quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Degeneração moral

Somente em uma republiqueta se poderia imaginar que um ex-mandatário de país seria condenado à prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, além de ser obrigado a responder, na Justiça, como réu, a outros seis processos, pelos mesmos crimes e outros referentes a tráfico de influência, organização criminosa e tentativa de obstrução de Justiça, em cristalina demonstração de falta da dignidade ínsita ao homem público de verdade.
O histórico criminal e penal do ex-presidente já é digno de fazer inveja aos criminosos de alta estirpe, por seus feitos contrários aos salutares princípios republicanos e democráticos, pelo menos, em termos de denúncias que precisam ser contestadas na Justiça. 
Em que pese ser acusado e denunciado por graves crimes que não tem conseguido contestá-los e provar em contrário, o político simplesmente insiste bravamente em posar de injustiçado e perseguido da lei.
Não obstante, o seu discurso inconsistente pode ter esparramado por terra quando o parceiro dos melhores momentos políticos, o seu então ministro da Fazenda, houve por bem resolver pôr às claras os fatos em que ele atuou em parceria com o político, ao relatar, em detalhes, os esquemas criminosos por maio dos quais o poderoso líder teria recebido a “ninharia” do valor de R$ 300 milhões como reserva técnica.
A citada quantia teria origem em apenas uma das empresas que faziam gentilezas com dinheiro desviado da Petrobras, em troca de favores prestados à Odebrecht, conforme planilhas e demonstrativos contábeis apreendidos pela Operação Lava-Jato, junto à empreiteira.
Por ter gozado da mais estreita relação de confiança do político, o ex-ministro relatou com requintes de detalhes o caudaloso fluxo de irregularidades que aconteceu com a sua participação, em benefício do antigo chefe e até então aliado inseparável.
Por seu turno, exatamente em harmonia com o padrão habitual de comportamento, o líder-mor procura responder aos ataques e às acusações absolutamente na serenidade de dissimulado de primeira linha, sempre negando tudo e atacando como a dizer que quem o acusar tem interesse em se livrar da prisão ou se beneficiar com a delação premiada, como se tudo não passasse de mentira.
Impressiona a elevadíssima quantidade das delações acusando o ex-presidente pela prática de irregularidades com dinheiro público, que já se somam para mais de 30 delatores entre empreiteiros, correligionários, operadores e amigos da sua intimidade, às quais são sempre rechaçadas com o desprezo, por serem consideradas acusações inverossímeis, espetaculosas e algo sem importância, diante da certeza da sua suprema inocência.
Na concepção do político, seus acusadores estão mentindo contra ele, deixando de contar a verdade sobre os fatos, em conspiração contra a sua inculpabilidade, conforme ele fez questão de dizer ao juiz da Lava-Jato que prefere “a morte” a passar por mentiroso.
O mesmo sentimento de irrealidade sobre a crueldade dos fatos é tido pelos idólatras, como no caso da presidente do partido, que, diante das devastadoras revelações do ex-ministro, outrora festejado pela militância, disse que ele estava a serviço da CIA, agência de inteligência norte-americana, ou seja, desculpa completamente fora de propósito.
Diante das dificuldades para o político se desvencilhar das graves acusações de irregularidades, os petistas vislumbram uma única solução, a tábua de salvação dele, que é a defesa, com unhas e dentes, da candidatura presidencial dele, que seria saída para livrá-lo da cadeia, caso ele seja eleito e consiga driblar as garras da Justiça.
Na condição de candidato ao Palácio do Planalto, o político poderia dá trégua às investigações que tanto lhe incomoda, embora isso se torna quase impossível diante da sua condição de réu, respondendo a vários processos na Justiça, fato que representaria situação nada confortável para a nação, diante da existência de chapa encabeçada por presidenciável político encalacrado nos Tribunais, justamente em razão de malfeitos na vida pública, inclusive sob a pecha de ter sido “chefe da quadrilha” do PT e de “organização criminosa”, conforme denominação atribuída a ele por procuradores da Lava-Jato.
É absolutamente inconcebível que em pleno século XXI, com a evolução da modernidade e dos princípios humanos, o país com a grandeza do Brasil ainda possa admitir que político sobrecarregado de processos penais sobre seus ombros possa concorrer a cargo público eletivo, mesmo que ele insista que é inocente, embora já tendo sido condenado à prisão na primeira instância, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Em que pese insistir em ser candidato, a sua possível vitória não seria consagradora porque há dispositivo constitucional que exige a condição de idoneidade moral e conduta ilibada para o exercício de cargo público, o que não seria sem razão que qualquer criminoso pudesse representar o povo, mesmo que não tenha a certidão de nada consta da Justiça, o que seria o mesmo que atestar a esculhambação do principal órgão da República e a confirmação de extremo surrealismo político.
É simplesmente chocante que político com a índole tão degenerada tenha conseguido angariar tanto poder e inexplicável idolatria por seus seguidores, que não acreditam que ele seja capaz de protagonizar tamanha façanha de desmoralização e indignidade, ao se envolver profundamente em incontáveis casos de corrupção, à luz das múltiplas delações premiadas de executivos de empreiteiras, declarando que ele se beneficiou de propinas, em troca de tráfico de influência junto ao poder, sempre comandado por ele, nos últimos anos.
Chega a ser espantosa a forma extremamente descarada como ele tenta refutar as acusações, sempre se pondo acima de qualquer suspeita, com esperteza de se posicionar como a pessoa mais honesta da face da Terra, com honorabilidade somente inferior a Jesus Cristo, levando a seus idólatras a acreditar em estapafúrdio cretinismo, ante a montanha de acusações sobre a prática de atos irregulares, notadamente quanto ao recebimento de dinheiro sujo, desviado, em especial, de empresas estatais, a exemplo da Petrobras.
É evidente que o Brasil não merece passar por situação tão deprimente como essa de político e muitos de seus seguidores terem liderado práticas de rapinagem e ainda tentarem se passar por heróis dos brasileiros, como se a ladroagem fosse procedimento normal, evidentemente sob a ótica da ideologia segundo a qual somente roubar é considerada infração legal quando protagonizado por aqueles que não comungam na sua cartilha esquerdista, onde tudo é possível e válido em nome do fajuto e famigerado populismo, que vem servindo de argumento até mesmo para enriquecimento irregular da cúpula partidária, que tudo pode, inclusive se apoderar de recursos públicos, com a maior naturalidade, ignorando completamente os princípios da moralidade, dignidade, honestidade, entre outros que devem e precisam imperar nas atividades públicas.
Causa espécie que situação tão absurda, da maior gravidade, envolvendo pessoa tão prejudicial aos interesses nacionais, seja simplesmente tratada com  o maior menosprezo, e que principal pivô fique livre e abusando dos princípios da honradez, inteligência e honestidade e ainda humilhando a inteligência e a dignidade dos brasileiros, quando a situação de extrema delicadeza, por ter reflexo direto nas estruturas da administração do país, fica à mercê da infinita morosidade da Justiça, para colocar os culpados na cadeia, não somente como forma de lição pedagógica e disciplinar, mas em especial pela urgência de os casos em si servirem de exemplo disciplinar e pedagógico para se evitar situações análogas de extrema importância para o interesse nacional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 27 de setembro de 2017

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