O
depoimento do maior político do pais ao juiz responsável pela Operação
Lava-Jato foi cercado de muitas expectativas, mas tudo não passou de pura teatralização
da peça que ele mais domina no cenário político, ao reiterar estratégia adotada
nos momentos em que sua honestidade é colocada à prova.
O
político simplesmente negou ter qualquer relação com o famoso tríplex do
Guarujá e aproveitou o ensejo para focar sua pesada artilharia contra o
Ministério Público e a imprensa, com os velhos e manjados argumentos de vitimização
e de perseguição política, a par de ainda ter refutado qualquer
responsabilidade quanto aos estragos causados ao patrimônio da Petrobras.
Ele
adiantou que apenas ouvira “boatos” acerca da roubalheira protagonizada à
vontade na estatal, muito embora haver jurado não saber de nada efetivo, fato
que destoa das afirmações de delatores que mantinham contato íntimo com ele,
como o ex-diretor de Serviços da empresa, no sentido de que o político tinha “pleno conhecimento” da derrama nos
cofres da estatal.
Convém
lembrar que a situação do político é bastante complicada na Justiça, por já ser
réu em cinco ações penais, sob a acusação da prática de graves crimes, como
corrupção (dezessete vezes), lavagem de dinheiro (211 vezes), tráfico de
influência (quatro vezes), organização criminosa (três vezes) e obstrução de Justiça
(uma vez).
Dessa
vez, ele falou em juízo com relação às acusações de ter se beneficiado do “caixa-geral” de propinas da OAS, decorrentes
de recursos desviados de contratos referentes a obras de três refinarias.
Embora o
político tivesse pedido ao juiz que evitasse fazer perguntas com relação à sua
ex-mulher, ele, sem o mínimo de escrúpulo, delegou a ela as responsabilidades
sobre o interesse pelo imóvel, visitas à unidade e todo o protagonismo no
direito de aquisição da propriedade, como que dizendo que não sabia de nada e
não tinha nada com a questão.
Ele
acusou o Ministério Público de ter feito esforço concentrado, próximo do
depoimento, para “... trazer todo mundo
pra falar uma senha chamada Lula. O objetivo era dizer Lula. Se não dissesse
Lula, não valia.”, fato esse que provocou incômodo ao juiz, que lhe
perguntou: “O senhor entende que existe
uma conspiração contra o senhor?”.
Sem
responder a indagação do juiz, o político prosseguiu na crítica, dizendo que a
Lava-Jato prende para obter acordos de delação premiada e isso teria levado o
empreiteiro da OAS a acusá-lo. “Então
delatar virou na verdade quase que o alvará de soltura dessa gente.”, disse
ele.
O político
afirmou que, antes da Lava-Jato, estava decidido a não disputar mais eleições, tendo
mudado de ideia com o avanço das investigações e asseverou: “Depois de tudo o que está acontecendo, estou
dizendo em alto e bom som que vou querer ser candidato à Presidência da
República outra vez”.
A aludida
afirmação foi feita depois de o juiz ter perguntado se era verdade que ele
teria afirmado, ao final da condução coercitiva de que foi alvo, que
conquistaria novo mandato e se lembraria de cada agente envolvido naquela ação,
tendo respondido que “Não sei se disse
que me lembraria de todos eles. Sinceramente. Também não sei se disse que seria
eleito em 2018.”.
Voltando
a adotar o discurso de vitimização, o político apontou sua artilharia em
direção ao Ministério Público, mas especificamente contra o procurador coordenador
da força-tarefa da Lava-Jato e sua famosa apresentação de Power Point, que contém
acusação de que ele é o chefe do petrolão.
O
político disse que “(...) O contexto está
baseado num Power Point mentiroso, malfeito, da Operação Lava-Jato. Aliás, o
doutor Dallagnol que fez a apresentação não tá aqui. Deveria estar aqui, para
ele explicar aquele famoso Power Point. Aquilo é uma caçamba, onde cabe tudo.
Aquele Power Point não está julgando pessoa física ou pessoa jurídica. Está
julgando o Lula presidente da República, e isso eu quero discutir”.
As críticas
foram estendidas aos procuradores da Lava-Jato, nestes termos: “Como eu considero esse processo ilegítimo e
a denúncia, uma farsa, eu estou aqui em respeito à lei, em respeito à nossa
Constituição. Mas (com) muitas
ressalvas com o comportamento dos procuradores da Lava-Jato.”.
O político
se recusou a comentar o conteúdo de mensagens telefônicas de executivos da OAS,
que mostram que ele era o beneficiário da reforma do tríplex. Ele disse que “Eu vim aqui preparado para responder tudo o
que perguntar e para não ficar nervoso. Se tem uma coisa para que eu me
preparei foi para não ficar nervoso. Agora, eu quero lhe dizer uma coisa: eu
não sou obrigado a responder mensagens que o Ministério Público pegou entre
duas pessoas alheias a mim”.
O ex-presidente
disse que desconhece a existência do dinheiro investido pela OAS na reforma do
tríplex, que teria saído, segundo informado pelo empreiteiro, de uma
conta-propina abastecida com dinheiro desviado da Petrobras.
Na
tentativa de se desvincular da propriedade do tríplex, o político disse que
nunca teve a intenção de adquirir o imóvel, porque ele “tinha 500 defeitos. Quando eu
fui ao apartamento, percebi que aquele apartamento era praticamente
inutilizável por mim, pelo fato de eu ser, independente da minha vontade, uma
figura pública. Eu só poderia ir naquela praia ou segunda-feira ou quarta-feira
de Cinzas”.
Em suas
declarações finais, o petista até tentou fazer discurso político, ao querer contar
como desafiou as expectativas, ao se eleger presidente pela primeira vez, como
salvou a Petrobras e, como sempre, tentou alardear conquistas de seu
governo, mas o juiz se incomodou em ver a audiência se transformar num palanque
e o interrompeu em pelo menos três oportunidades, dizendo que “Não é para fazer um apanhado do que (o
senhor) fez no seu governo. Não é
programa eleitoral”.
É
evidente que o ex-presidente não aí confirmar em juízo que o tríplex havia sido
preparado para ele, com recursos alocados em conta-propina, irrigada com
dinheiro da Petrobras, porque isso seria esperar muita ingenuidade por parte do
homem mais honesto do mundo.
Não
obstante, o conjunto dos fatos mostra, com bastante evidência, diante das
circunstâncias, que o imóvel não teria sido reformado com tanto requinte de
detalhes se não tivesse por trás o interesse dele e da sua ex-esposa, à vista
dos elementos sobejamente inseridos nos autos e das afirmações do empreiteiro e
de executivos da OAS, assegurando que o imóvel teria sido reservado e preparado
para o político.
O
simples fato de não se confirmar a propriedade do imóvel, por meio de escritura
pública, não afasta, por si só, a possibilidade de ele ser proprietário do
tríplex, diante de haver omissão de patrimônio, fato que é muito normal em se
tratando de possível transação ilícita, o que pode ser o caso em comento,
quando o valor do imóvel e das reformas seria coberto por conta constituída por
recursos provenientes de propina desviada da Petrobras, aberta em nome do
político ou do seu partido, segundo afirmação do ex-presidente da OAS.
Nesse
caso, a Justiça precisa apenas confirmar - o que parece não ser muito difícil -
os pagamentos das despesas referentes às reformas por meio da citada conta, ou
seja, os pagamentos havidos precisam coincidir com as despesas realizadas, com
se pode confirmar o uso indevido de recursos públicos. Nesse caso, a simples
movimentação da conta em nome do petista ou do seu partido atesta os gastos com
a reforma e, consequentemente, com o pagamento do próprio imóvel, tudo com
valor oriundo de propina.
Urge
que os fatos se tornem absolutamente transparentes, mostrando a verdade e, se
for o caso, o envolvimento e a culpa daqueles que insistem em enganar a boa
vontade e a ingenuidade dos brasileiros, que não merecem ser representados por homens
públicos destituídos e descaracterizados dos verdadeiros sentimentos de
dignidade, honestidade e idoneidade inerentes às atividades públicas. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de maio de 2017
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