das investigações e do julgamento das ações contra ele, a par de agora ter apontado a metralhadora giratória também contra o seu mais importante mentor é estrategista político, ficando mais evidente a diminuição das possibilidades da sua disputa à corrida ao Palácio do Planalto.
Com o ex-presidente cada vez mais isolado, os petistas se preparam para enfrentar o eleitorado sem pai nem mãe. O próprio político já trabalha com a hipótese de ser carta fora do baralho, diante do seu isolamento por força das denúncias da prática de corrupção, cujos fatos não são contestados com elementos e provas juridicamente válidas, uma que as negativas oferecidas de forma verbal não têm o poder de modificar a interpretação da Justiça, que se baseia na materialidade dos fatos e, ao que tudo indica, ela é robustamente presente nos autos pertinentes.
Alguns políticos importantes da esquerda já aceitam o desencanto e a melancolia do PT, que não consegue se desvencilhar das teias maléficas traçadas pela própria agremiação, que escolheu o caminho deletério dos esquemas criminosos, como os famigerados mensalão e petrolão, e agora precisa se explicar na Justiça, mas não encontra antíteses para contestar seus maus-feitos e suas trapalhadas na política e na administração do país, conforme mostram os fatos.
No último depoimento ao juiz da Lava-Jato, o ex-presidente estava mais que convicto de que, na forma como ele se comportou, com a empáfia e a arrogância de sempre, até a milésima geração dos integrantes da força-tarefa da operação Lava-Jato vão pedir, ajoelhados, na opinião dele, perdão por terem investigado um homem tão puro e imaculado, que tem sido acusado injustamente por crimes que ele jura nunca ter praticado.
 É engraçado que ainda tem gente que acredita piamente na sua inocência, ante a sua enorme capacidade de dissimular os fatos como se eles não existissem nem fossem verdadeiros, embora eles nunca se mostraram com tamanha verossimilhança, diante das delações premiadas não somente do ex-ministro da Fazenda de seu governo, mas em especial de executivos da Odebrecht, OAS etc., todos confirmando as falcatruas havidas, inclusive por meio de planilhas e demonstrativos que indicam o caminho nada republicano andado pelo dinheiro sujo.
Já se sabe, com relação aos fatos questionados na ação em tela, que há e-mails, planilhas, comprovantes de pagamentos e outros arquivos e documentos que atestam os ilícitos praticados pela Odebrecht e, acima de tudo, os beneficiários das propinas milionárias, restando agora tão somente a confirmação da autenticidade sobre esses elementos, para que não haja mais qualquer dúvida quanto à efetividade das práticas delitivas e prejudiciais aos princípios da administração pública.
A situação do maior político brasileiro não só se complica como se encaminha para possível e inevitável desfecho, a depender apenas da comprovação das revelações por parte do seu fiel escudeiro do passado, que seria louco se tivesse coragem de aprontar tamanho desplante, ao trazer à lume fatos com tamanha contundência se ele não tivesse condições de prová-los por meio de elementos juridicamente válidos, principalmente em se tratando que as acusações adiantadas fazem parte do script planejado para os assuntos que tratam da delação premiada em negociação com a equipe da Lava-Jato, que tem por base e por óbvio, o benefício da redução da penalidade, desde que os fatos alegados sejam devidamente acompanhados das comprovações materiais pertinentes, sob pena de não haver compensação alguma e o delator ainda ser sancionado por falso testemunho. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de setembro de 2017

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