quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Conveniência pessoal e partidária?

O depoimento do ex-ministro petista ao juiz da Operação Lava-Jato teve o condão de fechar e restringir ainda mais o espaço de atuação política do maior líder da atualidade e, de quebra, de provocar enorme e incontrolável cisão interna do partido, com relação à sucessão da candidatura residencial, no lugar do atual pretendente, que já seguia de forma impoluta, inclusive realizando caravana ao Nordeste, com esse obcecado objetivo, caso ele seja impedido definitivamente de disputá-la.
À toda evidência, os petistas ainda não admitem a impossibilidade da candidatura do seu ícone, por qualquer motivo político ou jurídico, alguns dirigentes da cúpula partidária temem que o ex-ministro esteja devidamente municiado de provas ou indícios sobre os fatos revelados ao juiz de Curitiba.
O jornal O Estado de S. Paulo disse ter apurado que se o ex-ministro fechar acordo de delação premiada, ele terá condições de detalhar, por meio de provas, a movimentação financeira de campanhas eleitorais petistas e de indicar quando e onde os valores foram entregues ao partido e quem foi o responsável pela operação.
Em sentido contrário do que pensam a cúpula petista e principalmente assessores do ex-presidente, um advogado e dois amigos do ex-ministro disseram que ele está “lúcido”, “sereno” e “aliviado” depois das revelações feitas ao magistrado da Lava-Jato. 
O maior temor dos petistas vem da possibilidade de as referidas informações serem robustecidas com revelações prestadas pelo sucessor dele na Fazenda, que também caminha negociando colaboração à Justiça.
A partir da decisão de ter assumido, espontaneamente, que ele é realmente o “Italiano”, nas planilhas da propina da Odebrecht, o ex-ministro deu gigantesco passo nas investigações, fazendo-as avançar em linha reta ao destino do ex-presidente, fato este que contribuiu para complicar perigosamente seus planos políticos, embora nem precisava tamanho temor, já que os petistas acreditam na inocência dele, quanto ao seu juramento de ser o homem mais honesto do planeta.
Já se comenta, à boca pequena, que o ex-prefeito de São Paulo teria o perfil ideal para substituir o cacique-mor, na corrida à Presidência da República, caso se confirme o impedimento dele, o que parece muito próximo disso, diante da fartura e da avalanche de acusações sobre suspeitas da prática de atos contrários aos princípios éticos e morais.
Não obstante, não se sabe se o ex-prefeito de disporá a renegar o discurso ético e moral, para, de repente, passar a defender o partido, um dos mais envolvidos nas acusações sobre o maior escândalo de corrupção da história do país, à vista dos gigantescos desvios de recursos da Petrobras.
A verdade é que poderá conspirar contra o ex-prefeito, em termos bastantes prejudiciais, caso ele não faça restrição à defesa do seu padrinho político, com o que seu caminho político poderá ser chamuscado pelo vínculo de amizade e de aproximação com ele, que perdeu a credibilidade na vida pública, diante do seu passado ofuscado pelas relações espúrias com empreiteiros implicados com as investigações da Lava-Jato e a Justiça. 
Polêmicas à parte, o partido trabalha com a estratégia consistente em tocar, como se nada estivesse acontecendo, a pré-campanha do seu líder-mor, sob o argumento de que ele não passa de autêntica vítima de “perseguição política”, ignorando completamente as fortíssimas acusações contra ele, como se elas jamais existissem e muito menos se ele não tivesse a obrigação de prestar contas ou provar nada contra elas, contrariando os salutares princípios de que os homens públicos têm compromisso com a transparência e a verdade, que precisam ser provadas sempre que necessárias, notadamente quando são indispensáveis à contestação sobre fatos suspeitos de irregulares, cuja autoria pesa sobre os ombros de político da mais destacada relevância do país.
A ideia do partido, por mais absurda que possa ser, é insistir no argumento de que, se o ex-presidente não puder ser candidato, a eleição de 2018 não terá legitimidade, independentemente que os fatos deletérios atribuídos à autoria dele sejam confirmados, como se ele fosse imprescindível aos destinos da nação, que fica à mercê dos interesses de um partido, em cristalina demonstração de extremo retrocesso político-partidário.
Na verdade, o discurso político dos petistas sobre a prática da honestidade, encabeçado por seu principal político, que se diz a alma mais honesta do Mundo, cai em desgraça com os depoimentos dos delatores envolvidos em falcatruas, com maior peso agora com as bombásticas revelações do seu ex-ministro da Fazenda, que é prata da casa e conhece, como ninguém, as raízes profundas da roubalheira do partido e de seus líderes, por ter sido responsável pelas negociatas, como principal homem forte da organização criminosa, assim definida pelo Ministério Público Federal.
É lamentável que, mesmo diante da desgraça revelada, com ricos detalhes, por importante protagonista da tragédia, alguns dos principais implicados não têm dignidade necessária para assumir a sua culpa na monstruosidade perpetrada contra os interesses nacionais e ainda insistem na vida pública, como se a destruição havida não representasse nada de mais grave, diante da grandiosidade e da opulência do projeto político que precisa acontecer em nome da extrema vaidade de pessoa que somente enxerga o seu mundo à sua volta, que consiste tão somente na absoluta dominação das classes política e social e na conquista do poder e na perenidade nele, como forma de satisfação de caprichos pessoais e partidários, sem a menor reflexão sobre os interesses do resto da população e da integralidade da nação, que certamente têm seus objetivos completamente diferentes dos idealizadas por ele e que precisam ser respeitados, em termos de soberania nacional.   
Diante do caos que grassa na política brasileira, onde os principais envolvidos com a confusão reinante teimam e insistem que não têm nada a ver com os fatos deletérios, embora eles têm cara mais de verdade do que outra coisa, mas ainda assim há os incautos e os ingênuos que preferem não acreditar neles, possivelmente muito mais convencidos pelo sentimento da conveniência pessoal e partidária, somente depende dos brasileiros honrados e cônscios de seu dever cívico e patriótico decidir pelo basta à balbúrdia e ao caos generalizados, com a eliminação da vida pública dos políticos que não conseguirem, por meio de provas juridicamente válidas, convencer os brasileiros sobre a sua inocência acerca de possíveis acusações sobre a prática de atos irregulares. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de setembro de 2017

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