segunda-feira, 8 de maio de 2017

Refundação ou depuração?

Alguns caciques do PSDB pensam em "refundar" o partido e tentar livrá-lo do desgaste provocado pelas investigações da Operação Lava-Jato, que mostraram o envolvimento de líderes da agremiação com esquemas de propina e financiamentos de campanha com dinheiro de caixa 2.
A ideia da refundação do partido surgiu depois da divulgação de pesquisas internas, que apontaram a existência de crise política suscitada pelas revelações da força-tarefa e o apoio do PSDB ao governo, que propiciaram o distanciamento do partido de seus eleitores.
Segundo o jornal a Folha de São Paulo, alguns integrantes do partido já teriam conversado com o ex-presidente tucano sobre o assunto, o qual já estaria de acordo com a ideia em causa.
O grupo pensa em reforçar os compromissos éticos e as bandeiras liberais, mas principalmente reconhecer erros e recuperar o eleitorado que era cativo e se bandeou para outros partidos.
Alguns membros da cúpula do partido pretendem começar a estratégia no próximo semestre, em antecipação às eleições de 2018.
Não obstante, há quem discorde dessa ideia e resiste em apoiar a causa, por receio de perder espaço na estrutura partidária, em clara demonstração de defesa de interesse estritamente pessoal.
O governador do Paraná partiu em defesa do status quo, ao afirmar que "O PSDB não tem que se envergonhar de nada. Tem que se orgulhar do que já fez pelo país, mas tem sempre que se atualizar, com posturas mais claras e transparentes".
Já o senador mineiro, que é presidente do partido, disse que o PSDB vai recuperar esse eleitorado, porque "É natural que muitos eleitores flertem com outras candidaturas. No momento do voto definitivo, eles vão votar no caminho seguro, do aprofundamento das reformas e da experiência na gestão, que é o PSDB."
A refundação de partido, com o objetivo de limpar a sua imagem, segundo a preocupação dos caciques, se faz com a expulsão dos maus políticos que se envolveram em falcatruas, como caixa 2 e outras situações do gênero, de modo que seja passada a régua, sem piedade, com base, em especial, nos parâmetros da ética, do decoro e da moralidade.
Nenhuma agremiação pode ter nos seus quadros homens públicos com passado sujo, que sejam suspeitos da prática de irregularidade, porque isso é motivo suficiente para a perda da credibilidade, pelos padrões de moralidade que devem imperar no sistema político.
Não pode existir maior decepção para o eleitor que votou para presidente da República, repita-se, presidente da República e depois ver o nome desse político nas páginas policiais, pela acusação de ter liderado esquemas de propinoduto, com relação ao sistema elétrico e outras indignidades.
          Pessoa dessa índole não pode mais pertencer a nenhum partido político, porque perdeu a condição ética e moral de representar o povo.
Chega a ser ridículo que, diante de tanta degeneração dos princípios ético e moral, ainda se pense em refundar agremiação, para continuar tudo exatamente como antes, com os mesmos filiados e os políticos de sempre, tentando apenas passar nova imagem para a população, quando os atores são os mesmos e já perderam a credibilidade política.
Enfim, quando é que a mentalidade dos políticos tupiniquins vai enxergar que os brasileiros honrados anseiam, com a maior avidez, por moralização, repita-se, moralização também no funcionamento dos partidos políticos?
As lideranças políticas precisam aprender, com urgência, que a forma correta de limpeza partidária não será jamais por meio da sua refundação ou algo artificioso semelhante, mas sim pela moralização da sigla, a começar pelo levantamento dos maus políticos que macularam a dignidade na vida pública, usando cargo para tanto, por terem sujado, por meio de práticas vergonhosas, à luz da visão do povo e não na ótica obscura do político, a dignidade das atividades políticas, outorgadas com a melhor das intenções pelo voto universal aos homens públicos, que se envolveram em falcatruas, para o fim de eliminá-los de suas fileiras.
É evidente que essa deputação e não refundação partidária há de contribuir para o retorno dos eleitores que se decepcionaram com a imundície protagonizada com o beneplácito do silêncio da cúpula do partido, permitindo práticas não condizentes com os princípios de boas condutas e de idoneidade, inerentes às atividades públicas.
Urge que os partidos políticos se conscientizem sobre a necessidade de se evitar que homens públicos inescrupulosos e gananciosos, não importando a sua posição dentro da agremiação, possam continuar como seu filiado, a partir da constatação de qualquer infidelidade aos princípios da ética, do decoro, da moralidade, da dignidade e de outros inerentes à legitimidade para o exercício de cargos públicos, cujos titulares têm o dever de observar e respeitar as lições de honestidade e do verdadeiro sentido de atividades públicas, a exemplo do que fazem os políticos dos países sérios, civilizados e evoluídos democraticamente. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES

          Brasília, em 8 de maio de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário