Diante da
crônica intitulada “O povo merece”, uma distinta senhora houve por bem se
manifestar em contraposição ao meu texto, tendo escrito o seguinte: “Desta
feita o povo ouviu sua própria consciência, não se deixou ser levado pela voz
da elite nem pelos políticos opressores, foi lá na urna e deixou acontecer a
democracia, se erramos ou acertamos o tempo dirá, só de uma coisa nos consola;
pior do está não pode ficar, orgulho o meu de ser nordestina e ter contribuído
com a derrota do desgoverno.”.
Não se discute a consciência soberana do povo, que nunca foi
levado pela voz da elite, mas sim, muitas das vezes, pela vontade política.
Não se pode se vangloriar da democracia, que é a vontade popular,
para se votar em quem não preenche os mínimos requisitos de moralidade, sob o
manto da conduta ilibada, imaculabilidade e idoneidade, na vida pública, que
são exigências da própria democracia, que nunca vai respaldar promiscuidade
para se eleger ficha suja somente sob a alegação sobre a existência de
desgoverno, porque seria o mesmo que se recorrer de artifício para justificar
gravíssimo erro.
Há pessoas que somente preferem analisar e justificar os fins para
se atingir os meios, não importando de que maneira isso seja possível, como
parece ser a onda avassaladora de quem elegeu autêntico desonesto para presidir
o Brasil, em cujo governo anterior houve a comprovação do desviou de recursos
públicos.
Os atos delituosos foram confirmados e comprovados por meios de investigações
policiais e julgamentos judiciais, não deixando dúvidas sobre a índole
criminosa no governo dele e disso ninguém pode desconhecer e muito menos negar.
Em que pesem as condenações judiciais terem sido anuladas, não por
força do exame do mérito das ações penais pertinentes, que continuam com plena
validade, o que significa dizer que os atos delituosos continuam sobre os ombros
dele, que precisa provar a inculpabilidade sobre esses atos, junto à Justiça,
para a obtenção do nada consta, na forma da lei e da democracia.
Como se pode ver, a questão de fundo não é se dizer simplesmente
que houve a confirmação da consciência democrática, o que é verdade, mas a
operacionalização em si não condiz precisamente com o desiderato ínsito dos
princípios democráticos, que exigem lisura.
Ou seja, é preciso que haja legitimidade em tudo, inclusive, em
especial, no que se refere ao próprio candidato, que não pode ser ficha suja,
mesmo que não tenha condenação judicial, não importa ao caso, porque é preciso
se aquilatar se existe algo errado contra ele, na forma de processos penais
correndo na Justiça, porque, no caso, tem sim e isso demonstra clássica maculabiliade
incompatível, em termos de moralidade, com os princípios republicano e
democrático, no que se refere à prática de atividades políticas e ao exercício
de cargo público.
Na verdade, sob o prisma da autêntica democracia, que somente
existe esta, ninguém sob suspeita ou implicação na Justiça, em respeito à
honradez do eleitor, pode disputar eleição antes de ter seu nome limpo e
imaculado perante a Justiça eleitoral.
Por fim, diante das minhas diminutas consciências cívica e cidadã,
não consigo vislumbrar ter orgulho de ser nordestino, como de fato tenho, ou
brasileiro depois de ter votado em quem não consegue provar a sua inocência com
relação a fatos inquinados de irregulares, cuja autoria lhe é atribuída, porque
isso é o mínimo que se espera de todo verdadeiro homem público, em respeito
tanto à dignidade do Brasil como à honradez dos eleitores.
No meu caso específico, digo que me sinto muito honrado e
orgulhoso de não ter apoiado político que não se envergonha de se candidatar
sendo ficha suja, na qualidade de ex-presidiário, exatamente por ter casos de graves
suspeitas de irregularidades, na Justiça, quanto ao beneficiamento, por parte
dele, de dinheiro sujo vindo dos contribuintes.
Brasília, em 3 de novembro de 2022
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