quarta-feira, 16 de novembro de 2022

A consciência do povo

 

Em extenso e bastante elucidativo pronunciamento sobre a verdadeira roubalheira ocorrida no governo do candidato eleito à Presidência da República, um importante ministro do Supremo Tribunal Federal mostra, com minudência e riqueza de detalhes, o aterrorizante quadro do que o referido político foi capaz de protagonizar contra os cofres públicos, causando enormes danos ao patrimônio dos brasileiros, com a implementação do desvio de bilhões de reais para contas de partidos políticos e integrantes da quadrilha gerenciada no governo dele, conforme mostram os alarmantes fatos e números muito bem concatenados na inteligente narrativa apresentada pelo articulado e sapiente magistrado.

O aludido pronunciamento, que foi gravado em vídeo e circula nas redes sociais, tem o teor a seguir.

E aqui, presidente, me permito observar que os números da atuação da 13ª Vara Federal de Curitiba são muito impressionantes. Foram 179 ações penais, com 553 denunciados. Houve 174 condenações em primeira instância, confirmadas em segunda instância. Celebraram-se 209 acordos de colaboração e 17 acordos de leniência. Foram devolvidos aos cofres públicos 4,3 bilhões de reais que haviam sido desviados. Os valores previstos para serem recuperados com os acordos de leniência das empresas que praticaram delitos atingiram 12,7 bilhões de reais. Foi uma operação que revelou um quadro impressionante e assustador de corrupção de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Brasil. Um quadro de corrupção estruturada, sistêmica e institucionalizada. Compravam-se maiorias políticas com a corrupção. Almejam-se cargos públicos para desvio de dinheiro e financiava-se a política e o próprio bolso com dinheiro público desviado. Além de estrutural, era uma corrupção sistêmica, porque uma engrenagem alimentava a outra. Não foram falhas individuais ou pequenas fraquezas humanas. Eram esquemas profissionais de arrecadação e distribuição de dinheiros desviados. A obra superfaturada irrigava o pagamento do marqueteiro. A propina na obtenção do financiamento público irrigava o caixa 2 da campanha. Tudo lavado no offshore não declarado em sucessivas camadas de empresas de fachada disfarçadas para disfarçar a corrupção. Saque do Estado brasileiro, em última análise, saque ao povo brasileiro. Criou-se um mundo paralelo de esperteza e desonestidade que naturalizou as coisas erradas no país. Quem se dispuser a ler o livro da Malu Gaspar, a Organização, verá as fotografias aterrorizadoras de um país que se perdeu na história. Está tudo lá: o PT e os seus próceres; o PSDB e seus próceres; o PP e seus próceres; o PMDB e seus próceres; com os valores das propinas e, em muitos casos, com os nomes das contas não declaradas em paraísos fiscais. E não se fale, presidente, em criminalização da política. Levar percentuais em contratos públicos, cobrar pedágio em empréstimos públicos ou receber suborno pra dar isenção tributária a quem não merecia ser exonerado ou cobrar propina para não convocar empresas ou indivíduos para as Comissões Parlamentares de Inquérito não é convite. É crime mesmo. A partir da invasão criminosa da privacidade, passou-se a vazar, a conta-gotas, cada fragmento do produto do crime do raqueamento para que os corruptos se...”.        

Convém que se deem crédito ao discurso do mencionado ministro, porque o desastroso rastro da roubalheira discriminada por ele se funda em dados reais estatísticos colhidos da Justiça da qual ele integra, cuja fidelidade aos fatos cresce de importância na palavra de magistrado de muito respeito.      

Ninguém melhor do que a autoridade de um ministro do Supremo para dizer sobre a verdade do que realmente houve no governo do candidato eleito para presidir o Brasil, principalmente porque ele se dispôs a dissecar e desnudar o âmago sobre a verdadeira corrupção sistêmica e endêmica havida no Brasil, tendo o cuidado de mencionar contorno por contorno acerca do que realmente aconteceu de desonesto contra os interesses do país e dos brasileiros.

O ministro foi pródigo na citação de números absolutamente confirmados por meio de investigações policiais e decisões judiciais, que mostram a monstruosidade que o governo de então foi capaz de protagonizar desviando bilhões de reais de cofres públicos, na forma de precioso detalhamento sobre os fatos, ao se dizer para o mundo o resultado do funcionamento dos esquemas criminosos de corrupção denominados por mensalão e petrolão.

Ao que tudo indica, o ministro foi capaz de mencionar a roubalheira e até se indignar quando ainda ele tinha a exata consciência sobre a normal dimensão das desgraçadas roubalheiras protagonizadas no governo do político que é agora apoiado por ele, evidentemente quando não existia a degradável anestesia da vacina que imunizou não somente a sensibilidade e a sensatez inerente à moralidade e à dignidade dele, de outros ministros do Supremo e da maioria dos eleitores brasileiros, que, de forma absolutamente estranha, inexplicável e, em passe de mágica, abandonaram o que existe mais sagrado no homem, que é a dignidade representada pelos princípios e valores intrínsecos e estruturais que sedimentam o direito de respeito à honradez do ser humano.

Essa indiscutível e deprimente decadência ético-moral dominante na sociedade, em banalizar a importância dos salutares princípios republicano e democrático, a tanto desprezados diante de tão agressivas investidas aos cofres públicos, na forma dos gigantescos roubos feitos ao dinheiro do contribuinte, dando a plácida aceitação da aterrorizante desgraça acometida aos cofres públicos, como se essa prática nojenta e delituosa fosse normal serviço público, ajuda a compreender a completa insensibilidade por parte da principal autoridade envolvida em todo esse processo de degradação e esculhambação que aconteceu na administração do Brasil.

Vejam-se o inexplicável fato de que o presidente do país de então sempre se julgou inocente por toda desgraça infligida ao Brasil e aos brasileiros, tendo ainda, de quebra, o disparate mental de se passar por vítima de tudo protagonizado pelo governo dele, conquanto tudo isso resultou na cruel trapaça da maquiavélica enganação, visto que povo mais ingênuo do mundo seria incapaz de eleger quem foi protagonista e liderança do governo reconhecidamente o mais corrupto e desonesto da história da humanidade, conforme mostram, à saciedade, os fatos investigados, coligidos e inseridos nos autos pertinentes.

Isso que os eleitores fizeram nada mais é do que o emprego literal da síndrome da insensibilidade instituída por esse espertíssimo político, quando ele, a despeito das roubalheiras acontecidas no governo dele, sem que tivesse que se responsabilizar por absolutamente nada nem a obrigação de prestar contas à Justiça nem à sociedade sobre os fatos monstruosos e danosos aos cofres públicos, volta triunfante e vitorioso nos braços do seu povo que o saúdam como verdadeiro herói.

Enfim, a história só confirma que a degradação ou a elevação moral de um povo tem muito a ver com a sua cultura, em que ele se valoriza ou se torna insignificante segundo as suas próprias atitudes, conforme o resultado dessa dantesca eleição presidencial.

Há povo que parece não se achar nem se valorizar, em termos de moralidade e honradez, em eleger, sem o menor escrúpulo, mas ao embalo de entusiástica euforia, político para presidir o Brasil, que teve seu governo envolto com gigantesca roubalheira aos cofres públicos, conforme foram ricamente mostrados os circunstanciados e nefastos fatos por ilustre ministro do Supremo, cujo homem público, de quebra, ainda foi condenado à prisão, pela prática do crime de improbidade administrativa contra a administração pública, estando presentemente respondendo a vários processos penais, na Justiça.

No mundo evoluído e civilizado, político com notória índole nefasta de aderência aos esquemas criminosos da corrupção sequer pode praticar atividades públicas, porque isso se trata de verdadeiras desonra e indignidade para o próprio povo, que se permite ao ridículo da insensatez diante dos salutares princípios do bom senso e da racionalidade.

Além do que, falece justificativa plausível irracional para aceitação da banalidade da desonestidade e da corrupção na administração pública, que tem por exigência republicana a predominância dos princípios da moralidade, da dignidade e da honestidade, que foram ignoradas na repugnável gestão desse político, conforme mostram os fatos, que também nunca demonstrou mínimo sentimento de arrependimento pelo visível desvio de conduta na vida pública, a despeito de tudo de ruim que foi registrado no seu currículo, nas atividades públicas.

A volta desse político ao governo é tão horrorosa e degradante que ele, em momento algum da campanha eleitoral, chegou a tratar da corrupção sistêmica e endêmica, no seu governo, como forma de tentar esclarecer os fatos, assumir a responsabilidade pela ladroagem, onde também teria a excelente oportunidade para se comprometer a realizar governo honesto, caso fosse eleito, como foi.

Ao contrário disso, ele foi apenas humilhado e execrado nos debates mostrados na televisão, sob a acusação de ser o maior corrupto do mundo político, não tendo a dignidade nem de se defender e muito menos de comprovar a sua inculpabilidade sobre as denúncias que ainda pesam sobre os seus ombros.

Apesar de toda demonstração de potencial desonestidade acontecida no governo dele, o povo considerou superimportante que político em plena decadência moral, à luz dos fatos delituosos imputados à autoria dele, tem condições política e administrativa para presidir o país da relevância do Brasil.

A  verdade é que a consciência de cada eleitor fala por si só, tendo a real capacidade para a avaliação honesta e justa para se concluir que o seu voto correspondeu à dignidade e à honradez que fazem por merecer o Brasil e o seu povo, precisamente nas notórias e lastimáveis circunstâncias políticas.     

Brasília, em 16 de novembro de 2022

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