domingo, 17 de setembro de 2017

Exemplo de competência

O polêmico procurador-geral da República deixa o cargo neste domingo, depois de ter protagonizado muitos embates com importantes políticos envolvidos com a corrupção.
Na sua gestão, ele tentou proibir a Polícia Federal de fechar delações, tendo exigido que ela não indiciasse parlamentares com foro privilegiado e tentado impedir delegados de entregar documentos ao então ministro-relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal.
O procurador-geral também foi o responsável por pedir o afastamento do cargo e a prisão de um presidente da Câmara e do ex-líder no Senado Federal da presidente afastada.
Ele tentou prender o presidente do Senado, um ex-presidente da República e um dos principais líderes partidários, o senador tucano por Minas Gerais.
A sua passagem pela Procuradoria Geral da República vai ficar marcada por ele ter conseguido denunciar, de forma inédita e por duas vezes, em casos diferentes, o presidente da República no cargo, além de ter mandado abrir investigações sobre a própria presidente da República que o havia indicado duas vezes para o cargo.
Conforme reportagem do jornal Folha de S. Paulo, na gestão do procurador-geral, foi conseguido o recorde de 159 acordos de colaboração premiada, incluindo os 77 da Odebrecht, a maior empresa de construção civil do país, e sete da JBS.
Na sua gestão, a Procuradoria Geral da República pediu a abertura de 242 inquéritos relacionados a autoridades com foro privilegiado e formalizou 65 denúncias no Supremo, embora o seu trabalho não tenha resultado em sucesso, em termos de condenações dos políticos investigados pela Lava-Jato, uma vez que a Excelsa Corte, lamentavelmente, não julgou ninguém, desde agosto de 2014.
Não há dúvida de que o procurador-geral conseguiu produzir inéditas listas de investigações, envolvendo importantes políticos denunciados pela Lava-Jato, mas muitos críticos dele dizem que a sua atuação deveria ter sido mais “criteriosa”, por ter autorizado a instauração de inquérito sem provas suficientes, sendo depois obrigado a determinar o arquivamento do processo pertinente.
O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República considera que o procurador-geral da República "cumpriu seu dever de maneira extremamente correta" e "qualquer tropeço que tenha sofrido no final não apaga o seu legado".
Embora o presidente do país tivesse questionado a atuação do procurador-geral, pedindo o seu afastamento do caso que envolve o mandatário brasileiro, o Supremo rejeitou o pedido em apreço, ficando o registro no parecer do procurador-geral segundo o qual "Como não há escusas pelos fatos que vieram à luz, a estratégia de defesa não pode ser outra senão desacreditar as figuras responsáveis pelo combate à corrupção".
O procurador-geral da República até pode ter cometido alguns deslizes, principalmente no que se refere à proteção velada a alguns políticos, conforme noticiado pela imprensa, mas, no geral, ele foi um exemplo de coragem, determinação, zelo e desempenho positivo à frente da Procuradoria Geral da República, à vista de ter liderado inúmeras investigações e denúncias importantes, todas na competência institucional da sua função, cujos resultados ainda não são palpáveis diante da morosidade crônica da Justiça e principalmente dos entraves propiciados pelo cipoal de leis que dificultam a dinâmica processual, principalmente quando muitos envolvidos integram a casta do colarinho branco, normalmente com vergonhoso assento no excrescente foro privilegiado, que tem a proteção constitucional para se beneficiar da falta de dinâmica da principal corte de Justiça do país, que não consegue condenar ninguém.
Enquanto isso, o juiz da primeira instância, ele sozinho responsável pela Operação Lava-Jato, já conseguiu condenar à prisão um punhado de criminosos também de colarinho branco, inclusive um ex-presidente da República, o que demonstra que muitos magistrados estão na contramão da dinâmica pretendida para o importante desempenho da Justiça, principalmente em se tratando do envolvimento de criminosos que, sem o menor escrúpulo, tramaram desvios de dinheiro público para seus bolsos.
Espera-se que a nova procuradora-geral da República, para o bem do Brasil e o aperfeiçoamento do ordenamento jurídico, tenha sensibilidade e inteligência suficientes para seguir o excelente exemplo da dinâmica imprimida por seu antecessor e com as mesmas coragem e determinação para enfrentar a sanha do poder dos criminosos de colarinho branco, que permanecem impunes, apesar dos esforço e empenho destemidos desse brilhante servidor público, que demonstrou a importância do Ministério Público Federal contra os dilapidadores do patrimônio dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de setembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário