quarta-feira, 31 de maio de 2017

Acordão vilipendioso

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, os “notáveis” políticos de Brasília estão discutindo acordão que tem por finalidade a utilização de eventual eleição presidencial indireta para “anistiar” o mundo político e erigir o Congresso Nacional como contraponto à Lava-Jato e ao Ministério Público Federal.
Os arquitetos responsáveis pela trama diabólica integram, com predominância, o Senado Federal, que tiveram a maquiavélica ideia de alterar a Constituição Federal, para garantir foro privilegiado para os ex-presidentes da República e os livrará das investigações e ações em tramitação na Justiça, inclusive possivelmente o atual mandatário do país, com exceção apenas do ex-presidente tucano, por não responder a processo algum.
Os encarregados de operar esse milagre no ordenamento jurídico entendem que eventual eleição indireta para a Presidência da República precisa ter o modelo bicameral, em que o candidato seria aprovado pela Câmara dos Deputados, com posterior referendo pelo Senado.
Na realidade, esse procedimento qualifica e atribui maior importância ao voto dos 81 senadores, que teriam expressivo peso em relação aos 513 deputados, fato que teria o condão de diminuir, de forma drástica, as chances do presidente da Câmara a ascender ao Palácio do Planalto.
Os senadores entendem que o presidente da Câmara, se eleito presidente do país, não seria capaz de se impor ao que eles denominam de “jogo baixo da Lava-Jato”, porque, na avaliação deles a cabeça do presidente da Câmara se tornaria o troféu a ser apresentado pela longa fila daqueles que tentam fazer delação premiada.
Sob o prisma dos senadores implicados na Lava-Jato, a gravação da conversa do o presidente do país, feita pelo empresário da JBS, mostra que o Ministério Público Federal está disposto a tudo para “destruir o mundo político”.
O planejamento dos senadores concentra-se em um candidato que tenha disposição e coragem suficientes para enfrentar a opinião pública e frear os procuradores e o juiz federal responsável pela Lava-Jato, o qual, naturalmente, teria a escolha exclusivamente pelos “notáveis”.
Na opinião do grupo do Senado, apenas dois nomes entre os colocados até agora como pré-candidatos têm peso e tamanho para a missão desejada, quais sejam, um ex-ministro (que também já foi ministro da Justiça) e um atual ministro do Supremo Tribunal Federal, justamente aqueles que vêm se opondo, de forma insistente e reiteradamente, contra a Operação Lava-Jato.
A situação, no Senado, é tão emblemática que a nata dos senadores, a considerada “elite política da Casa”, está sob investigação pelo Supremo Tribunal Federal, exatamente pela prática do crime de corrupção, por terem se beneficiado de dinheiro sujo de propina, mais conhecida por caixa 2, mas agora se insurgem contra as medidas judiciais visando à prestação de contas com a Justiça, em absoluto desprezo ao princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei.
O acordão já se encontra bem adiantado e seu delineamento incluem, entre outras medidas, a saída do presidente do pais, que será convencido pelos aliados de que o Tribunal Superior Eleitoral já tem consenso formado pela cassação da chapa e pode até convocar eleições diretas.
O convencimento sobre a renúncia do peemedebista conta com a garantiria do indulto concedido a ele, por meio da imunidade penal a ser dada pelo futuro presidente, e, em sequência, viria a votação da Proposta de Emenda à Constituição, que manteria o foro privilegiado a ex-presidentes, evitando que o caso dele chegue até o juiz da Lava-Jato, cujos efeitos dessa PEC se estenderia ao ex-presidente da República petista, livrando-o das garras implacáveis do juiz federal, constituindo a parte que mais interessa ao PT, por salvar o seu líder maior da degola.
O acordão contempla medida que autoriza o futuro presidente do país a convocar Assembleia Constituinte e a garantia da aprovação de minerreforma da Previdência, tendo como objetivo acalmar os mercados e o setor produtivo.
A Constituinte teria a finalidade de instituir eleições e mandatos a promotores e procuradores, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos da América, o que nem precisa dizer que a fúria senatorial atingiria em cheio a estrutura desses abnegados servidores públicos.
Sendo verdadeiros os fatos noticiados pelo jornal O Estado de S.Paulo, não há dúvida de que um bando de parlamentares inescrupulosos e antipatrióticos estariam prestes a cometerem crime de lesa-pátria, justamente por se aproveitar do cargo de presidente da República para a satisfação de objetivos escuros e de cunho personalista, com a adoção de medidas que podem levar à impunidade de criminosos que causaram enormes prejuízos aos princípios da honestidade, legalidade, idoneidade e dignidade, de modo que a imunidade os colocariam em condições de exercer normalmente cargos públicos eletivos, como se os seus envolvimentos em atos de corrupção jamais tivesse acontecido.
Trata-se de manobras engendradas por políticos da pior espécie, que não se envergonham de tramar algo jamais imagináveis na história republicana, por ficar explícita forma de aviltamento das atividades políticas, com a composição e a efetivação de ideias destinadas a dar contornos de constitucionalidade atos da mais pura indignidade, quais sejam, livrar da condenação políticos de índole visivelmente contrária aos interesses nacionais, por terem se envolvido em atos de corrução, tendo como objetivos a absoluta dominação das classes política e social e a conquista do poder e a perpetuidade nele, tendo como pano de fundo a roubalheira dos cofres públicos, a exemplo dos desvios de recursos da Petrobras.
Nessa mesma linha de crime de lesa-pátria, comungam todos aqueles que podem servir de instrumentos para a concretização de planos diabólicos, como no caso de ex-ministro e de ministro do Supremo, que estariam dispostos a aceitar a indicação de candidato à Presidência, com a anuência de executar os planos visivelmente adequados ao atendimento de grupos políticos, com a imunidade de altos políticos, em cristalina afronta aos princípios da honestidade, legalidade e dignidade que devem inspirar as práticas cívicas e patrióticas.
Trata-se de completa e indiscutível degeneração das atividades políticas, principalmente pelo envolvimento dos considerados principais políticos do país em planos de cunho visivelmente golpista, que tem por objetivo atender interesses pessoais, em detrimento do interesse público, que certamente não tem o apoio da opinião pública e muito menos dos brasileiros honrados e dignos, que aspiram, ao contrário, pela moralização das atividades políticas, como forma de modernização e aperfeiçoamento dos princípios republicano e democrático.
É preciso que os brasileiros tomem conhecimento desse esdrúxulo plano de salvação dos políticos corruptos, que já causaram gigantescos prejuízos ao interesse nacional e agora pretendem se livrar das garras da Justiça, por meio de medidas espúrias e contrárias aos princípios da boa conduta, do decoro, da idoneidade, da dignidade que devem imperar nas atividades políticas, em clara demonstração de dissonância com a evolução e o aperfeiçoamento da racionalidade e civilidade, como forma de consolidação dos conceitos de cidadania e brasilidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 31 de maio de 2017

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