A Associação Nacional dos Procuradores da República
lamentou as declarações feitas pelo ex-presidente da República petista, que
teria criticado diretamente a imprensa e os investigadores da Operação
Lava-Jato, quando afirmou que “Amanhã o
Lula vai ser preso. Faz dois anos que eu estou ouvindo isso. Se eles não me
prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los por mentiras”.
O presidente da citada associação disse que a frase
tem tom de ameaça e que “não é digna”
de homem público que já foi presidente da República.
Ele foi categórico ao dizer que, “De resto, apenas lamentar a frase, que soa
como ameaça, de que — supõe-se legitimamente que depois de mais uma vez eleito
presidente — irá mandar prender os que investigam. Isto não irá deter qualquer
agente de Estado ou a marcha serena e impessoal da Justiça, mas não é uma
declaração digna de quem foi por oito anos o supremo mandatário do país. O
ex-presidente sabe muito bem que chefes do executivo não ‘mandam prender’
ninguém em um estado de direito. A Justiça é que o faz”.
Como de costume, o discurso inflamado do político
foi proferido no mesmo dia em que o ex-diretor de Serviços da Petrobras fez
duras e graves acusações contra o petista, em espontâneo depoimento prestado ao
juiz da Operação Lava-Jato.
O referido ex-diretor tenta fechar acordo de colaboração
à Justiça, evidentemente na expectativa de suavizar o máximo os monumentais
mais de 50 anos de prisão a que já foi condenado na Lava-Jato.
Ele contou, entre muitos detalhes sobre a
roubalheira na Petrobras, que o petista “tinha
pleno conhecimento de tudo e detinha o comando” do esquema e que, num
encontro secreto no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, recebeu ordens
indiretas dele para fechar contas no exterior que eram abastecidas
com dinheiro de propina.
A insistência como o petista clama por ser preso tem
explicação bastante simples e lógica: ele quer transformar o ato de prisão em
marketing político, com o propósito de, posteriormente, bradar aos quatro
cantos do mundo que, enfim, ele foi transformado em vítima, estando, a partir
de então, caracterizada a perseguição política contra um homem santificado pelo
fanatismo ideológico, que o vê senão como a criatura perfeita e incapaz de
cometer qualquer deslize na vida pública.
De forma desesperada de tanto implorar para ser
preso e ainda não ter sido atendido, agora ele ameaça que, se não o prenderem,
ele irá prender, no futuro, os integrantes da força-tarefa da Operação
Lava-Jato, justamente, no dizer dele, pelas mentiras inventadas contra ele, que
já demonstrou que sequer aceita ser investigado, como forma de aclarar os fatos
denunciados, evidentemente por pensar que estar acima de tudo e de todos,
inclusive da lei, que é aplicável igualmente a todos.
É evidente que o juiz não pode antecipar os
resultados das investigações sobre os fatos denunciados e aceitos pela Justiça,
sob pena de prejudicar a praxe jurídica, mas certamente o político irá se
estarrecer quando souber que nenhum juiz aceita denúncia que não esteja
devidamente consubstanciada com a materialização de, pelo menos, fortes
indícios, a despeito de ele jurar que é inocente, sem ter conseguido comprovar
nada nesse sentido, salvo esbravejamentos e falácias próprias de quem nada tem
a infirmar as acusações e denúncias.
Ao
ameaçar prender os responsáveis pelas investigações da Operação Lava-Jato, em
forma de indiscutível retaliação, o político demonstra o seu pensamento nada
republicano de tratar os fatos como eles são, a ensejarem, nas circunstâncias, tão
somente a necessidade de investigação e de esclarecimentos sobre a verdade,
mesmo que isso implique o levantamento de práticas suspeitas de irregularidades,
mas que precisam ser passadas a limpo, nos moldes do que é feito nos países
sérios, civilizados e evoluídos democraticamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 9 de maio de 2017
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