domingo, 28 de maio de 2017

A perda da credibilidade

A defesa do senador tucano afastado do exercício do cargo, por ter se envolvido em ato de corrupção, apresentou 27 questões aos peritos da Polícia Federal, quanto à gravação a que se refere a conversa que o parlamentar teve com um dos donos da JBS.
O diálogo versa sobre pedido formulado pelo senador mineiro ao empresário, no valor de R$ 2 milhões e defende a aprovação da lei de anistia ao caixa 2 e a do abuso de autoridade, cujas anormalidades ensejaram a Procuradoria Geral da República a solicitar e obter autorização do Supremo Tribunal Federal para promover a investigação do caso.
A gravação em tela foi entregue pelo empresário aos procuradores, no bojo do seu acordo de delação premiada, assim como os gravadores também usados para registrar conversas com o presidente da República e um deputado federal, investigados junto com o senador.
No documento dirigido à Polícia Federal, os advogados do senador pedem descrições detalhadas e técnicas dos arquivos digitais de áudio, a par de questionarem possíveis modificações após o registro da conversa.
Uma parte da petição do senador pretende: “Realizar transcrição completa do conteúdo de todas as falas presentes nos arquivos periciados, com foco em metodologia pericial forense. Registrar todas as ocorrências onde pode haver: (i) incompreensão de palavras ou segmentos; (ii) inteligibilidade duvidosa; (iii) múltiplas hipóteses do que foi dito; (iv) alternâncias auditivas que possibilitam mais de uma transcrição; (v) sobreposição ou simultaneidade de falas; (iv) outros de interesse pericial”.
Com relação aos gravadores, o senador quer saber sobre quem os manuseou desde a gravação, bem assim os arquivos que foram deletados ou mantidos nos equipamentos.
Por seu turno, embora o Ministério Público tenha absoluta certeza quanto à autenticidade do áudio, mesmo assim ele demandou várias perguntas à perícia sobre a gravação, entre elas, se há montagens, trucagens, adulterações ou outras alterações na gravação que indiquem manipulação fraudulenta do áudio, e se a conversa apresenta coerência lógica e contextualização sobre o tema abordado entre os interlocutores.
Na contextualização das investigações preliminares, cabe ao leigo, principalmente ao brasileiro comum, apenas uma pergunta sobre o vídeo divulgado por ele, em sua defesa, em que o tucano se diz, literalmente, ser o segundo político mais honesto do planeta e acusa o empresário que lhe deu R$ 2 milhões de propina, de temeroso e perverso delinquente, se existe alguma verdade nas suas palavras, diante da firmeza e robusteza dos elementos que o incriminam, com relação, não somente a este último episódio, mas também no que respeito às acusações constantes das delações dos executivos da Odebrecht, que também o arrolam como contumaz beneficiário de propinas.
          Na altura dos acontecimentos nebulosos, não é a autenticidade ou não do vídeo que vai alterar a desgraça já materializada na vida política do senador, porque os fatos falam por si sós e não adianta mais se buscar desculpas ou arranjos à Polícia Federal sobre a validade ou não do que consta do vídeo em apreço.
No momento, à vista da robusteza dos fatos, pouco importam as versões sobre eles, diante do seu estrago devastador já causado na carreira política do senador tucano, que obriga, de forma inexorável, o homem público  considerado promissor político a tão somente juntar os cacos e tentar viver o resto da sua existência bem longe das atividades políticas, porque, certamente, nem mesmo os conterrâneos mineiros seriam levianos, medíocres e idiotas para ainda acreditarem em quem foi capaz de trair as suas dignidade e confiança, por ele, como já disse, ter sido ingênuo de se envolver em desastrosos atos de corrupção. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de maio de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário