quarta-feira, 3 de maio de 2017

O desequilíbrio das contas públicas

As contas públicas brasileiras atingiram patamar extremamente desastrado, à vista da comprovação do déficit orçamentário que extrapola a conta dos R$ 100 bilhões, para o presente exercício, fato que exige urgente discussão sobre a reestruturação dos gastos obrigatórios da União.
Já não é mais suficiente para o indispensável equilíbrio fiscal somente a contenção das despesas discricionárias, porque a realidade orçamentária acena para urgente renegociação política, com vistas à busca de alternativas capazes de aliviar a grave situação deficitária.
A atual situação de dificuldade orçamentária teve origem desde o início do governo da ex-presidente petista, quando as contas saíram de vez do controle da gestão responsável e foi intensificada a contabilidade criativa, com o aparecimento na sua esteira das famosas pedaladas fiscais, de tão triste memória, por obrigar, agora, negociações entre os poderes Executivo e Legislativo na busca de saída para a gravíssima crise orçamentário-financeira.
O quadro de dificuldades orçamentárias empurra para o enfrentamento de agenda que leva, necessariamente, para a reformulação que podem afetar os interesses da sociedade, diante da possibilidade da criação de tributos, como se a carga tributária brasileira já não tivesse tanto peso e influência no bolso dos contribuintes.
          A equipe econômica do governo esclarece que as medidas ao alcance do Executivo para equilibrar as contas públicas chegaram à exaustão – só que ninguém ver empenho nenhum nesse sentido -, sendo necessária, a partir de agora, a incursão no terreno das mudanças constitucionais, de modo que seja mexida na rigidez dos gastos obrigatórios, com alcance e abrangência de 90% do orçamento público e ainda tem característica crescente de gastos.
O Ministério do Planejamento destaca as principais despesas obrigatórias, ao indicar a Previdência Social, as áreas de educação e saúde e ao pagamento do funcionalismo público, como aquelas que precisam de urgente racionalização e reestruturação, quanto aos seus gastos.
No momento, a palavra de ordem do governo é a aprovação da reforma da Previdência, que se encontra em apreciação na Câmara dos Deputados, mas se depara com fortíssimos obstáculos, até mesmo por parte da base aliada, para a viabilização das mudanças que permitam a redução dos gastos nessa especial rubrica de despesa.
O certo mesmo é que o governo só pode mexer nas despesas obrigatórias mediante o prévio aval do Congresso Nacional e este resiste ao máximo, por força das pressões oriundas do corporativismo, à aprovação de medida nesse sentido, ou seja, enquanto não forem racionalizadas as despesas obrigatórias, as contas públicas estão fadadas ao permanente déficit, fato que impede que haja investimentos, exatamente diante do aperto orçamentário.
O enorme rombo nas contas públicas é a consagração do desastre do governo afastado, que gastou descontroladamente para viabilizar a reeleição da então presidente e o resultado é esse monstro impagável que é empurrado para débito da população, já assoberbada com o peso da carga tributária insuportável, a par de ainda ser obrigada a arcar com as consequências da recessão econômica, que impede a volta da produção, dos investimentos e do crescimento.
A rigor, constatado que os rombos das contas públicas, na extensão descomunal como caracterizada e se confirmado o excesso dos gastos para bancar a reeleição da então presidente do pais, fica claro que a responsabilidade por esse desastre deve ser debitada à conta dela, que se beneficiou exclusivamente do custo-benefício, motivando com isso que o valor do rombo seja atribuído a ela, por ser quem autorizou a realização de despesas além do arrecadado e se beneficiou dos gastos.
Essa forma de se atribuir responsabilidades ao agente público que se beneficiou da realização de despesas, inclusive além do arrecadado, tem efeito pedagógico muito importante, porque ele passa a ter o cuidado, no futuro, de somente gastar no limite da receita e em programas exclusivamente de interesse público.
A queda generalizada nos indicadores de investimentos na economia brasileira tem reflexo na arrecadação, fato que impacta diretamente os investimentos públicos, diante da queda das receitas, e isso exige que a máquina pública se adeque à realidade orçamentária, sendo obrigada a reduzir drasticamente seus gastos, por meio de medidas de racionamento e de priorização de despesas.
Urge que o governo promova drástica redução dos gastos públicos, mediante a mobilização dos Três Poderes da República, com vistas à identificação e ao levantamento dos gargalos que estão contribuindo para dificultar a redução das despesas e à projeção de metas que tornem viáveis o crescimento da economicidade, por meio de mecanismos de eficiência e eficácia dos programas de incumbência do Estado, ou seja, sem a completa reformulação das suas conjunturas e estruturas, os orçamentos púbicos hão de continuar como fardo bastante pesado nos ombros dos contribuintes.
O governo precisa ser apenas realista, não podendo mais recorrer a parâmetros inflados de receita ou de despesas subestimadas, na tentativa de fechar suas contas na marreta, sob pena de incorrer em permanente colapso do já falido planejamento orçamentário, que caiu no descrédito justamente a partir do reiterado uso da contabilidade criativa, com o surgimento das famigeradas “pedaladas”, que permitiam o adiamento de despesas para o exercício seguinte, que caiu em desuso quando deu alicerce ao processo de impeachment da sua mentora.
A rigor, não há fórmula mágica a possibilitar o equilíbrio fiscal e a reorganização das contas públicas se não houver mobilização da sociedade nesse sentido, porquanto o colapso do planejamento orçamentário somente será revertido com o equacionamento e a implementação da reforma conjuntural e estrutural do Estado, que precisa ser passado por rigoroso aperfeiçoamento, compreendendo a racionalização, o enxugamento das despesas, a modernidade de seus sistemas e a redefinição e priorização de metas plausíveis, de modo que os desperdícios sejam definitivamente eliminados, mediante a redução da máquina pública, pesada, inchada, gastadora, ineficiente e contraproducente, que precisa apenas ter por meta o exclusivo atendimento do interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 3 de maio de 2017

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