O
general comandante Militar do Sul recomendou à população insatisfeita com a
situação político-econômica do país para ir às ruas se manifestar “ordeiramente”, para demonstrar sua
indignação.
Reconhecendo
que não pode ir para as ruas se manifestar, o militar disse que “Se vocês estão insatisfeitos, vão para a rua
se manifestar, mostrar, ordeiramente. Mas não é para incendiar o país, não é
isso. São vocês, somos nós que temos
de decidir qual o país que queremos. Há uma insatisfação geral da nação e eu
também não estou satisfeito.”.
O
general sentenciou que “Se nós ficarmos
somente reclamando, insatisfeitos e inconformados, não vamos mudar as coisas.
Se os nossos representantes não estão
correspondendo às nossas expectativas, vamos mudar.”.
O
general lembrou que ainda “existe uma
série de maneiras” de tentar mudanças no país, mas ressalvou que “o papel das Forças Armadas é seguir a
legislação” e que se não recordava de notícias recentes de ter havido a
realização de significativa manifestação de protestos nos grandes centros, como
Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo ou Porto Alegre.
Ao
incentivar a realização de manifestações nas ruas, o general disse que “Não estamos gostando, mas estamos passivos.
Não adianta nós só usarmos as mídias sociais”.
Embora
em total contradição com seus argumentos a favor de manifestações do povo nas
ruas, o general lembrou a postura dos venezuelanos, que foram às ruas contra o
governo: “Com o regime que eles estão, lá
tem gente morrendo na rua” e reafirmou que a população deve servir de “termômetro” para os poderes.
O
general se posicionou contrário à intervenção militar, tendo claro entendimento
de que “Intervenção militar não é a
solução” e “as mudanças nas leis
sejam feitas por meio da democracia.”.
À
falta de ideia mais efetivamente criativa e adequada ao momento de crises
generalizadas, louve-se, por se referir a manifestação militar inserida no
contexto das liberdades democráticas, a iniciativa do general comandante
Militar do Sul, que sugere ao povo que vá às ruas para se manifestar sobre a
sua insatisfação contra os desmandos das autoridades supremas do país e da
bagunça instalada nos Poderes da República, como se somente isso fosse capaz de
contribuir para alterar alguma coisa na ordem natural da degeneração ou pudesse
determinar mudanças de rumos na tão conturbada administração do país.
Alguém
precisa lembrar ao general que as manifestações de protestos do passado recente
no país, tantas e muitas vezes realizadas Brasil afora, desde 2013, quando elas
apareceram mostrando a real insatisfação da sociedade contra as mazelas imperantes
na nação, não somente resultaram em nada como exacerbaram ainda mais a
generalização e potencialização das precariedades que até hoje grassam soltas e
galopantes no país.
Não
se diga que o impeachment, única mudança havida de salutar, tenha sido fruto
das manifestações do povo, que não foi, porque ele é resultado da insatisfação
política gerada no seio do Parlamento, embora a sociedade o tenha apoiado,
diante da extrema degradação político-administrativa, alicerçada pelas
gigantescas crises moral, social, política, econômica e administrativa, que já
eram responsáveis pela precariedade da governança, que se mostrava no mais alto
grau da incompetência, ineficiência e irresponsabilidade.
À
época, os indicadores econômicos eram desastrosos e terríveis, que estavam
muito bem representados, em especial, por desestimulantes fatores como a
recessão econômica, o desemprego alarmante, os juros elevadíssimos, as dívidas
públicas gigantescas, a desindustrialização, o rombo nas contas públicas, a
queda vertiginosa da arrecadação, a falta de investimentos público e privado,
enfim, o descrédito dos investidores internos e internacionais, decorrente da
retirada do grau de investimento do Brasil, pelas agências de classificação de
risco, entre outras deficiências que contribuíram para fomentar e pavimentar a
precariedade objeto das insatisfações da sociedade, que clama e apela por
urgentes mudanças que certamente não virão com meras e infrutíferas manifestações
de protestos.
Comparando
os discursos do atual comandante Militar do Sul - que sugere que as crises
sejam combatidas com o povo nas ruas - com o do seu antecessor – que é
favorável à intervenção militar nas instituições do país -, pode-se concluir,
com muita facilidade, que aquele atira com bala de festim e este tem o arrojado
habito de utilizar o poderoso canhão, sendo que este arrasa quarteirão e aquele
simplesmente sai pela tangente, utilizando o jargão militar.
Não
há dúvidas de que as tão sonhadas mudanças na administração do país, com vistas
ao combates às crises, podem até acontecer sim, mas com a conscientização do
povo nesse sentido, mediante a liderança das autoridades da República, cônscias
da sua responsabilidade cívica e patriótica de que é preciso que sejam adotadas,
com o máximo de urgência, medidas efetivamente revolucionárias (no bom sentido)
e transformadoras, no sentido de que haja renovação da classe política
dominante, intensificação e celeridade no combate à corrupção e à impunidade,
além da implantação do sentimento altruísta de que deva ser priorizada a defesa
do interesse público e a eficiência na aplicação dos recursos públicos. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de setembro de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário