O
partido que ainda se acha o mais ético do país tenta salvar o seu maior líder,
como forma da própria sobrevivência, e, para tanto, a única forma possível será
recolocá-lo no Palácio do Planalto, sob qualquer sacrifício.
Muitos
simpatizantes ideológicos e algumas cabeças iluminadas da elite pensante estão
se esforçando para encontrar fórmula mágica para possibilitar a volta dele ao
poder, como forma de eliminar o que eles chamam de “perseguição odiosa e sem sentido algum” contra os líderes do
partido, quase todos envolvidos em acusação da prática de irregulares com
dinheiro público e alguns já presos, o que dá a verdadeira dimensão do nível da
liderança partidária.
O
plano de redenção da cúpula partidária é ambicioso, passando pela liberdade das
velhas raposas, que se integrariam nos quadros que devem trabalhar para
soerguer as estruturas esfarrapadas pelo bombardeio das graves acusações que
pipocam em todos os lugares, minando cada vez mais suas bases.
A
ação que visa à recuperação do cacique-mor já começou a ser arquitetada e logo
em breve irá ganhar os meios de comunicação, enchendo as ruas e os programas
de marketing, tendo como carro-chefe “plano
econômico”, que vem sendo trabalhado por especialistas de primeira linha e
objetiva salvar o país da crise, que foi criada pelo próprio partido, mas, a
seu modo de ser, isso faz parte de passado considerado, por ele, como já superado.
É
pela via da reeleição que o homem mais honesto do planeta e “salvador da pátria”, perseguido e difamado
por seus opositores, como assim ele é qualificado, quer encontrar o caminho da
conquista do poder, fazendo uso das já surradas mandingas encrustadas em mentiras e distorções de fatos em favor de suas
causas e em abusos de chavões para tentar vitimar os aliados, além de pretender induzir a população a acreditar que as
acusações contra o partido e integrantes não passam de invencionice, armação e
injustiça articuladas para incriminar de morte a agremiação.
Há
pouco tempo, participantes de movimentos sociais expediram manifesto de
artistas e intelectuais defendendo o imediato lançamento da candidatura do
político-mor à Presidência da República, que se convenceu do cabimento dessa
medida, embora isso contraria o calendário eleitoral em mais de um ano, como se
isso fosse normal.
A
corrida desenfreada para se encontrar saída honrosa para o cacique visa
livrá-lo da prisão, que se vislumbra inevitável, embora isso só evidencia que
ele não é tão imaculado assim, porque, ao contrário, esse temor não era tão
acentuado, mostrando um tanto de esdrúxulo, haja vista que a honestidade, a
idoneidade, pressupõe nenhum temor de penalidade.
Mas
o que se dizer, no caso de alguém já ser réu em cinco processos, acusado pelo
Ministério Público Federal de comandar quadrilha criminosa, traficar
influência, obstruir a Justiça, atentar contra o patrimônio público?
Mesmo
assim, ele e seu grupo só pensam em agilizar a sua candidatura para tentar
virar a página das denúncias e comandar, novamente, a República tupiniquim que
seu partido conseguiu chafurdar e virar de ponta-cabeça, principalmente quanto
à execução do sistema econômico e aos princípios da ética e da moralidade.
Imagine
o panorama em que o personagem se autoproclama a alma mais pura do mundo –
somente igualável a Jesus Cristo, nas suas palavras –, tenha a sorte da vitória
nas urnas e depois seja, graças à morosidade do Judiciário, condenado em razão
da série infindável de crimes pela prática dos atos irregulares cuja autoria que
lhe seja atribuída?
É
evidente que essa situação surreal aconselharia jamais se pensar em candidatura
enquanto estiver vinculado aos horrores dos processos na Justiça, em que pesem
boas chances de vitória eleitoral, que não seria nada agradável para o país e
seu povo.
As
pesadas acusações que estão sendo investigadas e as provas constantes das
denúncias já seriam mais que suficientes para um cidadão comum ser preso, onde
passaria a responder como réu, uma vez que presos da Lava-Jato já foram
condenados por muito menos, exatamente porque não têm o prestígio de
ex-mandatário do país.
Apesar
de esculhambar o Judiciário, tentar desacreditar o juiz de Curitiba, usar e
abusar de ardis para procrastinar a tramitação das ações, o político permanece
serenamente na sua campanha ao Palácio do Planalto, tentando inflamar a
militância com a propaganda de ser o verdadeiro salvador da pátria.
Nos
países com um pouco de evolução, os crimes são julgados quase que imediatamente
aos fatos, mas no país tupiniquim os processos se arrastam numa morosidade que
muitos investigados ou réus até esquecem que são acusados de alguma
irregularidade.
Já
passou do tempo de as investigações contra os políticos passarem a merecer
cuidados especiais, no sentido de que os fatos sejam resolvidos com a maior
celeridade possível, de modo que as sentenças absolvitórias ou condenatórias sejam
preferidas sem mais delongas, em benefício da sociedade e do país.
Embora
o político tente encarar os fatos como se não fosse o principal personagem que se
encontra no olho do furacão e que não houvesse nada de errado, capaz de
obstaculizar sua vida política, há muita discordância sobre isso, inclusive intramuros
do partido, pelo simples entendimento da existência dos laudatórios documentos,
indícios e testemunhas contra o político.
Nos
países sérios e com o mínimo de evolução, a Justiça é estruturada para
funcionar em compatibilidade com indispensáveis presteza e celeridade, em
atendimento aos anseios da sociedade, que precisa ter certeza de que os
malfeitos, as irregularidades, as ilicitudes são chagas imperdoáveis que não
podem continuar impunes, sob pena de os transgressores se julgarem desafiadores
de tudo e todos e ainda de se passarem por pessoas mais honestas e mais puras, mesmo que os fatos apontem para outra direção.
Convém
que a Justiça se esforce ao máximo para abreviar, com urgência, a sua
inoperância tão prejudicial aos interesses nacionais, por permitir que pessoas,
mesmas envolvidas em suspeitas da prática de corrupção, se achem no direito de
ocupar o principal cargo do país, sem se atentarem que o ordenamento jurídica
pátrio exige, mesmo que elas ainda não tenham sido condenadas, a comprovação de
conduta ilibada, idoneidade e inexistência de qualquer espécie de suspeita
sobre deslizes contra os princípios da ética, moralidade, dignidade, entre
outros ínsitos das atividades políticas, que são necessárias a mostrarem o
sentido da correção de conduta, sob pena de se desacreditar os consagrados
princípios democrático e republicano.
Não
há a menor dúvida de que a tentativa de antecipar o lançamento de candidatura a
cargo público eletivo, quando o pleito propriamente dito ainda se distancia de
mais de ano, é clara demonstração de atropelamento e burla aos princípios da
ética, moralidade e dignidade, sobretudo quando existem fatos suspeitos de
irregularidades, que exigem antecipadas justificativas e explicações, como
forma de prestação de contas à sociedade sobre os atos praticados como homem
público, que não pode se esquivar à sua responsabilidade de mostrar licitude
quanto aos seus procedimentos na vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 9 de maio de 2017
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