Um
diretor da Odebrecht trouxe novos detalhes de como a empreiteira atuou na
reforma do sítio que é de amigos do maior político brasileiro, tendo
apresentado minucioso relato de como as obras teriam sido executadas, entre
dezembro de 2010 e janeiro de 2011, quando o político deixou a Presidência da
República.
Ele
disse que até comprou um cofre para guardar os R$ 700 mil, em espécie, que
foram usados para bancar a reforma, nestes termos: “Nunca tinha manejado uma obra com somas dessa natureza. Então, eu comprei
um cofre desses que você compra nesses caminhões. Coloquei dentro do armário da
minha sala”.
O
diretor afirmou que as cifras vieram do setor de Operações Estruturadas, o
célebre departamento de propinas da Odebrecht.
Ele
confessou que, semanalmente, separava R$ 100 mil, em envelopes, para
entregar ao engenheiro da Odebrecht, responsável pelas obras do sítio, que
repassava os valores para pessoa identificada como sendo o então assessor
especial do político.
O
delator disse que foram executadas as obras de construção de um alojamento para
os seguranças do político, uma edícula de quatro suítes, uma sauna, uma adega e
o conserto de vazamento na piscina.
O
delator explicou que “O senhor Aurélio (assessor
do político) até pediu para fazer mais
coisas, como um pomar, quadra de tênis, mas não foi possível pelo prazo e
pelo período chuvoso”.
Após
a conclusão das obras, o diretor disse que foi chamado pelo advogado do
político, que o orientou a produzir contrato falso para, conforme suas
palavras, “regularizar a construção de
forma que não parecesse que ela tinha sido feita para benefício de Lula nem
tampouco pela Odebrecht”.
O
delator disse que elaborou o documento, redigido em nome do dono legal do sítio,
com uma empreiteira local, com o custo de R$ 150 mil: “o valor mais baixo para ser com compatível com a renda de Bittar”.
Segundo ele, a nota fiscal emitida e o contrato falso foram entregues em mãos ao
citado advogado.
O
delator afirmou ter sido informado por seus superiores de que as obras eram
destinadas ao ex-presidente, mas não teve nenhum contato com ele nem com
algum de seus familiares. Ele contou que “Às
vezes, o Frederico (o engenheiro) ia
perguntar algum detalhe técnico da obra e o Aurélio (o assessor do
político) dizia que iria perguntar para
dona Marisa (ex-primeira-dama).
Outros
executivos também relataram, em suas delações, como a empresa se organizou
para realizar as obras no sítio, sempre de modo discreto e como um presente
para o político, assim que ele deixasse o Palácio da Alvorada.
O
advogado do político afirmou que o dono legal do sítio era seu cliente e que
atuou para formalizar o “pagamento do
valor devido pelos serviços” e que “jamais
propôs, orientou ou executou qualquer ato ilegal”, em seus 47 anos de
carreira como advogado, tendo dito que “...
minha atuação na advocacia sempre foi pautada pela ética e pela observância às
leis”.
Por
sua vez, a defesa do político sempre afirmou que o ex-presidente não é
dono do sítio e que ele não pode ser acusado de nenhuma irregularidade.
Os
depoimentos reforçam e enfatizam as suspeitas da força-tarefa da Operação
Lava-Jato de que o político é, induvidosamente, o real proprietário do imóvel e
as benfeitorias serviram de contrapartida da empreiteira pela atuação dele em
favor do grupo, inclusive quando ele foi presidente, fato que pode configurar a
caracterização da propina.
O
principal argumento da defesa do político é de que a propriedade do imóvel não
está no nome dele, mas os investigadores entendem que o simples registro do bem
em nome de outras pessoas seria mera forma de ocultar patrimônio, fato que não
beneficia em nada o acusado.
Em
delação, o dono da empreiteira disse ter relatado ao político, em reunião no Palácio
do Planalto, em 2010, que as obras no sítio estariam concluídas no mês de
janeiro do ano seguinte, fato que reforça o conhecimento dele sobre a
irregularidade na reforma do imóvel.
Um
dos principais interlocutores da Odebrecht com o político afirmou que o pedido
para a reforma no sítio foi feito pela então primeira-dama, nestes termos: “Ela me falou sobre um sítio e me perguntou
se a companhia poderia ajudá-los a finalizar obras e reformas que estariam
atrasadas, porque a equipe que fazia o trabalho estava com desempenho medíocre”.
Segundo o delator, a ex-primeira-dama disse que ela e o ex-presidente
pretendiam frequentar o imóvel a partir de janeiro do ano seguinte.
Um
executivo da Odebrecht entregou aos procuradores da Lava-Jato relação de nove
episódios indicando que a empreiteira atendeu a pedidos do ex-presidente, segundo
ele, em “contrapartidas ao apoio e à
influência política recebidos ao longo do tempo pelo atendimento das questões
de interesse da companhia”, constando, na lista, o sítio em causa, a
construção do estádio do Corinthians, uma mesada a um irmão dele, entre outros agrados
constantes da relação.
Nesta
altura dos acontecimentos, nem precisa ser bom entendedor para se convencer de
que o sítio nem pertence de direito do político, mas é de fato dele, como
também não precisa de mais nada para se concluir que as reformas realizadas
nele não seriam implementadas sem o prestígio extraordinário de ex-presidente
da República, que teria sido agraciado com milionário presente, em compensação
ao seu magnânimo esforço de atender bem e prontamente aos pedidos da
empreiteira, conforme esclarecido por um executivo.
As
vergonhosas mentiras contadas e requentadas pelo político não enganam mais as
pessoas sensatas e conscientes sobre a real situação das ilícitas reformas em
causa, que não custaram um centavo para ele e o mais grave é que ele sequer honra
o pedido feito por sua ex-consorte, que teria solicitado, segundo um delator,
que a Odebrecht tocasse a reforma do sítio, porque a equipe que cuidava do caso
“estava com desempenho medíocre”, fato
este que evidencia cristalino desprezo ao trabalho de quem vinha executando as
obras, também a custo zero para o político.
Urge
que os brasileiros se conscientizem sobre a atitude de homens públicos que
estão na vida pública extrapolando, de forma insensata e inescrupulosa, os
princípios da honorabilidade e da dignidade ínsitos exigidos dos políticos
convictos sobre a necessidade de honrar a delegação outorgada a eles pelo povo,
de honrar e dignificar as atividades político-administrativas, sem se expor ao
ridículo da aceitação de presentes e benesses ilícitas, por quaisquer meio e
forma, sob pena da execração da opinião pública, diante da devoção de seriedade
e respeito à nação. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 7 de maio de 2017
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