sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Estranha reverência

 

O candidato eleito à Presidência da República fez visita ao Supremo Tribunal Federal, nesta semana, sendo recepcionado pelos ministros daquela corte com sentimento festivo.

A felicidade estampada no semblante dos ministros da corte suprema da Justiça brasileira condiz com o tamanho da alegria da recepção de político que responde a vários processos na Justiça, por suspeita da prática de crimes de improbidade administrativa, que inclusive já foi até condenado à prisão, pela constatação dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em que pese a prática de irregularidade e a falta de contestação plausível, na forma jurídica, sobre os atos danosos ao patrimônio público, ele foi liberado da pena por essa mesma corte de juízes felizes com a presença do afilhado protegido, liberado para disputar a eleição presidencial.

É evidente que, sobre esse fato extremamente inusitado, de ex-presidiário visitar a corte suprema da Justiça, não cabe nenhuma crítica quanto a esse contato visivelmente amistoso, apenas se ponderar que, em país com o mínimo de seriedade e respeito aos princípios jurídicos e de civilidade, à vista da grandeza do respeito ao Poder Judiciário, isso seria absolutamente impossível, o que vale dizer que o encontro jamais aconteceria em clima de intensa congratulação, em clara demonstração de regozijo, como de fato aconteceu.

Isso é prova inconteste de que o sistema judiciário brasileiro não resiste ao sentimento de imparcialidade e integralidade, em termos de autonomia e independência, quando seus ministros se curvam em reverência a político que é símbolo de desonestidade no seu governo e que ainda tem obrigação de prestar contas sobre seus atos à Justiça e à sociedade, uma vez que o chamado verdadeiro homem público tem o dever de estampar na testa o sinete da Justiça de nada consta, qual seja, o certificado de ficha limpa, muito diferentemente do que acontece com relação ao candidato eleito.

Sem dúvida alguma, o próprio Poder Judiciário brasileiro se cuida de evidenciar a sua inconsistência, em termos da dignidade que se exige dele, diante de gestos de magnanimidade perante político indigno de sequer entrar e ser recepcionado na suprema corte do país, com sublime cortesia somente deferida aos homens honrados e imaculados, na vida pública, o que não é caso dele, que responde a vários processos penais na Justiça e precisa provar a sua inculpabilidade quanto às denúncias inerentes à prática de atos de corrupção com dinheiros públicos.

Enfim, salve o povo brasileiro, que tem o livre-arbítrio para  escolher livremente os seus governantes, não importando os seus atributos divergentes ao regramento da normalidade democrática, no sentido de que se impõe para todos os homens públicos a rigorosa exigência sobre a observância aos princípios da moralidade, da honestidade, da dignidade, entre outros, na prática de atividades políticas e no exercício de cargos públicos.

Infelizmente, o encontro dos ministros do Supremo Tribunal Federal com o candidato eleito tem o condão de mostrar o quanto de puído e desgastado, por querência própria, se encontra a excelsa corte brasileira, perante a opinião pública, ao se expor em reverência ao representante da indignidade e da desonestidade na vida pública, à vista dos fatos revelados ao mundo, à saciedade.  

Brasília, em 11 de novembro de 2022

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