domingo, 21 de maio de 2017

Relações antirrepublicanas?

No embalo das delações dos donos da JBS, o procurador-geral da República pediu abertura de inquérito contra o presidente da República, sob a acusação do envolvimento deste em, pelo menos, os crimes de obstrução de Justiça, organização criminosa e corrupção passiva.
O ministro-relator da Operação Lava-Jato, no Supremo Tribunal Federal, considerou os indícios levantados pelo Ministério Público consistentes e autorizou a investigação contra o peemedebista.
De acordo com o procurador-geral, os elementos de prova revelam que há políticos que continuam utilizando a estrutura partidária e o cargo para praticar crimes, em prejuízo dos interesses do Estado e da sociedade.
O procurador-geral ressalta que “Com o estabelecimento de tarefas definidas, o núcleo político promove interações diversas com agentes econômicos, com o objetivo de obter vantagens ilícitas, por meio de prática de crimes, sobretudo com corrupção. Há, pois, também o indicativo da prática do delito organização criminosa previsto na Lei 12.850/2013”.
O pedido de abertura de investigação do presidente foi feito com base nas delações premiadas dos irmãos donos do grupo JBS, que revelaram ao Supremo, por meio de gravação, que o presidente do país teria dado aval para a propina paga ao ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, para que ele não fizesse delação.
No presente caso, os fatos delatados aconteceram há pouco tempo atrás, não havendo impedimento legal para que ele seja investigado, à luz do Carta Magna, que prevê que o presidente não pode ser investigado por atos praticados antes do exercício do mandato.
Os fatos vindos à tona são realmente reveladores de graves irregularidades praticadas pelo presidente do país, em pleno exercício do cargo, que se submeteu, de forma absolutamente inadmissível, que empresário fosse à residência oficial do mandatário da nação e relatasse um rosário de crimes, abonados na ocasião por ele, como que concordando com os atos delituosos praticados pelo empresário, quando o presidente tinha o dever de rechaçar os fatos logo no início e o colocá-lo para fora da sua casa.
Não obstante, a sua magnanimidade foi além dos limites da razoabilidade, justamente por ser pessoa devedora de favores ao empresário, de quem se beneficiou com repasses de substanciosos recursos ilícitos, que deveriam ter sido gastos em campanhas.
As relações de amizade do empresário com o presidente, à vista das conversas absolutamente antirrepublicanas, deixaram bastante explícito o tamanho da promiscuidade existente entre ambos, dando a entender que o empresário poderia relatar as piores conversas sobre a prática de crimes que o presidente não teria moral para impedi-lo, embora ele estivesse na casa presidencial, que se mostrou completamente compassivo com as barbaridades expostas na ocasião.
À toda evidência, os fatos mostram que o presidente se houve totalmente complacente com os fatos relatados pelo empresário, demonstrando aos brasileiros que o seu comportamento não é digno de representá-los, diante da sua falta de reação em momento que jamais deveria ter aceitado qualquer relato capaz de deslustrar a sua dignidade moral como presidente do país, como realmente aconteceu, de forma absolutamente inadmissível e incompreensível.  
Na verdade, o que aconteceu na casa do presidente bem demonstra o quanto a máfia dos empresários impera e influência, por ter o poder econômico nas campanhas eleitorais, sobre a classe política, que se ajoelham a seus pés em troca de dinheiro sujo, em forma do caixa 2, que já consolidou no âmbito dos homens púbicos inescrupulosos e aproveitadores, por estarem na política como profissionais, em contrariedade ao interesse público.
O sistema político brasileiro pode ser considerado retrógrado e obsoleto, por não acompanhar a evolução da história política e social e permitir que o poder econômico se beneficie das fragilidades dos controles e das fiscalizações da Justiça Eleitoral, que não consegue acompanhar o cumprimento das normas eleitorais, quanto à regularidade dos financiamentos de campanha, pelo menos quando eles eram permitidos e feitos de forma generosa para tal finalidade.
Na realidade, a conversa gravada com o presidente do país evidencia sequência de crimes que vão de obstrução à Justiça, suborno de procuradores e compra de informações privilegiadas, a par da explícita tentativa da obtenção de poderes para a influência em órgãos que regulam e fiscalizam as atividades do grupo empresarial.
O mais grave de tudo isso é que o presidente teve a magnanimidade de ouviu tudo e não esboçar, em nenhum momento, qualquer forma de condenação dos absurdos relatos de crimes do empresário, o que demonstra a bestial concordância da maior autoridade do pais com algo absolutamente inadmissível.
Os brasileiros anseiam por que sejam realizadas amplas e abrangentes investigações sobre os fatos suspeitos de irregulares, que se apresentam com aparente consistência, envolvendo o presidente da República, no que diz respeito às suas relações nada republicanas com os donos do grupo da JBS, ante a diversidade de atos que não condizem com a dignidade da liturgia do cargo de mandatário do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 21 de maio de 2017

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