domingo, 14 de maio de 2017

Exemplo de promiscuidade

Em resposta a interrogatório no âmbito de ação penal na qual o petista também é réu, um ex-diretor da OAS afirmou ao juiz federal da Operação Lava-Jato que o triplex 164-A do Edifício Solaris, no Guarujá (SP), estava “reservado” para o político.
A denúncia do Ministério Público Federal, que foi aceita pela Justiça, sustenta que o político recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio – do valor total de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS, no período de 2006 a 2012.
As acusações contra o político se referem a possível recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS, por meio do aludido imóvel e ao pagamento de despesas pertinentes ao armazenamento de bens do acervo presidencial, compreendendo o período de 2011 a 2016.
O depoente declarou que o tríplex “nunca” foi colocado à venda pública, porque outro ex-diretor lhe havia dito “que tinha reserva do apartamento e que não podia ser vendido”.
Ele afirmou: “Eu recebi dele (executivo da OAS) uma planilha das unidades que estavam livres ou não para vender e as que estavam livres, eu cuidava, a partir de 2014, de vender as unidades. Uma reserva específica para ele (ex-presidente), da unidade 164.”.
O depoente afirmou ao Ministério Público Federal que a unidade 164-A “nunca” esteve à venda na planilha.
O ex-diretor afirmou que “soube ao final de 2013, que a Dona Marisa Letícia tinha uma cota dessa unidade 141 e que a unidade 164, tríplex, estava reservada para a dona Marisa e o ex-presidente”.
O depoente afirmou que foi um dos responsáveis pela reforma do triplex, cujas obras, segundo disse, custaram cerca de R$ 1,1 milhão.
Ele descreveu as obras realizadas assim: “Tinha uma alteração na escada, tinha uma escada que ligava do primeiro pavimento para o segundo do apartamento que era uma escada redonda, helicoidal, muito ruim. Tinha, principalmente, que tirar essa escada, fazer uma escada reta, acrescentar um quarto na parte de baixo, colocar piso. O apartamento era entregue no cimento, no contra piso, então, colocar piso em todas as áreas. Fazer um reparo na piscina, tinha um problema de infiltração, que aliás tem até hoje, um problema de infiltração sério na piscina, na cobertura, no último pavimento. Fazer uma adequação no deck lá de cima e colocar uma churrasqueira.”.
O executivo relatou que houve pedido “para colocar armários na cozinha, armários nos quartos e colocar também eletrodomésticos. Nesse intervalo, houve uma sugestão de Paulo Gordilho (executivo ligado à OAS) para que colocasse um elevador privativo dentro da unidade para facilitar o acesso entre os três pavimentos. Não era passada nenhuma justificativa. Era para que fizesse para entregar para o ex-presidente.”.
Combinado ou não, os então diretores da empreiteira OAS dizem, em uníssona reiteração que o questionado imóvel não podia ser vendido porque já estava reservado para o principal político do país, ou seja, ele já tinha dono, mas não assumiu certamente por óbvios motivos.
Outro fato que não sofre qualquer discrepância é o que diz respeito às reformas realizadas no imóvel, com recursos da conta reservada para o partido do político, todas em atendimento às requintadas exigências da ex-primeira-dama, que até participou, de forma ativa, do detalhamento dos projetos sobre as melhorias no imóvel.
Diante de robusteza dos detalhes sobre as informações, respaldadas por elementos de convicção, que caracterizam provas suficientes e juridicamente válidas, fica muito difícil não se convencer de que o imóvel em questão não pertença ao político, mesmo que ele insista em negar.
O que falta para ele se convencer que os fatos não mentem jamais e que, quanto mais se nega, mais se confirma a veracidade sobre a propriedade do imóvel, que nem precisa de documento assinado por ele, porque quem comete deslize ou ilícito não vai pôr a sua assinatura e muito menos deixar rastro, para facilitar a identificação sobre o verdadeiro histórico, porque os próprios fatos cuidam de dizer a verdade e ela não poderia se apresentar com tamanha transparência.
É até muito provável que ainda tenha alguém que não acredite que o político não teria praticado tamanha ingenuidade de se envolver em gigantesca enroscada, de ter aceitado presente de imóvel valioso nessas condições, completamente reformado, sabendo que tal procedimento não condiz, nem aqui nem alhures, com os princípios da moralidade, honestidade e dignidade inerentes aos homens públicos, que precisam, acima de tudo, dar exemplo de idoneidade e de conduta de decência. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de maio de 2017
(Com este artigo, eu concluo meu 25º livro) 

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