terça-feira, 26 de setembro de 2017

A caravana da moralidade?

O maior político brasileiro tem se dedicado, na atualidade, às caravanas, já tendo encerrado a primeira ao Nordeste e começa a ensaiar a próxima prevista para Minas Gerais, em pré-campanha eleitoral, mas a principal delas será a enfadonha e cruenta “caravana penal”, que tem por percurso entre as cidades de Curitiba e Brasília, na tentativa de se defender dos processos pertinentes às operações Lava-Jato e Zelotes.
No total, além da ação do tríplex do Guarujá, onde ele já foi condenado à prisão por nove anos e seis meses, o político é réu em outros seis processos na primeira instância e ainda deverá ser interrogado em quatro deles.
O político já prestou depoimento em duas vezes ao juiz da Lava-Jato, sendo que a última ele foi interrogado acerca dos fatos referentes à aquisição do terreno que seria para a sede do Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao seu, em São Bernardo do Campo, ficando visível que a mobilização de apoiadores foi bastante reduzida em comparação ao depoimento relativo ao citado tríplex.
A queda na mobilização tem sido visível à medida que se intensificam as acusações sobre novos fatos, a exemplo das perturbadoras revelações feitas pelo ex-ministro da Fazenda de seu governo sobre o “pacto de sangue” firmado entre o político e a empreiteira Odebrecht.
Com toda certeza, vem perdendo efeito o encanto sobre o homem que se diz o mais honesto de todos e isso contribui para diminuir a mobilização da militância no futuro interrogatório em Curitiba, a ser relacionado com o caso do sítio em Atibaia, uma vez que os próprios movimentos de apoio ao político tendem a perder força.
Um especialista político confessou que “Eu acho que ela (manifestação) tende a mudar de configuração. Os movimentos também têm o seu esgotamento natural, em termos de dinheiro para mobilização, ...”.
Ele entende que a estratégia do político, no âmbito do Judiciário, será focada nos advogados de defesa e em formadores de opinião, inclusive “Dependendo da posição, o Lula resolva fazer (o próximo interrogatório) por videoconferência. Porque ele desmobiliza também a relevância do juiz, se ele achar que isso é mais interessante.”.
Em um processo em curso em Brasília, referente à compra de silêncio de um ex-diretor da Petrobras, onde o político já teria sido ouvido, o Ministério Público Federal pediu a absolvição dele, cuja decisão ainda não foi proferida pelo juiz do caso. Na ocasião, quase não houve mobilização em prol do político.
Em Brasília, a tendência é a de que realmente serão sempre diminutas as mobilizações em favor do político, quando ele for interrogado, exatamente porque o juiz não tem o mesmo carisma do magistrado de Curitiba, diante da sua implacabilidade com os corruptos, a quem ele tem aplicado penas compatíveis com a gravidade dos fatos delitivos e ainda diante da impossibilidade de embate entre o político e o magistrado do Distrito Federal.
O cientista político entende que “É um outro posicionamento. Talvez lá não tenha essa pressão política, esse cenário que estamos vivendo. A mobilização em Brasília vai ser completamente diferente, até porque está longe do grande centro da discussão judicial. O centro da discussão judicial está em Curitiba”.
O político ainda precisa comparecer em Brasília, para ser interrogado em três processos, sendo que um deles há acusação sobre a prática do crime de tráfico de influência – ele teria atuado para liberar verba do BNDES em obra da Odebrecht em Angola. No segundo, há acusação sobre o recebimento por ele do valor de R$ 6 milhões para o favorecimento de montadoras, com relação à edição de medidas provisórias. O terceiro processo trata das negociações sobre a compra, pelo governo brasileiro, de caças Gripen da sueca Saab.
A maratona destinada aos interrogatórios do político em Brasília e em Curitiba ainda não foi marcada nas agendas dos magistrados que comandam os processos e não tem prazo para que isso aconteça.
Ao que tudo indica, as “paradas” na “caravana penal” do político ainda podem crescer, porque há duas denúncias contra ele que podem ser aceitas pela Justiça, a qualquer momento, sendo que uma delas tramita no Supremo Tribunal Federal, sob a acusação de ele ser o chefe do “quadrilhão do PT”, e a outra, em primeira instância, tem a acusação de o político e a ex-presidente terem tentado obstruir o trabalho da Justiça, no caso da nomeação dele para ministro da Casa Civil da Presidência.
Na seara da “caravana penal”, o político espera pelo resultado do recurso impetrado na 2ª instância contra a condenação à sua primeira prisão, aplicada pelo juiz da Lava-Jato, ainda sem data prevista.
Em princípio, o futuro do político pende da decisão a ser proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), cuja sentença do juiz paranaense poderá ser confirmada, alterada ou até mesmo anulada e, conforme o caso, o político poderá se despedir da vida pública na cadeia, ficando inelegível por força da Lei da Ficha Limpa.
À toda evidência, não será com a pressão da militância petista e dos movimentos sociais que irá mudar as decisões dos juízes e dos desembargadores com relação aos casos irregulares cuja autoria é atribuída ao ex-presidente, porquanto cabe exclusivamente a ele laborar suas defesas, notadamente com base em provas materiais, juridicamente válidas, com força probante de contestar as graves denúncias contra ele, que tem demonstrado dificuldades para convencer os magistrados sobre a sua tão enaltecida inocência, quando os fatos têm sido quase sempre robustamente incontestáveis.
Por que nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos político e democrático, os processos na Justiça são resolvidos e julgados com singeleza e celeridade, exatamente em harmonia com a imperiosa necessidade de se decidir, o quanto antes possível melhor, em especial para as partes envolvidas, notadamente nos casos de corrupção, em que a solução há de beneficiar, conforme o caso, a parte prejudicada, que será ressarcida pelos prejuízos sofridos, além da condenação penal ao infrator, cuja medida serve de exemplo para se evitar a reincidência de crime semelhante?
Por sua vez, comprovada a inocência do acusado, esse fato o beneficia em termos políticos, por haver o reconhecimento da sua lisura e inculpabilidade sobre os fatos denunciados e isso mostra a sua capacidade plena para representar o povo, em condições normais, legalmente exigidas dos homens públicos que não podem sequer pensar em se candidatar enquanto responderem a processos na Justiça, como réus, porque isso não condiz com os salutares princípios da moralidade, honestidade, dignidade, entre outros que precisam ser fielmente observados nos tempos modernos, em respeito ao real significado do valor da representatividade delegada nas urnas.
É absolutamente inconcebível que o homem público denunciado e respondendo a processos na Justiça, por crimes graves contra os princípios ético e moral, ainda tenha insensibilidade de fazer campanha política, como se tudo isso fosse absolutamente natural, para se candidatar a cargo público eletivo, quando ele antes do mais precisa conseguir provar a sua inocência, por meio de elementos juridicamente válidos, de modo que a sua inculpabilidade sobre os fatos objeto das ações pertinentes sirva de álibi para as suas pretensões políticas, porque isso é o mínimo que se deve esperar dos homens íntegros e dignos, em defesa dos salutares procedimentos inerentes às atividades político-administrativas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 26 de setembro de 2017

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