segunda-feira, 22 de maio de 2017

Desconstrução da dignidade

Apontado como alvo de uma gravação em que teria pedido R$ 2 milhões a um dos donos do frigorífico JBS, o senador tucano por Minas Gerais e ex-presidente do PSDB reconheceu que sua vida foi virada pelo avesso, após a divulgação das conversas entre ele e o empresário delator.
Ele ressaltou, em artigo intitulado “O crime da calúnia” que, "Nos últimos dias, minha vida foi virada pelo avesso. Tornei-me alvo de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade".
O tucano enfatizou que os acontecimentos foram "originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados. Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos me trouxeram enorme tristeza. Também, por certo, alimentaram decepção naqueles que confiaram em mim ao longo de minha vida pública. É principalmente a estes que ora me dirijo.".
O senador, ao se defender, criou a imagem de dedicação voltada a ajudar o país, ao afirmar que "Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de reerguer o país, o que, avalio, vem sendo bem-sucedido. Há, porém, muitos insatisfeitos e contrariados com as mudanças em marcha.".
O tucano contesta a legitimidade dos áudios e afirma que o empresário tentou conduzir o diálogo para constrangê-lo, mas disse que "Lamento sinceramente minha ingenuidade - a que ponto chegamos, ter de lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem escrúpulos, sem interesse na verdade, querendo apenas forjar citações que o ajudassem nos benefícios de sua delação.".
Ele se desculpou por ter usado termos de baixo calão ao se referir a outros políticos e autoridades e reafirmou que não cometeu nenhum crime.
Por último, o tucano disse que "A partir de agora, dedicarei cada instante de minha vida a provar minha inocência e a de meus familiares, a mostrar que honrei os mandatos e a confiança que os eleitores de Minas e de todo o país me delegaram em mais de 30 anos de vida pública. Usarei como armas a lei e a verdade para que esta injustificável violência contra Andrea e contra Frederico seja rapidamente revertida".
Chega a ser risível que político flagrado cometendo crime da maior gravidade, devidamente comprovado por meio de áudio, vídeo e demais meios juridicamente válidos, embolsando dinheiro sujo, ainda tenha o despropósito e a cara de pau de afirmar que teria agido de boa-fé e que não cometeu crime algum, chegando a atribuir a culpa pelo ocorrido ao delator, que conseguiu enganar a sua ingenuidade.
O senador mineiro precisa compreender que a construção do país não se faz na forma como demonstrou, porque isso de pegar dinheiro com empresário se chama desconstrução da dignidade e da moralidade de pessoa de bem, que, ao cair em desgraça moral, deve ter a decência de reconhecer e assumir seus erros, diferentemente do que o tucano procura mostrar com suas desculpas fajutas, que não merecem o mínimo de crédito, haja vista que elas visivelmente destoam da realidade dos fatos, fartamente expostos à saciedade.
É curioso que o senador qualifica como criminoso o empresário delator, sem se denominar como sendo o principal delinquente, uma vez que ele foi o beneficiário do crime, que ainda trata os fatos rasteiros como causadores de enorme tristeza para ele, por ser pessoa de “carne e osso” e ter “sentimentos”, procurando dar a clara impressão de que ele, ao invés de bandido, passou a ser vítima da armação arquitetada por perigoso criminoso, que fez tudo para obter liberdade, por meio da sua delação.
É lamentável que, de repente, um homem público experiente, com mais de trinta anos de vida pública, se torne o maior ingênuo da história republicana, somente porque se encontrava ávido pelo vil metal, ao permitir que o nome da família famosa mineira de São João Del-Rei fosse jogado na lama.
O reconhecimento da sua ingenuidade poderia despertar em seus sentimentos o espírito de dignidade a reconhecer que a sua atitude não condiz com os piores políticos das republiquetas, ao invés de tentar incutir nas mentes dos brasileiros a aceitarem tamanha e ridícula ingenuidade.
Diante da desfaçatez do tucano, por pouco ele não se disse ser a segunda alma mais honesta da face da terra, de tanto se lamuriar de ter se envolvido em emboscada, por exclusiva culpa do empresário: “um criminoso sem escrúpulo”.
Caso restasse o mínimo de dignidade nas suas palavras, a sua ingenuidade o aconselharia a se desculpar perante os mineiros, que o elegeram a senador e os brasileiros, que tiveram a ingenuidade de votar nele para presidente da República, que quase foi eleito, não fosse a manipulação do sistema de votação, por meio de fraude nas urnas, segundo asseguram os especialistas.
É evidente que as desculpas devem vir acompanhadas da garantia da sua despedida da vida pública, uma vez que corrupto identificado jamais se elegerá, neste país, para qualquer cargo público eletivo, caso os brasileiros tenham aprendido a lição e tomado vergonha na cara, uma vez que o representante do povo precisa se comprometer a reafirmar estrita observância aos princípios da ética, do decoro, da moralidade, da honestidade, da dignidade e dos demais conceitos que foram menosprezados de uma só vez pelo insignificante senador das Minas Gerais, que um dia ousou desafiar uma candidata de cujo partido se tornou símbolo de corrupção e de destruição do país.
No momento, a melhor atitude desse político é se desculpar por seus injustificáveis crimes, entre os quais o de lesa-pátria, e fazer seu último juramento à nação de nunca mais voltar à vida pública, tendo em conta que seu gesto vil se transformou em péssimo exemplo para as atuais e futuras gerações de políticos, que precisam aprender a lição de que as atividades públicas visam exclusivamente ao atendimento do interesse público, com embargo das práticas defendidas pelos nefastos e aproveitadores políticos, que utilizam a influência do cargo e do poder para tirar vantagem pessoal, como nesse caso explícito do espúrio "empréstimo" de dois milhões de reais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 22 de maio de 2017

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