terça-feira, 23 de maio de 2017

Fragilidade da autoridade

Um dos donos do grupo empresarial JBS relatou em sua delação premiada que o presidente do país teria sido complacente com operação para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, que se encontra preso na Operação Lava-Jato.
Ele teria gravado diálogo comprometedor com o peemedebista, ocorrido no dia 7 de março último, no Palácio do Jaburu, conforme delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Consta que o empresário confessou ao presidente que estava pagando mesada ao ex-deputado e ao seu operador de propinas, para que ambos ficassem em silêncio quanto às irregularidades envolvendo aliados políticos e comparsas no mesmo crime de corrupção passiva. No que o presidente teria dito que “Tem que manter isso, viu?”.
Incontinenti, o Palácio do Planalto confirmou o encontro do presidente com o empresário, mas contestou as ilações, afirmando que o presidente “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio” de ninguém e que “Não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.”.
          Em sua delação, o empresário disse aos procuradores que não foi o presidente quem determinou a mesada, mas ele tinha pleno conhecimento sobre os pagamentos.
No diálogo, captado por meio de um gravador escondido, o presidente teria indicado ao empresário um deputado da sua confiança para resolver assunto da J&F (holding que controla a JBS) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Nessa conversa, o empresário ainda indagou ao presidente se poderia tratar “de tudo” com o parlamentar, ao que o presidente teria respondido: “Tudo”.
Ato contínuo, o empresário entregou gravação aos procuradores, no âmbito de delação premiada, que havia sido feita em vídeo, mostrando o deputado sendo flagrado recebendo mala com o valor de R$ 500 mil, como cortesia do empresário, a título de prolina.
Desta feita, as delações da JBS foram subsidiadas com “ações controladas”, em que a operação policial promove a obtenção de flagrantes dos fatos delituosos, de modo que eles possam servir de provas nas investigações.
Agora, além das filmagens da entrega de propina, as malas ou mochilas em que o dinheiro era transportado foram equipadas com rastreadores e as cédulas tiveram seus números informados aos investigadores.
As delações do grupo JBS foram fechadas com o Ministério Púbico, tendo a Polícia Federal participado das investigações e do processo pertinente.
No caso das referidas investigações, procuradores ressaltam que as informações abrem várias frentes de apuração, que passarão a ser analisadas individualmente.
Os investigadores também chamam atenção para o fato de que a delação do empresário da JBS é a segunda que acusa o presidente do país a pedir e receber dinheiro de propina.
Como não poderia ser diferente, o presidente do país defende, agora, a realização de ampla e profunda investigação sobre os fatos, para a apuração das denúncias veiculadas pela imprensa, de modo a possibilitar, se for o caso, a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados.
O deputado assessor do presidente do país acaba de devolver à Polícia Federal a mala recheada de dinheiro, evidentemente em demonstração de que a propina não havia sido entregue ao seu destinatário, que poderia ter sido o presidente do país, segundo algumas especulações nesse sentido, mas o dinheiro foi devolvido com desfalque de R$ 35 mil.
Causa perplexidade o fato de que o presidente, a par de não conseguir justificar à nação a sua desastrada reunião com o empresário, quanto aos crimes atribuídos a ele, por ter ouvido uma série de fatos caracterizadores da prática de crimes, à vista da liturgia do cargo que ocupa, procurou apenas atacar o empresário como sendo oportunista e aproveitador da boa vontade do mandatário do país, além de levantar questionamentos sobre as condições acerca das gravações, que não têm qualquer relevância sobre os fatos propriamente ditos, uma vez que importa mesmo é a quebra do decoro presidencial e a sua falta de atitude diante de situação bastante constrangedora, em que o criminoso se impôs diante da autoridade presidencial e ele se mostrou absolutamente impassível e cordato em tudo.  
Não há dúvida de que é dever do presidente do país, em situações que tais, dar à nação as devidas explicações e justificar a sua forma espúria no desempenho no cargo, conquanto os esclarecimentos prestados por ele são absolutamente inconsistentes e somente conspiram contra a dignidade presidencial, que foi jogada na lama, cujo titular mostra absoluta incapacidade para reverter o quadro de debilidade da sua autoridade.
À toda evidência, as explicações apresentadas à opinião pública são absolutamente destituídas de fundamento, demonstrando que a autoridade atribuída ao presidente da República ficou bastante abalada e desmoralizada, diante da sua fragilidade na presença de cidadão que impôs pleno domínio da situação, possibilitando que a sua força de convencimento obtivesse o beneplácito presidencial para seus relatos delituosos e a aquiescência para ele tratar de “tudo”, com um dos principais assessores palacianos.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que o estadista, em momento algum, pode se curvar à vontade espúria de quem quer que seja, muito menos de empresário, por mais poderoso que seja, sob pena de desmoralização dos princípios ínsitos do seu cargo, que tem o dever constitucional e legal de ser exemplo de honorabilidade e dignidade não somente para a administração pública, mas também para a nação. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 23 de maio de 2017

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