Um
dos donos do grupo empresarial JBS relatou em sua delação premiada que o
presidente do país teria sido complacente com operação para comprar o silêncio
do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, que se encontra preso
na Operação Lava-Jato.
Ele
teria gravado diálogo comprometedor com o peemedebista, ocorrido no dia 7 de
março último, no Palácio do Jaburu, conforme delação premiada homologada pelo
Supremo Tribunal Federal.
Consta
que o empresário confessou ao presidente que estava pagando mesada ao ex-deputado
e ao seu operador de propinas, para que ambos ficassem em silêncio quanto às
irregularidades envolvendo aliados políticos e comparsas no mesmo crime de
corrupção passiva. No que o presidente teria dito que “Tem que manter isso, viu?”.
Incontinenti,
o Palácio do Planalto confirmou o encontro do presidente com o empresário, mas contestou
as ilações, afirmando que o presidente “jamais
solicitou pagamentos para obter o silêncio” de ninguém e que “Não participou nem autorizou qualquer
movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo
ex-parlamentar.”.
Em
sua delação, o empresário disse aos procuradores que não foi o presidente quem
determinou a mesada, mas ele tinha pleno conhecimento sobre os pagamentos.
No
diálogo, captado por meio de um gravador escondido, o presidente teria indicado
ao empresário um deputado da sua confiança para resolver assunto da J&F (holding que controla a JBS) no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Nessa conversa, o empresário ainda indagou
ao presidente se poderia tratar “de tudo”
com o parlamentar, ao que o presidente teria respondido: “Tudo”.
Ato
contínuo, o empresário entregou gravação aos procuradores, no âmbito de delação
premiada, que havia sido feita em vídeo, mostrando o deputado sendo flagrado
recebendo mala com o valor de R$ 500 mil, como cortesia do empresário, a título
de prolina.
Desta
feita, as delações da JBS foram subsidiadas com “ações controladas”, em que a operação policial promove a obtenção
de flagrantes dos fatos delituosos, de modo que eles possam servir de provas
nas investigações.
Agora,
além das filmagens da entrega de propina, as malas ou mochilas em que o
dinheiro era transportado foram equipadas com rastreadores e as cédulas tiveram
seus números informados aos investigadores.
As
delações do grupo JBS foram fechadas com o Ministério Púbico, tendo a Polícia
Federal participado das investigações e do processo pertinente.
No
caso das referidas investigações, procuradores ressaltam que as informações
abrem várias frentes de apuração, que passarão a ser analisadas
individualmente.
Os
investigadores também chamam atenção para o fato de que a delação do empresário
da JBS é a segunda que acusa o presidente do país a pedir e receber dinheiro de
propina.
Como
não poderia ser diferente, o presidente do país defende, agora, a realização de
ampla e profunda investigação sobre os fatos, para a apuração das denúncias
veiculadas pela imprensa, de modo a possibilitar, se for o caso, a
responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a
ser comprovados.
O
deputado assessor do presidente do país acaba de devolver à Polícia Federal a
mala recheada de dinheiro, evidentemente em demonstração de que a propina não
havia sido entregue ao seu destinatário, que poderia ter sido o presidente do
país, segundo algumas especulações nesse sentido, mas o dinheiro foi devolvido
com desfalque de R$ 35 mil.
Causa
perplexidade o fato de que o presidente, a par de não conseguir justificar à
nação a sua desastrada reunião com o empresário, quanto aos crimes atribuídos a
ele, por ter ouvido uma série de fatos caracterizadores da prática de crimes, à
vista da liturgia do cargo que ocupa, procurou apenas atacar o empresário como
sendo oportunista e aproveitador da boa vontade do mandatário do país, além de
levantar questionamentos sobre as condições acerca das gravações, que não têm
qualquer relevância sobre os fatos propriamente ditos, uma vez que importa
mesmo é a quebra do decoro presidencial e a sua falta de atitude diante de
situação bastante constrangedora, em que o criminoso se impôs diante da
autoridade presidencial e ele se mostrou absolutamente impassível e cordato em
tudo.
Não
há dúvida de que é dever do presidente do país, em situações que tais, dar à
nação as devidas explicações e justificar a sua forma espúria no desempenho no
cargo, conquanto os esclarecimentos prestados por ele são absolutamente
inconsistentes e somente conspiram contra a dignidade presidencial, que foi
jogada na lama, cujo titular mostra absoluta incapacidade para reverter o
quadro de debilidade da sua autoridade.
À
toda evidência, as explicações apresentadas à opinião pública são absolutamente
destituídas de fundamento, demonstrando que a autoridade atribuída ao presidente
da República ficou bastante abalada e desmoralizada, diante da sua fragilidade na
presença de cidadão que impôs pleno domínio da situação, possibilitando que a
sua força de convencimento obtivesse o beneplácito presidencial para seus
relatos delituosos e a aquiescência para ele tratar de “tudo”, com um dos principais
assessores palacianos.
Os
brasileiros precisam se conscientizar de que o estadista, em momento algum,
pode se curvar à vontade espúria de quem quer que seja, muito menos de empresário,
por mais poderoso que seja, sob pena de desmoralização dos princípios ínsitos do
seu cargo, que tem o dever constitucional e legal de ser exemplo de
honorabilidade e dignidade não somente para a administração pública, mas também
para a nação. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de maio de 2017
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