Apontado como alvo de uma gravação em que teria
pedido R$ 2 milhões a um dos donos do frigorífico JBS, o senador tucano por Minas
Gerais e ex-presidente do PSDB reconheceu que sua vida foi virada pelo avesso,
após a divulgação das conversas entre ele e o empresário delator.
Ele ressaltou, em artigo intitulado “O crime da calúnia” que, "Nos últimos dias, minha vida foi virada pelo
avesso. Tornei-me alvo de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para
o qual fui eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida
pela polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade".
O tucano enfatizou que os acontecimentos foram
"originados de delações de
criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados. Tenho
sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos me trouxeram enorme
tristeza. Também, por certo, alimentaram decepção naqueles que confiaram em mim
ao longo de minha vida pública. É principalmente a estes que ora me dirijo.".
O senador, ao se defender, criou a imagem de dedicação
voltada a ajudar o país, ao afirmar que "Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano
empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de reerguer o
país, o que, avalio, vem sendo bem-sucedido. Há, porém, muitos insatisfeitos e
contrariados com as mudanças em marcha.".
O tucano contesta a legitimidade dos áudios e afirma
que o empresário tentou conduzir o diálogo para constrangê-lo, mas disse que
"Lamento sinceramente minha
ingenuidade - a que ponto chegamos, ter de lamentar a boa-fé! Não sabia que na
minha frente estava um criminoso sem escrúpulos, sem interesse na verdade,
querendo apenas forjar citações que o ajudassem nos benefícios de sua delação.".
Ele se desculpou por ter usado termos de baixo
calão ao se referir a outros políticos e autoridades e reafirmou que não
cometeu nenhum crime.
Por último, o tucano disse que "A partir de agora, dedicarei cada instante
de minha vida a provar minha inocência e a de meus familiares, a mostrar que
honrei os mandatos e a confiança que os eleitores de Minas e de todo o país me
delegaram em mais de 30 anos de vida pública. Usarei como armas a lei e a
verdade para que esta injustificável violência contra Andrea e contra Frederico
seja rapidamente revertida".
Chega a ser risível que político flagrado cometendo
crime da maior gravidade, devidamente comprovado por meio de áudio, vídeo e
demais meios juridicamente válidos, embolsando dinheiro sujo, ainda tenha o
despropósito e a cara de pau de afirmar que teria agido de boa-fé e que não cometeu
crime algum, chegando a atribuir a culpa pelo ocorrido ao delator, que
conseguiu enganar a sua ingenuidade.
O senador mineiro precisa compreender que a
construção do país não se faz na forma como demonstrou, porque isso de pegar
dinheiro com empresário se chama desconstrução da dignidade e da moralidade de pessoa
de bem, que, ao cair em desgraça moral, deve ter a decência de reconhecer e
assumir seus erros, diferentemente do que o tucano procura mostrar com suas
desculpas fajutas, que não merecem o mínimo de crédito, haja vista que elas visivelmente
destoam da realidade dos fatos, fartamente expostos à saciedade.
É curioso que o senador qualifica como criminoso o
empresário delator, sem se denominar como sendo o principal delinquente, uma
vez que ele foi o beneficiário do crime, que ainda trata os fatos rasteiros
como causadores de enorme tristeza para ele, por ser pessoa de “carne e osso” e ter “sentimentos”, procurando dar a clara
impressão de que ele, ao invés de bandido, passou a ser vítima da armação arquitetada
por perigoso criminoso, que fez tudo para obter liberdade, por meio da sua
delação.
É
lamentável que, de repente, um homem público experiente, com mais de trinta
anos de vida pública, se torne o maior ingênuo da história republicana, somente
porque se encontrava ávido pelo vil metal, ao permitir que o nome da família
famosa mineira de São João Del-Rei fosse jogado na lama.
O
reconhecimento da sua ingenuidade poderia despertar em seus sentimentos o
espírito de dignidade a reconhecer que a sua atitude não condiz com os piores
políticos das republiquetas, ao invés de tentar incutir nas mentes dos
brasileiros a aceitarem tamanha e ridícula ingenuidade.
Diante
da desfaçatez do tucano, por pouco ele não se disse ser a segunda alma mais
honesta da face da terra, de tanto se lamuriar de ter se envolvido em
emboscada, por exclusiva culpa do empresário: “um criminoso sem escrúpulo”.
Caso
restasse o mínimo de dignidade nas suas palavras, a sua ingenuidade o aconselharia
a se desculpar perante os mineiros, que o elegeram a senador e os brasileiros,
que tiveram a ingenuidade de votar nele para presidente da República, que quase
foi eleito, não fosse a manipulação do sistema de votação, por meio de fraude
nas urnas, segundo asseguram os especialistas.
É
evidente que as desculpas devem vir acompanhadas da garantia da sua despedida
da vida pública, uma vez que corrupto identificado jamais se elegerá, neste
país, para qualquer cargo público eletivo, caso os brasileiros tenham aprendido
a lição e tomado vergonha na cara, uma vez que o representante do povo precisa
se comprometer a reafirmar estrita observância aos princípios da ética, do
decoro, da moralidade, da honestidade, da dignidade e dos demais conceitos que
foram menosprezados de uma só vez pelo insignificante senador das Minas Gerais,
que um dia ousou desafiar uma candidata de cujo partido se tornou símbolo de
corrupção e de destruição do país.
No
momento, a melhor atitude desse político é se desculpar por seus
injustificáveis crimes, entre os quais o de lesa-pátria, e fazer seu último
juramento à nação de nunca mais voltar à vida pública, tendo em conta que seu
gesto vil se transformou em péssimo exemplo para as atuais e futuras gerações
de políticos, que precisam aprender a lição de que as atividades públicas visam
exclusivamente ao atendimento do interesse público, com embargo das práticas
defendidas pelos nefastos e aproveitadores políticos, que utilizam a influência
do cargo e do poder para tirar vantagem pessoal, como nesse caso explícito do
espúrio "empréstimo" de dois milhões de reais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de maio de 2017
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