terça-feira, 9 de maio de 2017

Somente esbravejamentos e ameaças

A Associação Nacional dos Procuradores da República lamentou as declarações feitas pelo ex-presidente da República petista, que teria criticado diretamente a imprensa e os investigadores da Operação Lava-Jato, quando afirmou que “Amanhã o Lula vai ser preso. Faz dois anos que eu estou ouvindo isso. Se eles não me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los por mentiras”.
O presidente da citada associação disse que a frase tem tom de ameaça e que “não é digna” de homem público que já foi presidente da República.
Ele foi categórico ao dizer que, “De resto, apenas lamentar a frase, que soa como ameaça, de que — supõe-se legitimamente que depois de mais uma vez eleito presidente — irá mandar prender os que investigam. Isto não irá deter qualquer agente de Estado ou a marcha serena e impessoal da Justiça, mas não é uma declaração digna de quem foi por oito anos o supremo mandatário do país. O ex-presidente sabe muito bem que chefes do executivo não ‘mandam prender’ ninguém em um estado de direito. A Justiça é que o faz”.
Como de costume, o discurso inflamado do político foi proferido no mesmo dia em que o ex-diretor de Serviços da Petrobras fez duras e graves acusações contra o petista, em espontâneo depoimento prestado ao juiz da Operação Lava-Jato.
O referido ex-diretor tenta fechar acordo de colaboração à Justiça, evidentemente na expectativa de suavizar o máximo os monumentais mais de 50 anos de prisão a que já foi condenado na Lava-Jato.
Ele contou, entre muitos detalhes sobre a roubalheira na Petrobras, que o petista “tinha pleno conhecimento de tudo e detinha o comando” do esquema e que, num encontro secreto no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, recebeu ordens indiretas dele para fechar contas no exterior que eram abastecidas com dinheiro de propina.
A insistência como o petista clama por ser preso tem explicação bastante simples e lógica: ele quer transformar o ato de prisão em marketing político, com o propósito de, posteriormente, bradar aos quatro cantos do mundo que, enfim, ele foi transformado em vítima, estando, a partir de então, caracterizada a perseguição política contra um homem santificado pelo fanatismo ideológico, que o vê senão como a criatura perfeita e incapaz de cometer qualquer deslize na vida pública.
De forma desesperada de tanto implorar para ser preso e ainda não ter sido atendido, agora ele ameaça que, se não o prenderem, ele irá prender, no futuro, os integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato, justamente, no dizer dele, pelas mentiras inventadas contra ele, que já demonstrou que sequer aceita ser investigado, como forma de aclarar os fatos denunciados, evidentemente por pensar que estar acima de tudo e de todos, inclusive da lei, que é aplicável igualmente a todos.
É evidente que o juiz não pode antecipar os resultados das investigações sobre os fatos denunciados e aceitos pela Justiça, sob pena de prejudicar a praxe jurídica, mas certamente o político irá se estarrecer quando souber que nenhum juiz aceita denúncia que não esteja devidamente consubstanciada com a materialização de, pelo menos, fortes indícios, a despeito de ele jurar que é inocente, sem ter conseguido comprovar nada nesse sentido, salvo esbravejamentos e falácias próprias de quem nada tem a infirmar as acusações e denúncias.
Ao ameaçar prender os responsáveis pelas investigações da Operação Lava-Jato, em forma de indiscutível retaliação, o político demonstra o seu pensamento nada republicano de tratar os fatos como eles são, a ensejarem, nas circunstâncias, tão somente a necessidade de investigação e de esclarecimentos sobre a verdade, mesmo que isso implique o levantamento de práticas suspeitas de irregularidades, mas que precisam ser passadas a limpo, nos moldes do que é feito nos países sérios, civilizados e evoluídos democraticamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 9 de maio de 2017

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