domingo, 1 de outubro de 2017

Antes o império da verdade

A condenação à prisão pelo juiz da Operação Lava-Jato, por nove anos e seis meses, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não foi capaz de evitar que o ex-presidente da República petista se mantenha na liderança da corrida presidencial do próximo ano.
De acordo com pesquisa divulgada por Datafolha, o político tem pelo menos 35% das intenções de voto dos entrevistados, nos cenários testados e garante vantagem significativa em relação aos principais adversários dele.
Nos termos do levantamento publicado no jornal Folha de S. Paulo, o deputado federal pelo PSC do Rio de Janeiro e a ex-senadora e ambientalista da Rede estão empatados em segundo lugar, sendo que o primeiro oscila entre 16% e 17% e a segunda entre 13% e 14%.
Enquanto isso, os tucanos, um governador do Estado São Paulo e outro prefeito de São Paulo, apresentam desempenho equivalente na disputa presidencial, quando ambos têm 8% das intenções de voto.
Nas simulações de segundo turno, desta vez, o ex-presidente venceria os adversários, somente sendo incomodado se o juiz responsável pela Operação Lava-Jato concorrer (possibilidade que ele descarta), quando haveria empate técnico, fato risível, se atentar que um vem sendo julgado pelo outro, nas condições, respectivamente de réu e julgador.
Na pesquisa anterior, o petista ficaria empatado, no segundo turno, com a ambientalista e venceria os demais concorrentes.
Não obstante, em que pese notícia bastante auspiciosa para o petista, se a sua condenação à prisão for confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal, por conta do caso referente ao tríplex em Guarujá, ele pode se tornar inelegível e, caso isso ocorra, 26% dos entrevistados disseram que votariam no candidato indicado por ele, como espécie de transferência de votos para outro petista.
Segundo a entidade responsável pela pesquisa, foram entrevistadas 2.772 pessoas, nos últimos dias 27 e 28.
Nas circunstâncias em que o país ainda se encontra mergulhado em profundas crises moral, política, econômica, administrativa, entre outras que têm sido verdadeiro estorvo para o desenvolvimento socioeconômico, com o líder das pesquisas implicado nos escândalos de corrupção, é realmente de se estranhar que as entrevistas realizadas, diga-se de passagem, entre tão somente pouco mais de duas mil e setecentas pessoais, em um universo de quase 150 milhões de brasileiros votantes, possam acenar para possível vitória, de forma esmagadora, de político com histórico nada compatível com os princípios da importância moral que exige o principal cargo da República.
É evidente que essa preferência esdrúxula e estranha dos pesquisados se dá à luz do histórico dos casos que estão sendo investigados contra o líder da pesquisa no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, com alguns processos já em fase de julgamento na Justiça, inclusive com a contabilização de uma condenação, na primeira instância, pendente de confirmação ou não na segunda instância, de prisão pela prática de crimes graves contra a administração pública.
Esses fatos precisam ser devidamente esclarecidos e justificados, como forma de prestação contas à sociedade, antes de qualquer pretensão ao exercício do relevante cargo de presidente da República, que não pode prescindir da comprovação, por parte de seu titular, da estrita observância dos princípios da idoneidade e da conduta acima de qualquer suspeita, em termos da gestão da coisa pública, em consonância com a dignidade que se impõe a grandeza da República do Brasil.
Por mais ilustre que tenha sido o passado do político, ele não tem direito de se achar imaculado e inocente, à vista da simples interpretação pessoal, quando os fatos públicos denunciados clamam, antes de tudo, por que sejam devidamente investigados, esclarecidos e finalmente, se for o caso, escoimados, na forma da lei, para que possa prevalecer a verdade que tem a justa capacidade de dizer quem é culpado e quem é inocente, porque não faz sentido, que, em pleno século XXI, se aceite que o país possa ser comandado por político cujo histórico não esteja devidamente assentado no regramento jurídico da legalidade, moralidade, dignidade, transparência, entre outros que se exigem do ocupante de tão relevante cargo da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 1º de outubro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário