Aqueles que viajarem a bordo de aviões
presidenciais poderão desfrutar de belas refeições, à base de cordeiro,
carolinas com calda de chocolate, salmão, camarão, queijo brie, pizza etc., conforme
dispõe o edital da licitação mostrado pelo jornal O Globo.
Em dezembro do ano passado, o jornal revelou que
fazia parte do leilão refinada lista de compras, que incluía 500 potes de
sorvete, a R$ 7.500,00; sal do Himalaia, a R$ 1.600,00; e uma tonelada e meia
de torta de chocolate, no preço de R$ 96 mil. No total, a licitação anual
custaria o montante de R$ 1,75 milhão.
Não obstante, diante da repercussão bastante negativa
do caso, o Palácio do Planalto decidiu cancelar o certame, naquele momento,
para agora ressuscitá-lo.
Desta feita, o valor da licitação em causa, para
abastecer com comida e bebida, por um ano, as aeronaves presidenciais, caiu
para a “bagatela” do valor de R$ 1 milhão.
Em que pese a drástica redução do valor de R$ 750
mil, o presidente e a tripulação ainda terão no cardápio pratos especiais, como
cordeiro assado com farofa, costela bovina desossada, filé, salmão em flor,
torta de camarão, pizza e carolina, com calda de chocolate, entre outros pratos
estranhos ao costume “gastronômico” do povão.
As aeronaves presidenciais continuarão sendo
servidas com louças de porcelana branca, com frisos dourados, e também serão
servidos pratos sem glúten e sem lactose.
Desta vez, o gasto total estimado atingiu o valor de
R$ 999.448,65 e o leilão foi realizado no último dia 23.
É
lamentável que o país, atravessando enormes crises de toda ordem e visíveis dificuldades
econômicas, conforme denunciam as reformas lançadas pelo governo, como a da Previdência,
justamente para economizar recursos, vem o Palácio do Planalto, em clara falta
de noção, demonstrando seu gigantesco grau de insensibilidade, realizar
licitação para a prestação de serviços que contradizem o esforço dele de pedir
sacrifício da sociedade, em compreensão aos seus ajustes na economia, como
forma de superação das crises, que o país enfrenta há algum tempo.
O
certo é que, enquanto o presidente e seus acompanhantes comem cordeiro, camarão
e outras ricas gastronomias, às custas de dinheiro púbico, o povo em geral
sequer tem o que comer, quer por falta de emprego, quer pela omissão do Estado,
na prestação de serviços essenciais.
A
frieza como o edital foi lançado mostra apenas a confirmação da costumeira
forma de satisfazer as regalias próprias da mordomia do poder, que já se
consolidou ao longo do tempo, em que os governos e, de resto, as autoridades
são absolutamente indiferentes à premência se cortar gastos, mesmo nesses casos
que demonstram nítida irracionalidade, em razão da extrapolação do bom senso,
em termos da realização da despesa pública, que precisa satisfazer o princípio
da economicidade e o interesse público.
Não há dúvida de que a contratação em apreço
representa explícita afronta à dignidade da população, aquela que enfrenta os
piores tipos de dificuldade financeira e que está abaixo do nível da condição
humana.
Trata-se de se pedir sacrifício ao presidente para
se viajar
como qualquer cidadão, sem necessidade desse arroubo de mordomia, sem
esbanjamento com o dinheiro do povo, que é obrigado a manter pesada carga
tributária, para o governo exagerar também no abastecimento de suas aeronaves,
que poderiam passar por indispensável racionamento, com a redução dos sofisticados
produtos selecionados para abastecer os aviões presidenciais.
Certamente
que os recursos aplicados na presente licitação vão fazer falta principalmente
nos hospitais, nas creches e escolas, estradas, bem assim da melhoria das
práticas de segurança pública para o nosso país.
Este
tipo de atitude, independentemente da origem do governo, envergonha a
população, que sabe e sente na pele a falta de assistência do Estado, que
sempre alega a falta de recursos para atender o interesse público, salvo quando
a contratação se refere ao atendimento de serviços do próprio governo, como no
caso dessa indecente licitação.
As
mordomias precisam simplesmente acabar na administração pública, em consonância
com a imperiosa necessidade de austeridade e economicidade que se impõem,
primeiro, na parte do Estado, que gerencia os recursos públicos e tem o dever
de contenção dos gastos, para depois ter condições de pedir arrocho dos brasileiros,
a exemplo da reforma da Previdência, a par das privações quanto à saúde pública,
à precária educação, à falta de segurança, entre tantas deficiências demandas
em razão da inexistência de recursos.
Chega
a ser risível que o povo comendo, quando tem, o pão que o diabo amassou, mas o
presidente pode ser servido com as melhores e mais caras iguarias, inclusive
importadas, em verdadeiro contraste com a realidade do país.
Não
obstante, o povo é assim mesmo, ao tempo que xinga, chora, repudia e esperneia,
sabe que ele é o próprio culpado por esse estado de coisas, porque o governo é
obra do seu apoio nas urnas, que foi ascendido ao poder pelo voto de muitos
brasileiros desinformados e destituídos de consciência cívica.
Em
momento de crise, em que o povo não tem emprego e muito menos o que comer, o
governo mostra completa insensatez e insensibilidade, ao promover o
abastecimento de suas aeronaves presidenciais com comidas da melhor e mais cara
gastronomia, em nítido esbanjamento completamente incompatível com a situação
de precariedade demonstrada pelos serviços prestados pelo governo, a exemplo,
mais especificamente, da saúde pública, onde os hospitais funcionam aos trancos
e barrancos, à vista da carência de pessoal médico e paramédico, equipamentos,
medicamentos e demais instrumentos médico-hospitalares indispensáveis ao
atendimento satisfatório da população.
É
absolutamente inaceitável que, mesmo o povo vivendo em estado de penúria, o
governo ignore esse fato e tenha a irresponsabilidade de prover seus aviões das
melhores qualidades de víveres e bebidas, tão somente para satisfazer, de forma
nababesca, o mandatário do país, que tem o dever moral e ético de dar o exemplo
de austeridade e sacrifício, como forma de dizer que o governo, como não
poderia ser diferente, é solidário com a situação de dificuldade por que passam
o país e seu povo.
Os
brasileiros precisam repudiar, com veemência, atitudes governamentais, como
essa aqui analisada, que não condizem com as finalidades próprias de satisfação
do interesse público, eis que o abastecimento de alimentos e bebidas aos aviões
presidenciais pode perfeitamente ser implementado de forma modesta e comedida,
em conformidade com a realidade socioeconômica brasileira, de modo que os
gastos se encaixem em orçamento razoável e absolutamente nos padrões de
austeridade que se esperam de governo equilibrado, sensato e responsável. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de maio de 2017
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