Um
dos donos do grupo JBS expediu carta pedindo desculpas aos brasileiros, a par de
também ter reconhecido os erros praticados por ele, ao declarar, nestes termos:
“Erramos e
pedimos desculpas. Não
honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com
o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso.”.
Os
executivos da maior produtora de proteína animal do mundo decidiram fechar
acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República, após a holding entrar na mira de, pelo menos, cinco
operações policiais, a saber: Greenfield, Sépsis, Cui Bono, Bullish e
Carne Fraca.
No
âmbito da colaboração à Justiça, que já foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal,, sete empresários da JBS, incluindo o seu
presidente, gravaram diálogos embaraçosos, com destaque para os feitos com
o presidente do país e o senador tucano de Minas Gerais, entre
outros.
Na carta,
o empresário disse que “O Brasil mudou, e
nós mudamos com ele. Por isso estamos indo além do pedido de desculpas”. Ele
também afirma que a JBS foi “levada”
a pagar propina para agentes públicos devido ao “espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar”.
Ele esclarece
ter assumido compromisso público de ser “intolerante
e intransigente com a corrupção” e que está disposto a “expor com clareza” o sistema
corrupto do Estado brasileiro.
O
empresário afirmou que “Ainda que nós
possamos ter explicações para o que fizemos, não temos justificativas. Em
outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem
transgredir valores éticos”.
A relevância
da JBS, como empreendedora, expressa-se por empregar mais de 270 mil
funcionários no mundo, com a sua presença em mais de 20 países, sendo controladora das
marcas Friboi, Seara, Swift, Pilgrim’s, entre outras, segundo informações
da própria empresa.
Nessa
mesma linha, o clã do grupo, que controla a holding, já apareceu na lista
das famílias mais ricas do Brasil e o conglomerado é um dos maiores
financiadores de campanhas políticas no país, basicamente em forma de caixa 2.
Causa
perplexidade o empresário reconhecer que teria agido com lisura e legitimidade,
pasmem, à vista da afirmação: “Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de
expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos.”, o que somente
demonstra o seu sentimento de mau caretice de simplesmente alimentar e
fortalecer a índole daqueles igualmente de péssimo conduta moral, que convive com
o dinheiro sujo da corrupção, aqui no Brasil.
Também
é bastante estranho que os investimentos realizados no exterior, rigorosamente
na forma da legalidade, tiveram por base recursos obtidos pelo grupo JBS junto
ao BNDES, ou seja, dinheiro público que deveria ter sido aplicado para o
desenvolvimento econômico e social dentro do Brasil, em benefício dos
brasileiros, conforme determina a legislação de regência.
Em que
pese o empresário ter mostrado o lado podre do poder, inclusive no que existe
de pior na cabeça oca do presidente da República, que o ouviu pacientemente e
até concordou com tudo sobre o rosário de crimes debulhados por ele, isso não
significa que ele mereça perdão pelos graves crimes praticados contra os
interesses nacionais, principalmente no que diz respeito às suas ações
promíscuas, que foram perpetradas impunemente até elas serem investigadas pelos
órgãos públicos competentes.
Não
é verdade que o Brasil tenha mudado, porque as mentalidades dos homens públicos
e dos empresários continuam exatamente na dimensão de seus interesses políticos
e econômicos, enquanto as causas nacionais são reduzidas a planos secundários,
como fica muito claro por meio das delações desse cidadão e de seus asseclas, que
somente aprontaram revelações bombásticas, depois do encontro sem saída para
seus negócios no país.
É
lamentável que a monstruosidade dos crimes cometidos por esse empresário, que
viveu o tempo todo se beneficiando de recursos públicos, com origem no BNDES,
conseguidos em troca de propina com o governo petista, conforme mostram os
fatos delituosos, seja agora perdoada por meio de mera delação, que nem mesmo
uma tornozeleira foi aplicada nele, como forma de controle de bandido de altíssima
periculosidade.
Na
verdade, enquanto pôde, o empresário foi
capaz de sangrar os cofres públicos e manipular, com a compra de altas
propinas, a consciência de relevantes autoridades da República, inclusive a do
presidente do país, que caiu como um patinho na conversa mole e altamente interesseira
dele, que serviu para influenciar na sua delação premiada, ou seja, o resultado
desse lamentável episódio mostra que, no Brasil, o crime compensa, porque seus protagonistas
terminam levando vantagem, em evidente prejuízo dos interesses nacionais.
Aproveitando
a lição que o grupo JBS procura transmitir, de que “nós mudamos com ele (com o Brasil)”, os brasileiros também poderiam
se comprometer a mudar de forma radical, somente elegendo seus representantes na
vida pública diante da absoluta certeza de seu caráter, da sua idoneidade e da
sua vocação para defender os interesses da população, em fiel observância aos
princípios da ética, moralidade, honestidade, transparência, dignidade, entre
outros conceitos inerentes à legitimidade no exercício de cargos públicos
eletivos, não possibilitando qualquer chance para o surgimento de empresários
aproveitadores e inescrupulosos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de maio de 2017
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