quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Péssimo exemplo de civilidade

A assessoria do presidente da República, por meio de nota, criticou com palavras duras e impróprias as delações de um empresário da JBS e de um operador financeiro, tendo comparado os dois acordos de delação e questiona se os benefícios concedidos ao doleiro serão o "perdão total" a que teve direito o empresário, ou seja, plena liberdade.
Demonstrando total descontrole de racionalidade e civilidade, a assessoria do peemedebista houve por bem chamar o empresário de "grampeador-geral da República" e afirmar que o ele teria escondido e apagado áudios que estavam em seu gravador, mesmo assim ele continua com o "perdão eterno" do procurador-geral da República, aproveitando para indagar se "Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e perigoso como Lúcio Funaro?”.
O empresário da JBS respondeu com duras críticas a nota divulgada pelo Palácio do Planalto, que o cognominou de “grampeador-geral da República”.
          Em resposta à aludida nota, o empresário não se conteve e chamou o presidente da República de "ladrão-geral da República", a par de ter afirmado que a decisão dele de "atacar" delatores mostra a "incapacidade" do presidente de se defender "dos crimes que comete", tendo concluído, afirmando que "Michel, que se tornou ladrão-geral da República, envergonha todos nós, brasileiros".
Como se sabe, o dono da JBS chegou a entregar gravação de conversa dele com o presidente do país, onde consta que eles chegaram a discutir, segundo a Procuradoria Geral da República, a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, que se encontra preso na Operação Lava-Jato.
Já o operador financeiro, que, além de ter citado o presidente do país na sua delação, afirmou que ele “sabia do esquema de corrupção que atuou na Petrobras e orientou a distribuição de dinheiro desviado da Caixa Econômica Federal”.
          À toda evidência, é indiscutível a total desnecessidade da nota criticando os delatores, em especial a dureza como foi tratado o empresário da JBS, que teve coragem de desmascarar o presidente do país, denunciando a falta de caráter de político que exerce o principal cargo da República, quando antes ele mantinha espúria relação de amizade com o empresário, que pagava propina a ele e a seu partido para facilitar o tráfico de influência no governo e conseguir benefícios para o seu grupo empresarial, a exemplo dos extraordinários financiamentos, a juros magnânimos do BNDES.
Não se pode fazer juízo de valor sobre a autenticidade da afirmação do delator, mas é inusitado e muito pesado alguém se atrever atribuir ao presidente da República título de “ladrão-geral da República”, porque isso não acontece nem mesmo nas republiquetas, considerando que houve aí completa quebra do respeito à autoridade máxima da República, em que pese tenha sido o presidente o primeiro a cometer a descompostura de agredir o delator, ao chama-lo de “grampeador-geral da República”, o que não condiz com a liturgia do relevante e principal cargo do país.
Não há a menor dúvida de que houve, de ambos os lados, extrema falta de bom senso e de sensibilidade para a condução de demanda que vem sendo discutida na Justiça, que é exatamente onde se deve resolver quem tem razão, em se tratando que as acusações são de extrema gravidade, por ter, no seu cerne, a suspeita da prática de corrupção, absolutamente incompatível tanto para importante empresário como para o mandatário do país, que realmente exige a mediação da Justiça, para dizer o tamanho do crime que ambos praticaram ou não.
Agora, não tem a menor pertinência que o presidente da República fique acusando, agredindo ou revidando o delator e vice-versa, que até podem ter seus motivos, mas não suficientes para baixarem o nível ao máximo, porque isso não contribui senão para complicar ainda mais a delicada situação, que já é absolutamente complexa, nas circunstâncias, além de demonstrar total falta de inteligência, insensatez, imaturidade e despreparo por parte de quem tem o dever cívico de dar exemplos de dignidade, bom senso, decência e urbanidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 7 de setembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário