segunda-feira, 22 de maio de 2017

Dissonância com a evolução

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral marcou para 6 de junho a retomada do julgamento da ação em que o PSDB pede a cassação da chapa presidencial PT-PMDB, vencedora das eleições presidenciais de 2014, para cuja análise da causa foram definidas quatro sessões, a serem realizadas nos dias seguintes.
A ação foi liberada para julgamento pelo relator, após a juntada da manifestação do Ministério Público Federal e das alegações finais das defesas dos titulares da referida chapa.
O novo parecer do Ministério Público repete o posicionamento enviado ao TSE em março, antes da interrupção do julgamento, quando o tribunal decidiu conceder mais prazo para as defesas se manifestarem. 
De acordo com o parecer ministerial, além da cassação da chapa, o tribunal também deverá considerar a possibilidade da inelegibilidade da ex-presidente, por oito anos, nos termos da lei.
Veja-se que, após o resultado das eleições de 2014, o PSDB imediatamente impetrou ação, quando o TSE deu início ao julgamento sobre as suspeitas de irregularidade nos repasses de valores às gráficas que prestaram serviços para a campanha eleitoral da chapa em preço.
Recentemente, o relator houve por bem incluir, no processo, os depoimentos dos delatores ligados à empreiteira Odebrecht investigados na Operação Lava-Jato, à vista da constatação de que os delatores relataram que fizeram repasses ilegais para a campanha presidencial em causa.
Em dezembro de 2014, as contas da campanha da então presidente do país e de seu vice foram aprovadas, com ressalvas, por unanimidade no TSE.
Não obstante, o processo foi reaberto, em razão do recurso em tela, diante dos questionamentos do PSDB, por entender que há irregularidades nas prestações de contas em apreço, por apresentarem recursos do esquema de corrupção investigado na Operação Lava-Jato.
Na forma da legislação eleitoral, a prestação de contas da presidente e do vice-presidente é apresentada e julgada em conjunto.
O Comitê de campanha da ex-presidente nega qualquer irregularidade e sustenta que todo o processo de contratação das empresas e de distribuição dos produtos foi documentado e monitorado.
A defesa do atual presidente do país sustenta que a campanha eleitoral do PMDB não tem relação com os pagamentos suspeitos do PT e que, de acordo com ela, não há qualquer irregularidade no pagamento dos serviços.
À toda evidência, a Justiça Eleitoral brasileira ainda se encontra engatinhando e a ano-luz da evolução mundial, quando somente consegue julgar gravíssima irregularidade no pleito eleitoral, ou seja, abusivo uso de dinheiro sujo, desviado dos cofres públicos, mais de dois anos do anúncio do resultado da disputa eleitoral, i.e., em evidencia de verdadeira esculhambação, ao se imaginar que os eleitos podem ter governado o país, sem legitimidade, por mais de dois anos.
Isso é um absurdo, porque totalmente inadmissível, em termos de país sério, civilizado e evoluído democraticamente, ante a certeza de que eles jamais tomariam posse, porque seriam condenados e passariam a data da posse na cadeia, justamente por terem praticados atos contrários aos princípios da ética, da probidade, da moralidade, do decoro, da dignidade, entre outros conceitos exigidos para a legitimidade do exercício de cargos públicos eletivos.
A Justiça Eleitoral precisa se aparelhar, com urgência, para julgar os casos de irregularidades eleitorais em tempo hábil de sequer permitir que seja homologado o resultado do pleito e, por via de consequência, os criminosos eleitorais tomem posse, como forma de moralização do sistema eleitoral, que precisa se modernizar por meio do aperfeiçoamento da legislação pertinente, de modo que permita o julgamento das ações sob a sua alçada antes da posse daqueles que se elegeram por meio ilícito, à semelhança da chapa sob julgamento agora, pasmem, mais de dois anos da proclamação do resultado das eleições. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 22 de maio de 2017

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