Em resposta a interrogatório no âmbito de ação
penal na qual o petista também é réu, um ex-diretor da OAS afirmou ao juiz
federal da Operação Lava-Jato que o triplex 164-A do Edifício Solaris, no
Guarujá (SP), estava “reservado” para
o político.
A denúncia do Ministério Público Federal, que foi
aceita pela Justiça, sustenta que o político recebeu R$ 3,7 milhões em
benefício próprio – do valor total de R$ 87 milhões de corrupção – da
empreiteira OAS, no período de 2006 a 2012.
As acusações contra o político se referem a
possível recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS, por meio do aludido
imóvel e ao pagamento de despesas pertinentes ao armazenamento de bens do
acervo presidencial, compreendendo o período de 2011 a 2016.
O depoente declarou que o tríplex “nunca” foi colocado à venda pública,
porque outro ex-diretor lhe havia dito “que
tinha reserva do apartamento e que não podia ser vendido”.
Ele afirmou: “Eu
recebi dele (executivo da OAS) uma
planilha das unidades que estavam livres ou não para vender e as que estavam
livres, eu cuidava, a partir de 2014, de vender as unidades. Uma reserva específica para ele (ex-presidente),
da unidade 164.”.
O depoente afirmou ao Ministério Público Federal que
a unidade 164-A “nunca” esteve à
venda na planilha.
O ex-diretor afirmou que “soube ao final de 2013, que a Dona Marisa Letícia tinha uma cota dessa
unidade 141 e que a unidade 164, tríplex, estava reservada para a dona Marisa e
o ex-presidente”.
O depoente afirmou que foi um dos responsáveis pela
reforma do triplex, cujas obras, segundo disse, custaram cerca de R$ 1,1
milhão.
Ele descreveu as obras realizadas assim: “Tinha uma alteração na escada, tinha uma
escada que ligava do primeiro pavimento para o segundo do apartamento que era
uma escada redonda, helicoidal, muito ruim. Tinha, principalmente, que tirar
essa escada, fazer uma escada reta, acrescentar um quarto na parte de baixo,
colocar piso. O apartamento era entregue no cimento, no contra piso, então,
colocar piso em todas as áreas. Fazer um reparo na piscina, tinha um problema
de infiltração, que aliás tem até hoje, um problema de infiltração sério na
piscina, na cobertura, no último pavimento. Fazer uma adequação no deck lá de
cima e colocar uma churrasqueira.”.
O executivo relatou que houve pedido “para colocar armários na cozinha, armários
nos quartos e colocar também eletrodomésticos. Nesse intervalo, houve uma sugestão de Paulo Gordilho (executivo
ligado à OAS) para que colocasse um
elevador privativo dentro da unidade para facilitar o acesso entre os três
pavimentos. Não era passada nenhuma
justificativa. Era para que fizesse para entregar para o ex-presidente.”.
Combinado
ou não, os então diretores da empreiteira OAS dizem, em uníssona reiteração que
o questionado imóvel não podia ser vendido porque já estava reservado para o principal
político do país, ou seja, ele já tinha dono, mas não assumiu certamente por
óbvios motivos.
Outro
fato que não sofre qualquer discrepância é o que diz respeito às reformas
realizadas no imóvel, com recursos da conta reservada para o partido do político,
todas em atendimento às requintadas exigências da ex-primeira-dama, que até participou,
de forma ativa, do detalhamento dos projetos sobre as melhorias no imóvel.
Diante
de robusteza dos detalhes sobre as informações, respaldadas por elementos de
convicção, que caracterizam provas suficientes e juridicamente válidas, fica
muito difícil não se convencer de que o imóvel em questão não pertença ao
político, mesmo que ele insista em negar.
O
que falta para ele se convencer que os fatos não mentem jamais e que, quanto
mais se nega, mais se confirma a veracidade sobre a propriedade do imóvel, que
nem precisa de documento assinado por ele, porque quem comete deslize ou
ilícito não vai pôr a sua assinatura e muito menos deixar rastro, para
facilitar a identificação sobre o verdadeiro histórico, porque os próprios
fatos cuidam de dizer a verdade e ela não poderia se apresentar com tamanha
transparência.
É
até muito provável que ainda tenha alguém que não acredite que o político não
teria praticado tamanha ingenuidade de se envolver em gigantesca enroscada, de
ter aceitado presente de imóvel valioso nessas condições, completamente
reformado, sabendo que tal procedimento não condiz, nem aqui nem alhures, com
os princípios da moralidade, honestidade e dignidade inerentes aos homens
públicos, que precisam, acima de tudo, dar exemplo de idoneidade e de conduta
de decência. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de maio de 2017
(Com este artigo, eu concluo meu 25º livro)
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