No seu último depoimento ao juiz da Operação da
Lava-Jato, o maior líder político brasileiro proferiu, a um só tempo, numa
espécie de morde e assopra, críticas e elogios ao seu ex-ministro da Fazenda,
quando disse, no auge da sua exaltação, que ele é “dissimulador, frio e calculista” e logo em seguida também o
reconhecer como “amigo”, com “carreira brilhante” e um “quadro político
excepcional”.
Acontece que, dias atrás, o ex-ministro, quando também
esteve à frente do mesmo juiz, teria afirmado que o ex-presidente, até ali fiel
amigo, confidente e guardador de segredos, deu seu aval a um "pacto de sangue" entre o PT e a
Odebrecht, criado, no fim de 2010, na transição entre o governo dele e o da
presidente afastada, também do PT.
O ex-ministro revelou que a Odebrecht ofereceu
"pacote de propinas" que
incluía R$ 300 milhões para o PT e o ex-presidente, e que ambos também agiram para
barrar as investigações da Operação Lava-Jato.
No seu depoimento, o ex-presidente, depois de questionado
sobre as aludidas acusações, as negou, tendo aproveitado para atacar o
ex-ministro, ao dizer, entre outras coisas, que ele mentiu, embora ele tenha
intercalado críticas com demonstrações de respeito e até de muito afeto, em ímpar
sentimento de civilidade.
O ex-presidente se referiu ao ex-ministro como
sendo "Político excepcional",
que teria feito "carreira brilhante",
apesar de tecer, mais adiante, críticas, ao dizer que ele mentiu, ou seja,
agora ele é mentiroso, o que põe por terra as qualidades dele.
O político disse que “Eu não tenho raiva do Palocci. Eu tenho pena dele, porque o Palocci é
um quadro político excepcional da qual esse país não tem muito. Fico pensando
como está a mãe dele, que é militante e fundadora do PT. Não tenho raiva do
Palocci, tenho pena de ter terminado uma carreira tão brilhante da forma como
ele terminou. O Palocci era uma figura política respeitada nesse país.
Possivelmente, ele era o ministro da Fazenda que mais estabeleceu relação de
amizade com o empresariado brasileiro.”.
Em alguns momentos, o ex-presidente se referiu à
sua relação com o ex-ministro, no passado, ao lembrar que “O Brasil tem uma dívida
com o ex-ministro.”.
Por derradeiro, o ex-presidente ressaltou que “Eu lamento, porque eu sou um cara que
gostei muito do Palocci, tive boa relação com o Palocci, acho que o Brasil deve
ao Palocci, sabe? Mas, lamentavelmente, o Palocci se prestou a um serviço
pequeno, porque inventar inverdades para tentar criminalizar uma pessoa que ele
sabe que não cometeu os crimes que ele alegou é muito desagradável.”.
Não
há a menor dúvida de que chega a constituir momento de rara emoção se
presenciar petistas históricos se digladiando em batalha fraticida, a ponto de
chamarem um ao outro de mentiroso, principalmente em se tratando de figuras
proeminentes e certamente as mais importantes do partido.
Não
obstante, no momento que se encontra em perigo a própria pele, que precisa ser
salva, a qualquer custo, a imagem de quem já foi seu amigo do peito, pouco
importando as consequências no presente, porque o caminho do ex-presidente foi
perigosamente cruzado por informações altamente comprometedoras, com capacidade
até mesmo de interromper o seu projeto político.
O
ex-ministro, ao que tudo indica, tem enormes chances de desmascarar o
ex-presidente, bastando apenas apresentar provas capitais pertinentes aos fatos
por ele apontados, conquanto parece ser bastante difícil que o cacique-mor se
desvencilhe desse terrível quiproquó sem sofrer os arranhões, caso as acusações
não partissem de pessoa que também precisa se livrar, com urgência, das garras
da Justiça.
O
jornal O Estado de S. Paulo disse ter
apurado que se o ex-ministro da Fazenda fechar acordo de colaboração com a
Justiça, ele terá condições de detalhar, por meio de provas, a movimentação
financeira de campanhas eleitorais petistas e de indicar quando e onde os
valores foram entregues ao partido e quem foi o responsável pela operação.
Na
verdade, a situação do ex-presidente se torna cada vez mais complicada e
difícil, porque ele já não consegue mais convencer a mais ninguém sobre a sua
inocência, em especial no caso em discussão, em que os fatos conspiram contra
ele, à vista do depoimento do ex-ministro, cujo conteúdo é basicamente
coincidente com as delações dos executivos da Odebrecht, que é respaldado por
planilhas e documentos contábeis, todos em poder da Operação Lava-Jato, o que
significa dizer que as negativas do ex-presidente se deparam inapelavelmente contra
a pura verdade dos fatos.
Após
o ex-presidente ter dito que a fala do ex-ministro era “peça de ficção hilariante”, a defesa deste não perdeu tempo para
afirmar que “Todas as declarações são
passíveis de comprovação, tanto documental, quanto testemunhal”.
Conviria
que essa comprovação fosse a mais transparente possível, para acabar de vez a
prepotência e a arrogância de quem ainda sobrevive apenas por aparelhos, que
pode ter falência política declarada quando as provas vierem à tona.
No
momento, resta ao ex-ministro promover o xeque-mate ao rei, no bom sentido, com
a apresentação das provas sobre os fatos por ele alegados contra o seu
ex-chefe, em especial por ser da maior temeridade que ele tivesse se arriscado
a acusá-lo sem que não estivesse em condições de comprovar as alegações e isso,
se confirmando, poderá ser certamente o fim político do homem público que mais
se passou pela alcunha de mais honesto do Mundo, sem nunca ter sido, embora
isso possa ter servido apenas de mote para ele tentar desqualificar tudo e
todos, em seu benefício, tão somente com base no histórico de ter se passado, por
muito tempo, por homem mais poderoso da República tupiniquim. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de setembro de 2017
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